06 de novembro, de 2023 | 14:05

Opinião: De pássaros, união e coisas que valem a pena...

Nena de Castro *

Chovia muito. Um coleirinho recém-nascido cai do ninho. O papai e mamãe tinham ido procurar comida. Ninho vazio. Susto. Mamãe Coleirinha, aflita, sente medo de que o filhote morra. O Sabiá-laranjeira, que era sábio, observa que os pais não deviam ter feito o ninho naquela árvore tão pequena, quase um arbusto. Papai Coleirinho respondeu que os pássaros mais velhos ocupavam os melhores pontos. – “Há poucas árvores nesse mundo sabia, sabiá?” Nisso ouvem um barulho de gente pisando nas poças d’água. A pessoa se abaixa e pega o filhote. Mamãe Coleirinho desmaia. O Pai pia, aflito. No entanto, a pessoa, coloca com delicadeza o bebê Coleirinho no ninho. Ufa! A Saíra-dourada dá bronca: qualquer morador da casa dessa fazenda consegue ver o ninho da janela! E em se tratando de gente, é uma em mil que não mata ou aprisiona os pássaros, ora!

Os pássaros começam a discutir sobre sua insegurança: logo após o lago, estava a mata. E quando os pássaros grandes faziam parada, vez em quando atacavam os ninhos das aves menores. Dessa forma, os Sebinhos, Canários- da – terra, Bem-te-vis, Sanhaços, Fogo-apagou, Trinca-ferro, Suiriri e outras avezitas estavam sempre em perigo! De certa feita, um casal de gaviões apareceu e o bem-te-vi, cansado de se esconder e ter medo, resolveu enfrentar os grandões de frente, bico a bico. Formaram um esquadrão de defesa, Bem-te vis na frente, Canarinhos logo atrás, Sabiás, Andorinhas, Beija-flores e atacaram os intrusos, que fugiram... Os pequenos pássaros resolveram então, fazer uma assembleia geral para decidir sobre sua segurança. Na reunião, decidiram convocar todos os pássaros da floresta para fazer uma cantata para os donos da fazenda a fim de convencê-los a plantar mais árvores.

Achavam que os humanos, mesmo sendo meio burrinhos, entenderiam a mensagem. Nisso, o Pitiguari cantou, alertando sobre uma invasão: muitos pássaros chegavam! Eram os Sem-Árvores, que tendo perdido suas moradas por causa de uma trágica derrubada, queriam se abrigar ali. Discutiram feio, quase saindo no braço, digo, nas asas, até que o João-Bobo, que era bem esperto, sugeriu que se unissem, pois seriam mais fortes juntos. nimos acalmados, voaram para a mata profunda afim de convocar o Trinca- ferro, que tendo perdido sua família, queria viver só. O sabiá ponderou que ele sozinho, não se salvaria, devia se juntar ao grupo.

Foram atrás do Tangará, do Flautim, do Patinho e resolveram aceitar também um casal de Jacus, Periquitos e Maritacas que fariam a percussão, as Andorinhas dançariam... Acordadas, as pessoas da fazenda ouviam e observavam o espetáculo: beija-flores roxos e violetas bailavam e pairavam no ar, o Tangará fez um voo dançante e cantou em dueto com o Trinca-ferro. Até o Flautim, tímido, cantou um pouco. Foi um espetáculo deslumbrante e aí os humanos falaram em transformar o pasto em reserva florestal, que era o que os passaritos queriam! E assim foi feito e a Fazenda Brejo Novo, virou uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) onde ninguém pode derrubar nada!

Essa história eu li no livro “A PERIGOSA VIDA DOS PASSARINHOS PEQUENOS” da jornalista Míriam Leitão, que ganhou o meu respeito pela sensibilidade e pela empreitada. Isso num domingo cheio de sol quando o Instituto Olga Mendes visitou o maravilhoso projeto Xerimbabo no USIPA, assistiu ao grupo teatral Boca de Cena numa peça ensinando o valor da preservação e a Bugra teve um frisson vendo, entre tantas belezas, um casal de araras-azuis que me fez ver que ainda há esperanças, apesar de... (E nada mais digo!)

* Escritora e encantadora de histórias

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço