04 de outubro, de 2023 | 12:00

Opinião: 7 de outubro e o troféu chico ferramenta

Antonio Nahas Junior *

Foi com muito orgulho que recebi o convite da ATAMIG - Associação dos Trabalhadores e Aposentados Anistiados de Minas Gerais - para participar das atividades relacionadas à passagem do 7 de Outubro, data que relembra o massacre de Ipatinga ocorrido há 60 anos.

As comemorações se estenderão por três dias - 6, 7 e 8 de outubro -, sendo abertas na sexta-feira, feira às 14h, no plenário da Câmara de Ipatinga, com audiência da Comissão de Trabalho da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, seguida pela cerimônia de entrega do “Troféu Chico Ferramenta de Direitos Humanos” a vários homenageados. Entre os convidados, são aguardados Nilmário Miranda, que hoje é assessor especial do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, e Carlos Calazans, superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, além de deputados estaduais e dirigentes sindicais.

“As partes se respeitaram, procurando
um só objetivo: o desenvolvimento da cidade”

No dia 7, haverá exposições, filmes muito interessantes e uma roda de conversa na Câmara Municipal, além de apresentações culturais no Teatro de Arena do Parque Ipanema, à noite. No domingo, celebração interreligiosa ao pé do “Memorial da Anistia”, em homenagem às vítimas do massacre, na Praça da Bíblia, no centro de Ipatinga.

A ideia de criação do Troféu Chico Ferramenta de Direitos Humanos, homenageando o nosso saudoso amigo e associando a sua trajetória ao massacre, foi muito feliz, e há uma linha de continuidade histórica entre os dois fatos. O massacre ocorreu antes de a Usiminas começar a produzir. Foi um conflito sangrento e covarde entre trabalhadores recém-chegados a Ipatinga para trabalhar na construção da usina e a Polícia Militar, armada até os dentes. Os fatos foram dissecados e narrados por jornalistas e historiadores maravilhosos, como Marcelo Freitas e Marilene Tuler.

Já com Chico Ferramenta, teremos dois momentos distintos: o primeiro deles, a constituição da Chapa 1 Ferramenta, em 1985, para disputar as eleições sindicais no Sindipa; a derrota questionada da chapa e a demissão e perseguição sumária movidas pela Usiminas a seus integrantes.

No momento seguinte, a história prepararia uma oportunidade de diálogo e convivência para as duas partes que se opuseram e se enfrentaram. Chico foi eleito prefeito de Ipatinga, em 1988, e nos anos seguintes, por diversas vezes, sentaram-se à mesma mesa de negociação o prefeito Chico Ferramenta e o então presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares.

“São as voltas e as lições que a História
nos ensina: procurar soluções; eliminar
conflitos; somar forças”

Quem esperava destempero, insultos, provocações, xingamentos, se enganou. As reuniões foram produtivas, as discussões fluíram perfeitamente. As partes se respeitaram, procurando um só objetivo: o desenvolvimento da cidade.

A Usiminas percebeu a importância da qualidade da administração pública para o bem-estar dos seus trabalhadores e para a produtividade do trabalho. A Prefeitura fora administrada por anos a fio de forma displicente, o que deixou a cidade suja, com ruas esburacadas, obras paradas, escolas e postos de saúde abandonados.

Com Chico à frente, tudo voltaria a funcionar. As relações entre as duas partes sobreviveu até mesmo a discussões delicadas, como a privatização da Usiminas, que ocorreu no inicio da década de 1990. Chico e sua equipe eram contrários, ao passo que Rinaldo e equipe apoiavam.

Mesmo com posições divergentes, abriu-se o diálogo entre as duas propostas. O estudo encomendado ao Cedeplar - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG - foi repassado à direção da Usiminas antes da sua divulgação.

Estabeleceu-se entre as partes um clima de confiança e admiração mútua. Havia divergências, sim, mas predominava o clima de respeito. São as voltas e as lições que a História nos ensina: procurar soluções; eliminar conflitos; somar forças; definir pontos comuns.

Nossa sociedade é complexa. Há muitos atores, interesses distintos e, por vezes, conflituosos. O mais importante é que consigamos construir laços entre as associações, os sindicatos, as empresas, os comerciantes, os agentes culturais, criando caminhos e soluções para a construção de uma sociedade justa e igualitária, onde todos desfrutem dos mesmos direitos e oportunidades.
Parabéns aos organizadores do evento.

* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente, é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço