04 de setembro, de 2023 | 14:24

Opinião: De agosto, Ger e Cumadre Fulozinha...

Nena de Castro *


Pensando aqui, antigamente o povo morria de medo do mês de agosto, cognominado mês do azar, era um tal de se persignar, rezar, tomar banho de sal grosso, pendurar umas réstias de alho na porta... Volta e meia a gente ficava sabendo de coisas ruins que aconteciam no pobre do mês de agosto e lá vinha falatório, embora nos outros meses também ocorressem acontecimentos sangrentos, desastres...

No entanto, mas malafamado mesmo é o oitavo mês do ano, é sempre o culpado, é o eterno cachorro da piada (saaai Totó!) lembra? Agosto, mês do desgosto, diziam. Hoje a gente não tem tanto pavor, ara, que besteirada é essa, em plena era do império da tecnologia? Pois esse agosto/23 passou tão depressa que nem deu tempo de ver o lobisomem ou a mula-sem-cabeça!

Bão, pensando bem, a gente viu umas mulas, sim, mas todas têm cabeça embora não exercitem seu raciocínio... Essas cavalgaduras assombram o nosso dia a dia, em tons cinza e dourado, e vocês sabem causa de quê! Posé, lobisomem é um trem meio doido, os caras, de dia são gente, mas nas noites de lua cheia, viram lobo e caem no capinado caçando pessoas pra devorar.

Se bem que eu soube que nossos lobisomens não comem ninguém, assustam as pessoas, uivam pelas estradas, mas depois se juntam com outros e começam a beber pinga até virar gente de novo.

Essa é a causa das suas mulheres ficarem sempre desconfiadas de que tem mulé-dama na parada e ficam cheirando o cangote do marido-bicho para ver se tem perfume, examinam suas camisas e cuecas, numa desconfiança sem fim. Como o cara correu a noite toda e ficou na maior esbórnia, dorme o dia todim e com isso quem tem que se virar é a cara-metade, que cuida da casa, dos filhos e ainda faz doce pra fora, ou costura. E ela espera o dia em que vai virar onça, rosnar e chutar o traseiro desse folgado que vive às suas custas.

Já, a mula sem cabeça, coitada, era uma moça que namorou um padre e foi amaldiçoada, eita disgrama, causa de quê só ela levou ferro nessa história? Ontem, eu querendo saber umas coisinhas, mandei minha insuportável sabiá GER, aquela que canta e fala oito línguas e conhece o mundo inteiro e é um pé no saco com suas observações ferinas sobre tudo e todos, buscar a Cumadre Fulozinha.

A sabiá chata perguntou se podia trazer o Saci, a Mãe D’água, Boitatá, Curupira, a Velha Murucututu mas depois de me ver pegar o arco e flecha da tia Bugra Velha, bateu as asas e foi fazer o mandado. Ah, vc não sabe quem é ela, nunca ouviu falar? Pois Comadre Fulozinha faz parte do folclore brasileiro e é descrita como uma fada pequena, de cabelos compridos enfeitados por flores coloridas e que junto com outras fadas, protege a fauna e a flora brasileira.

A lenda dessa personagem é muito popular na região Nordeste, principalmente na mata, ou o que restou dela. Bem, Gertrud chegou à tardinha, pousou no meu pé de limão, e com ela, comadre Fulozinha, a fadinha que eu tanto esperava. No entanto, a criatura começou a fazer mesuras e piruetas no ar, provocando um redemoinho, rindo às gargalhadas, dando rasante no Kim, que latiu e avançou, enquanto tia Lady Zefa tentava proteger seus livros e a Bugra Velha praguejava em tupi-guarani e a fadinha cantava “mandacaru, quando fulora na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão” e tentando tirar minha tia índia pra dançar, mudou para “vem cá cintura fina, cintura de pilão”.

Perguntei pra GER o que era aquilo e ela respondeu: chá de santo daime e riu às gargalhadas. Bom o que aconteceu depois, fica para próxima crônica, senão vou ser despedida por tanta bobice! E nada mais digo! Au revoir.

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Tião Aranha

04 de setembro, 2023 | 21:20

“Banho de sal grosso é pouco com tantos lobisomens por aí. Mas a culpa é do pecado da avareza. Ainda resta uma saída: investir alto nos institutos de pesquisas, Povão gosta mesmo é de ser enganado. O caminho certo é esse: só falar do positivo, e nunca do negativo. Pelo pensamento se conquista o sentimento. Risos.”

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