19 de dezembro, de 2023 | 12:00
Opinião: O aço tem que ser o nosso
Celinho do Sintrocel *
Em 1856, o Engenheiro Metalúrgico inglês Henry Bessemer criou o primeiro equipamento que removendo as impurezas do ferro, produziu pela primeira vez o aço: liga metálica com maior resistência ao desgaste, ao impacto e à corrosão que o ferro e com grande maleabilidade, durabilidade e condutividade térmica.Hoje, o aço é umas das ligas metálicas mais usadas no mundo e representa 90% de todos os metais consumidos na indústria. Ele está presente no cotidiano das pessoas, em diversas áreas e produtos, como nas construções, nas máquinas, no transporte (rodoferroviário, naval e aéreo), além de ferramentas, eletrodomésticos e utensílios.
Toda infraestrutura responsável pelo desenvolvimento econômico-social brasileiro está diretamente associada à indústria do aço, que produz matéria-prima para hidrelétricas, torres de transmissão, ferrovias, edifícios, pontes, viadutos etc. Por isso, reconhecida como um setor estratégico, a siderurgia sempre mereceu atenção especial por parte do Estado brasileiro.
Em 1941, o então presidente, Getúlio Vargas, contrariando interesses estrangeiros, assinou o decreto para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Em 1973, foi criada a Siderbrás, responsável por controlar e coordenar a produção de aço no Brasil. O País era 17° produtor mundial e 50% da produção vinha de três usinas estatais (CSN, Usiminas e Cosipa). Oito anos depois, a produção era de 13,22 milhões de toneladas. Em 1990, subiu para 20,56 milhões. Durante o governo Collor, a Siderbrás foi extinta. Entre 1988 e 1993 nove das maiores siderúrgicas estatais foram privatizadas.
De lá para cá, com altos e baixos, a produção interna foi se estabilizando. Em razão da Pandemia do coronavírus e das políticas equivocadas do último período, o Brasil apresentou queda no segmento industrial. Contudo, já começa a dar sinais de recuperação. Hoje, é o 9º maior produtor de aço do mundo, exporta para dezenas de países e tem na China, líder no mercado mundial, o seu maior concorrente. O setor tem faturamento líquido de R$ 209,1 bilhões, R4 paga 35,2 de impostos e emprega 127 mil trabalhadores diretos e indiretos.
Se para importadores e compradores, preços mais baixos
parecem promissores, a médio e longo prazos os efeitos
são devastadores para a soberania nacional”
O Instituto Brasil Aço estima a produção brasileira em 31,4 milhões de toneladas no ano de 2023 uma queda de 8% em relação a 2022 e uma redução nas vendas internas para 19,2 milhões de toneladas (-5,6%). Minas Gerais responde por cerca de 29,5% da produção total do País e o setor vem investindo R$ 12 bilhões/ano em modernização e desenvolvimento tecnológico. Já as importações chegarão à casa de 5 milhões de toneladas.
Contudo, a indústria do aço vive uma crise que tem sua origem na concorrência predatória. Atualmente, o aço produzido no exterior chega ao Brasil a um preço, em média, 10% inferior do que o nacional, segundo a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Não há quem resista a preços artificialmente baixos e à concorrência desleal praticada pela China.
Duas das maiores empresas do Brasil anunciaram desinvestimentos no Vale do Aço. A Aperam adiou a instalação de um novo laminador a frio, que geraria 1,5 mil vagas temporárias. Depois de um orçamento de R$ 3,2 bilhões para 2023 e de investir R$ 2,7 bilhões no alto-forno 3, a Usiminas vai abafar o alto-forno 1 o que acarretará demissões e desaquecimento da economia local. É preciso destacar que outros setores industriais são diretamente atingidos, a exemplo da silvicultura sendo que Minas Gerais tem a maior área de floresta plantada do País.
Se para importadores e compradores, preços mais baixos parecem promissores, a médio e longo prazos os efeitos são devastadores para a soberania nacional, a indústria local, tanto siderúrgica como de outras áreas, e para os próprios compradores que ficarão reféns da produção e de regras estrangeiras.
Para mitigar o problema imediato e tornar o metal brasileiro mais competitivo no mercado interno, o Governo Federal antecipou o fim da redução de 10% no imposto de importação do aço. Determinada pelo governo anterior, a medida, que favorecia produtores forasteiros, valeria até 31 de dezembro, entretanto o governo atual acabou com o desconto em 30 de setembro.
Entre as medidas emergenciais, o setor reivindica a elevação da alíquota de importação de 9,6 para 25% (a exemplo do México, EUA e UE). Por seu turno, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) avisa que prepara uma intervenção mais robusta, a partir de uma política industrial que vise a fortalecer, restaurar e proteger as empresas sediadas no terreno nacional e toda cadeia produtiva a jusante.
Minas Gerais e o Brasil não podem assistir inertes ao desmanche de um setor essencial e produtor de riquezas. Do nosso Vale parte uma voz unida em defesa da produção de Aço que combine crescimento econômico, geração de empregos e conservação ambiental.
* Deputado estadual
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Gildázio Garcia Vitor
19 de dezembro, 2023 | 12:38O que a China vem praticando no comércio internacional, á faz tempos, não só com o aço e nem só com o Brasil, é dumping. O problema, é que não dá para simplesmente retaliar o país- mesmo se tivéssemos autorização da OMC-, sem negociar diplomaticamente. Afinal, é um nosso grande parceiro comercial, principalmente de commodities, beneficiando os setores do Agronegócio e da Mineração.
Temos que aprender a conviver com a Globalização e o capitalismo neoliberal, até parece um pleonasmo, que defendem o livre-mercado.”
Javé do Outro Lado do Mundo
19 de dezembro, 2023 | 07:50Bom texto, tudo está ligado, o mesmo vale para a produção e comercialização dos carros elétricos. O presidente esteve na China e ninguém sabe que tipos de contratos comerciais ele assinou. A corda sempre estoura mesmo é pro lado mais fraco. O que falta neste país é planejamento por parte dos políticos e ter uma visão mais futurista. O ser humano é muito imediatista. Rs.”