24 de dezembro, de 2023 | 09:30

Opinião: Crônica de Natal

William Passos *

"Infelizmente, nossa avó já não reconhece ninguém. Era a primeira a montar a árvore de Natal, a iluminar a casa com pisca-piscas, a coroar a porta com uma linda guirlanda. O melhor Natal que podemos dar a ela é recheá-la com o nosso círculo de amor, carinho, acolhimento, cuidado e muito afeto", disse o nosso avô na manhã do dia 23 de dezembro. Nosso Natal sempre foi muito bonito: família toda reunida, mesa farta, troca de presentes, casa toda arrumada e decorada, tios e primos de fora que sempre tínhamos que buscar na rodoviária. Sempre foi o momento mais bonito do ano.

Mas sabemos que nem todos os Natais são assim. Há aqueles que, por diferentes motivos, passarão o Natal sozinhos. Há os que passarão com a geladeira sozinha. Há os que não têm condições de comprar presentes. Há os que não têm de quem se lembrar. Há os que não se lembram que estão vivos. Há os que passarão a noite de 24 de dezembro num leito de hospital.

Há os que passarão o Natal no front de batalha, como soldados. Há os civis nas zonas de conflito. Na noite de Natal deste ano, as estrelas de Belém nascerão sob o céu de uma terra em guerra nada santa, na mesma terra onde nasceu Jesus, há mais de dois milênios, um palestino de origem judaica que divide a história do Ocidente, entre outras coisas, por ter pregado uma mensagem de paz.

A celebração do Natal, entretanto, tem origem anterior ao Cristianismo. Na época do nascimento de Jesus, os romanos comemoravam a chegada do inverno (solstício de inverno), cultuando o natalis invicti Solis (Deus Sol) e realizando dias de festividades como ritual de renovação. Outros povos da antiguidade também celebravam a data comemorando o início de um novo tempo.

Antes e depois do Cristianismo, dentro e fora do Ocidente, o Natal é permeado por simbologias e, atualmente, comemorado em quase todos os lugares do planeta, cristãos ou não. Independentemente do significado, o Natal é uma celebração de confraternização: em família, no trabalho, nos círculos sociais mais próximos. A filantropia e as ações de doação e generosidade se intensificam. As pessoas ficam mais unidas e mais pacíficas (pequenos conflitos parecem deixados de lado temporariamente). Dissemina-se o hábito da troca de presentes e da lembrança de familiares e amigos mais distantes.

No Natal de 1914, em plena I Guerra Mundial, soldados alemães e ingleses interromperam os combates temporariamente. Decoraram suas trincheiras, entoaram cânticos natalinos e disputaram uma partida de futebol. Durante seis dias houve um cessar-fogo: o perdão superou o ódio e inimigos confraternizaram-se como irmãos.

O Natal demonstra, radicalmente, que podemos ser melhores como pessoas e como humanidade. E que podemos ser melhores para outras pessoas durante o ano todo e pelo resto das nossas vidas.

Que sejamos, por isso, mais generosos, gentis, empáticos e amáveis. Que ouçamos mais os outros. Que tenhamos mais paciência. Que inundemos o nosso círculo de familiares, amigos, colegas de trabalho e até mesmo pessoas que pouco conhecemos de muito amor, carinho, acolhimento, cuidado e afeto. Que o perdão, dentro de nós, supere o ódio e que, no nosso dia a dia, como uma pequena estrela sob o céu de Belém, nas montanhas de Judá, na Galileia, há mais de dois milênios, possamos, enquanto seres humanos, ser o sinal de esperança em uma humanidade melhor.

Em tempo I: com o envelhecimento da população e o avanço da transição demográfica, cresce o número de pessoas que passam o Natal sozinhas e aumenta o número de idosos que precisam de cuidados integrais. Essas pessoas precisam da nossa atenção e da nossa presença durante todo o ano.

Um Natal com muita saúde e sem polêmicas: com todos sorrindo na foto de família como se apenas houvesse amor nos corações e como se todos os conflitos passados não estivessem mal resolvidos; e sem discussões desnecessárias - afinal, pessoas que não gostam de uva-passa são mesmo azedas e aquelas que gostam de panetone, uma espécie de pão doce sem graça, são sim pessoas esquisitas!

Ótimo Natal para você me acompanha no Diário do Aço desde 2019!

* Colaborador estatístico, jornalístico e literário do Diário do Aço desde 2019.
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Comentários

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Javé do Outro Lado do Mundo

24 de dezembro, 2023 | 09:51

“Bom texto, o Natal tem que ser comemorado todo dia, mas com a porta do coração bem aberta. Rs.”

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