28 de dezembro, de 2023 | 12:00
Opinião: Um bom ano*
Antônio Nahas Júnior **
Quanto mais educada for a população,
maior a produtividade do trabalho”
Lá se vai 2023, um ano a menos nas nossas vidas. E o Brasil de Lula foi bem melhor que aqueles que a mídia chama de "mercado", ou seja, os donos do dinheiro grosso, que vivem apostando no dólar, nas bolsas, nos juros, esperavam. O PIB cresceu mais que o previsto: 3,1 por cento, o dólar vai terminar o ano valendo R$ 4,90. Previa-se R$ 5,20. A inflação não vai chegar a 5 por cento. O desemprego caiu e, para terminar, os juros da taxa SELIC, que regula os juros dos empréstimos no país, estão a 11,75 por cento. Ainda é muito alta, mas a tendência é de queda. Esse é o olhar do mercado. Apesar de todas as críticas, renderam-se aos bons resultados.
E no andar de baixo, como estão as coisas? O IBGE trabalha com dois indicadores complementares; extrema pobreza e pobreza. São indicadores internacionais, vindos do BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento).
A extrema pobreza se caracteriza quando as pessoas dispõem de renda monetária diária inferior a 2,15 dólares/dia, o que equivale a 10,50 reais. Já, a pobreza, se caracterizaria quando a renda das pessoas chegasse a 6,85 dólares/dia, conforme o país, o que equivaleria a cerca de 34 reais/dia por pessoa.
Com estes indicadores, o Brasil apresenta 5,9 por cento da população em estado de extrema pobreza. E 31,6 por cento em estado de pobreza. Isso quer dizer que mais de 60 milhões de pessoas são pobres, o que envergonha nosso país, igualando-o a outros bem mais pobres.
É bom que se diga que os benefícios não monetários, por exemplo, a escola e a saúde gratuitas, não são considerados e variam de país para país. Falamos apenas de dinheiro.
E uma informação importante os dados trazem: Os programas sociais (bolsa família; auxilio emergencial; benefício de prestação continuada), todos eles funcionam. Sem eles, os indicadores de pobreza seriam muito piores. O percentual de pessoas extremamente pobres duplicaria.
E Ipatinga, como fica nesta história? Tivemos que acessar outra fonte de dados e os resultados também são pesados: o salário médio da população chegou a 2,4 salários mínimos. E 33,8% da população vive com até meio salário mínimo. A nível estadual, não estamos bem na fita: ocupamos a classificação 593.
Apesar desta realidade, os números otimistas que vimos no início prenunciam um bom governo para Lula. Mesmo com muitas viagens, sendo que nenhuma foi para Minas Gerais, mesmo com certas tiradas de gosto duvidoso, que provocam a ira dos seus opositores e risadinhas sem graça dos seus aliados.
Um ano do seu governo já se passou. Sua base política foi estabelecida, a um custo alto. E então, daqui pra frente o que vai ser? Será possível fazer com que o país continue a crescer e que este crescimento se oriente pelos ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável -, que foram definidos pela ONU? Não custa lembrar: são 17 e incluem tópicos que abrangem praticamente todas as dimensões de uma estratégia de desenvolvimento: Erradicação da pobreza; erradicação da fome; educação de qualidade; igualdade de gênero; empregos dignos e crescimento econômico; água limpa e saneamento, entre diversos outros.
O Brasil é signatário deste acordo. Basta que a proposta saia do papel. Não se trata de opor ricos e pobres; lulistas e bolsonaristas; Nordeste contra o Sudeste, mas de levar o país para a frente, combinando desenvolvimento e inclusão. Quanto mais educada for a população, maior a produtividade do trabalho. Salários mais altos, mais consumo, mais riqueza, mais lucro para os empresários.
Haddad tem se revelado um grande ministro, conquistando autoridade e prestígio. Sua presença impõe o respeito necessário para implementação de estratégias de desenvolvimento inclusivas. Mas, não vamos nos iludir: há escolhas a serem feitas. E a disputa política sempre vai ocorrer. Haverá tensões; críticas; nem sempre claras.
Mas, como já disseram: fórmula para o sucesso, não existe. Mas para o fracasso, há: tentar atender a todos. É preciso decidir, escolher caminhos, selecionar aliados para seguir em frente. Sem ódio. Mas também sem medo, sem concessões desnecessárias.
* Em homenagem a Marion Cottillard, que brilha no filme Um bom ano, de Ridley Scott.
** Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria
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