02 de novembro, de 2023 | 12:30

Opinião: O que tenho é conhecimento, bens materiais não me pertencem

Gregório José *

Tudo no mundo é movido pela cobiça e inveja. Se eu tenho algo que você não possui, sente, por dentro uma vontade de me diminuir para sentir-se melhor. Isto pode ser minha esposa, meu cargo, meu emprego ou, simplesmente, meu pensamento, jeito de agir e viver. Mas, se você possui algo e eu admiro e não cobiço, desejando o melhor para você e suas conquistas, sou tachado de pequeno e insignificante.

Muitas vezes, admirar as pessoas e suas conquistas desejando o melhor para elas é viver em paz consigo, outras vezes, cobiçar é criar barreiras inúteis, pequenas e mesquinhas. Portanto, vença na vida, estude, construa sua carreira e sua sina. Ela depende única e exclusivamente de você. A mim cabe buscar meu desenvolvimento pessoal e minhas conquistas. Nascemos sós e morreremos sem levar nada do que construímos, a não ser nosso aprendizado mental. Tudo que aprendemos e acumulamos de sabedoria levamos conosco, aquilo que ajuntamos e damos valor (material) fica por aqui, para outros desfrutarem. Simples assim, nada mais do que isso!

O mundo é movido pela cobiça e inveja, um reflexo de uma visão pessimista e cínica da natureza humana. Embora seja verdade que o desejo por aquilo que os outros têm é uma característica comum da condição humana, não podemos reduzir toda a nossa existência a esse aspecto negativo.

O filósofo Thomas Hobbes argumentou que a natureza humana é intrinsecamente egoísta e que a busca pela autopreservação e pelo poder é a força motriz por trás de nossas ações. No entanto, filósofos como Jean-Jacques Rousseau desafiaram essa visão, sugerindo que a sociedade e a cultura desempenham um papel fundamental na formação do comportamento humano. Rousseau acreditava que a cobiça e a inveja eram sentimentos que surgiam da desigualdade social e da competição desenfreada, e que, em um estado de natureza mais primitivo, os seres humanos eram mais propensos à compaixão e à solidariedade.

Além disso, a ideia de que admirar as conquistas dos outros é vista como insignificante ou fraca é uma visão estreita da moralidade. Immanuel Kant argumentou que a moralidade está intrinsecamente ligada à capacidade de agir de acordo com o dever, independentemente dos desejos pessoais.

“Nascemos sós e morreremos sem levar nada
do que construímos, a não ser nosso aprendizado mental”

No que diz respeito ao individualismo e à busca pelo sucesso, pensadores como Ayn Rand sustentaram a ideia de que a busca de objetivos pessoais e o egoísmo racional são fundamentais para a realização humana. No entanto, essa visão contrasta com o pensamento de filósofos como Karl Marx, que argumentavam que a verdadeira realização só pode ser alcançada através da cooperação e da solidariedade, em vez da competição desenfreada.

Admirar as realizações dos outros e desejar o melhor para eles pode ser visto como um ato moralmente nobre, baseado na empatia e na compreensão do valor da dignidade humana. A realidade é muito mais complexa e diversificada, com uma ampla gama de motivações e valores que moldam nossas ações e relacionamentos.

Cobiçar pode criar barreiras inúteis, mas também podemos escolher admirar e desejar o melhor para os outros como parte de uma ética de respeito mútuo e cooperação. A vida é multifacetada, e nossa busca por significado e sucesso pode ser enriquecida ao considerar uma variedade de perspectivas filosóficas sobre o assunto.

* Jornalista/Radialista/Filósofo

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço