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11 de agosto, de 2023 | 14:00

Opinião: ''Quanta eternidade'': o legado dos aprendizados – na escola e além

Ana Rosa Vidigal *

“Quanta eternidade!”. Foi o que me ouvi dizer para a caçula que chegava de um estágio no exterior pelo programa de graduação do qual ela faz parte. Mas engana-se o leitor se imaginou que essa expressão, naquele momento, fosse um desabafo que comumente ouvimos quando algo tarda a acontecer. E pudesse, assim, manifestar a saudade que eu sentia dela: que eternidade! Que espera sem fim..

Não. A ideia é outra, e me explico.

“Quanta eternidade!” saiu assim, ao fim de uma tentativa frustrada de enumerar e categorizar tantas situações de aprendizado vividas por ela nos últimos meses em que esteve nesse estágio: morando em um país não conhecido (até então) na Europa Central; dividindo quarto e sala com outras estudantes estrangeiras; participando de atividades diversas na própria universidade e, muito além disso, tentando ‘sobre-viver’ em diferentes situações do cotidiano – o que incluía aprender uma nova língua, habituar-se a novos costumes, novas rotinas.. enfim, inserir-se em uma nova cultura e buscar compreender outras tantas, nessa ‘eterna’ (por que não?) adequação a cada dia.

Da viagem partilhada ao litoral paulista em janeiro último, como uma breve despedida e anúncio da partida, à chegada dela neste início de agosto, quantas experiências em um período tão curto de tempo. Curto, quando pensamos em grandes transformações que nos ocorrem vida afora – os anos, décadas e os ciclos. No entanto, ela lá e eu aqui – vivendo em diferentes contextos, com diferentes idades, diferentes histórias, trajetórias e intencionalidades – estivemos imersas em semelhantes ‘eternidades’ de aprendizados.

Então, me veio a questão: o que nos move, afinal, para empreender a vida em qualquer época da vida? Por qual razão nos lançamos, à base de novas experiências que nos ensinam, e nos permitimos assumir riscos e aceitar desafios, para ‘criar valor’ para si, para os outros, para todos ao redor?

Qual a força motriz que alimenta a valentia de partir para o desconhecido, para o novo, para ‘mares nunca antes navegados’, não importa em qual país, cidade ou avenida?

“Qual a força motriz que alimenta a valentia de partir para o
desconhecido, para o novo, para mares nunca antes navegados?”


Ainda que haja navios atracados há tempos, embarcações quase ‘fantasmas’, há também muito oceano em volta, e muita promessa de ‘terra à vista’ nesta vida.

Do que, então, é feita a partida? Remo, timão, leme, vela, barco. Ou avião, ônibus, trem, carro. Ou passos.

Passos que podemos dar ao encontro do distante. E voltar ainda mais próximos para o ‘cais’, com a mala cheia, sem se importar em controlar o peso da carga, o limite da bagagem – cultural social, ambiental, emocional, moral, intelectual – que volta com a gente desse percurso.

Embora seja sempre breve a segurança do porto para os desbravadores, que não temem os ventos das tempestades e possíveis monstros marinhos no caminho, chegamos.

Dessas odisseias, quanto aprendizado ‘condensado’, quanto saber circulado, é possível carregar? Se a carga é o conhecimento, quanta eternidade cabe em tão pouco espaço de tempo?

(Eternidade: tempo que empreendemos, seja aqui, neste ‘mapeado’ cotidiano, ou mesmo distante, como do outro lado do oceano. Vida).

* Professora, educadora, comunicóloga e psicopedagoga. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC Minas e Université Grenoble III, França. Trabalha com a formação de professores, gestores e líderes em diversas organizações, ministrando palestras e cursos nos domínios da Educação e da Comunicação, e suas interfaces nas relações humanas. [email protected]

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Comentários

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Alexandre Washington

17 de agosto, 2023 | 18:44

“Ana Rosa nos premia com um texto unindo profundidade e sensibilidade. Quem a conhece sabe não só da sua perfeição técnica, como também da multiplicidade e riqueza de suas ponderações. "O que nos move, afinal, para empreender a vida em qualquer época da vida?" Minha resposta: a eternidade, mas ainda num terceiro sentido - o de que existe vida além da vida (fica a reflexão). Muito obrigado, Ana, pela inspiradora resenha.”

Maria Elvira

15 de agosto, 2023 | 21:57

“Sensacional! Ana Rosa sempre nos trazendo um texto inspirador!”

Alyssia Rosa

14 de agosto, 2023 | 12:53

“Como sempre seus textos transparecem uma humanidade e sensibilidade poéticas, Ana.”

Sofia

14 de agosto, 2023 | 11:25

“Texto lindíssimo e bem escrito! Adorei as reflexões.”

Pádua

13 de agosto, 2023 | 19:50

“Parabéns, Ana, pela excelente narrativa!
Mais uma vez, apresentando reflexões que nos fazem viajar e devagar nesse contexto aprendizado.
Que venham os próximos artigos.
Sucesso!!!”

Erica Oliveira

13 de agosto, 2023 | 07:35

“Ana!
Que lindo!!
Adorei, parabéns!!
Descreveu com leveza os desafios enfrentados por sua caçula e por nós, quando alçamos voos maiores!
Certamente ela e vc cresceram e aprenderam muito, numa eternidade que durou 6 meses ??
Muito obrigada pelo lindo texto.”

Simone Gomes

13 de agosto, 2023 | 06:31

“Bela reflexão sobre a pulsão de vida e o encontro com o outro. Afinal, é nesse encontro que conhecemos a nós mesmos. Imagino que sua filha tenha voltado mais dona de si e de seu destino, pronta para viver outras eternidades! Parabéns pelo texto!”

Tião Aranha

12 de agosto, 2023 | 20:00

“Quem está ensinando também está aprendendo. Se minha estrela nasceu aqui, é aqui que ela haverá de brilhar. Antes de ser professor, tem que ser educador. E todo educador é um eterno sonhador. A eternidade tem pouco espaço no tempo. É uma pena que ninguém está completamente preparado para a velhice. Risos.”

Rogério Magalhães

12 de agosto, 2023 | 18:44

“Lindo texto professora Ana Rosa!
Sinto-me honrado por ter sido seu aluno, quanto aprendizado na faculdade que levaremos para toda vida.
Abraço e sucesso sempre!”

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