20 de dezembro, de 2023 | 12:30

Opinião: PIB dos municípios: Informação ou confusão?

Antônio Nahas Jr. *

A Fundação João Pinheiro divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios mineiros com informações interessantes sobre o nosso estado. Segundo a nota técnica daquele órgão, dez dos municípios com maior PIB per capita são mineradores. Entre eles, destaca-se Catas Altas, vizinho a Barão de Cocais e relativamente próximo ao Vale do Aço com população de 5473 mil habitantes. E PIB per capita de incríveis R$ 920.933,97. É isso mesmo que você leu: novecentos e vinte mil, quatrocentos e trinta e três reais e noventa e sete centavos por habitante/ano, o que dá uma média de R$ 76.736,16 mensais. Tenho certeza de que muita gente deve estar de malas prontas para lá.

Mas o PIB mostra a riqueza gerada no município, é verdade. Parece complicado, mas é simples: o PIB informa o valor novo gerado ao longo de um ano, retirando-se tudo que se gastou na compra de insumos - matérias primas; energia; transporte. Num exemplo simples: se um comerciante compra uma mercadoria por R$ 100 e a revende por R$ 120, o valor novo seria 20. Com esse excedente econômico saído de transações como essa serão pagos impostos; aluguéis; juros; salários; impostos e os lucros apurados serão distribuídos. Este é o PIB.

“O peso da mineração da nossa economia saltou
de 4,9% em 2020 para espetaculares 11,1% em 2021”


Assim, por exemplo, em Catas Altas, município minerador, o PIB seria basicamente os juros; salários impostos e o lucro da grande mineradora que lá fica.

Este valor, como vimos, é enorme. Mas fica a pergunta: quanto desta riqueza gerada em Catas Altas fica realmente lá?

Podemos supor com razoável certeza de que os juros pagos a agentes financeiros e os lucros auferidos serão destinados a outras praças, nacionais ou internacionais. As contribuições sobre os salários (INSS; FGTS) vão para Brasília. E boa parte dos impostos (PIS; COFINS; Imposto de Renda) também batem asas para outras esferas governamentais.

De bom mesmo para a região ficam parte dos salários; serviços locais contratados e aluguéis. Quanto disso deve ficar por lá? A experiência mostra dez a quinze por cento, sobretudo pelas características da atividade de mineração, que compra serviços de diversos locais e revende suas mercadorias para outras praças.

De toda forma, a extração mineral é um fator importantíssimo na atividade econômica do nosso Estado: os dados do estudo da Fundação revelam que o peso da mineração da nossa economia saltou de 4,9% em 2020 para espetaculares 11,1% em 2021, devido à retomada da produção após as tragédias ocorridas no Estado e à evolução positiva dos preços do minério.

Dos municípios com maior ganho percentual na participação do PIB do Estado, todos eram mineradores. E então torna-se este é o desafio dos municípios mineradores: Transformar a dádiva da natureza, que são as reservas minerais, em riqueza e desenvolvimento para as gerações presentes e futuras.

“Ipatinga foi a única cidade não mineradora cuja
participação no PIB subiu significativamente
entre os anos 2020/2021”


E Minas Gerais tem tudo para conseguir isto. O PIB do nosso Estado alcançou 924,7 bilhões em 2020, com uma base muito diversificada, envolvendo tanto serviços quanto indústria de transformação; mineração e pecuária. Nosso Estado revela dinamismo; diversificação econômica e capacidade de atração de investimentos. Porém, há um longo caminho a seguir: em 47,4% dos municípios, a administração pública foi o maior componente do PIB. Trocando em miúdos: são cidades menores, que vivem do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), que são recursos transferidos pela União às Prefeituras, composto de parcela do Imposto de Renda e IPI arrecadados pela União. Como a cidade é pobre e sem dinamismo econômico, o maior agente econômico é a prefeitura.

Por fim, uma informação ótima para nós: Ipatinga foi a única cidade não mineradora cuja participação no PIB subiu significativamente entre os anos 2020/2021: subimos de 1,7 para 2,1% do total do PIB do Estado, o que equivale a um aumento de 23,5%. Isto, devido ao maravilhoso ano de 2021, um dos melhores da história da Usiminas.

E, em 2023, por obra do destino, estamos vendo a paralisação do alto-forno 1, devido à importação do aço chinês, que entra subfaturado no país. Mas não há de ser nada. Brevemente, a siderurgia mineira há de recuperar sua pujança e dinamismo.

Ps.: Agradeço aos leitores pelos comentários feitos aos meus artigos. São um incentivo de valor inestimável.

* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria

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