04 de janeiro, de 2024 | 12:00

Opinião: Saberes de siri

Ana Rosa Vidigal *

Verão, praia, e eu aqui, nas férias escolares, curtindo uma oportunidade de vir à Bahia. E como toda educadora, não perco a ocasião de refletir sobre os processos de aprender e de ensinar. A gênese dos saberes está em todo lugar.
E considerar também as práticas de comunicação do dia a dia como importantes estratégias na vida. Eis que me vejo divagando sobre tudo isso pela visão de um siri. Siri? Isso aí.

Desconheço uma criança que não se encante com a peculiaridade de um bicho de areia, tão distinto e tão improvável, sobretudo em outras paragens, como o siri.

Qualquer um, na verdade, se sente instigado a acompanhar a aparição de um siri. E não é só sobre a aparência inusitada que o siri tem como apelo ao encanto. Um misto de fragilidade, de vulnerabilidade e força, e de esquisitice mesmo.

Um siri nos ensina muita coisa. Como tudo na vida. É só parar para observar, e contextualizar suas habilidades nas situações cotidianas do trato social. Veja.

Você já deve ter ouvido a expressão "boca de siri". Que vem, normalmente, acompanhada da interjeição: "oh!", e do gesto típico simbólico de fechar um imaginário zíper nos lábios.

É isso mesmo: 'boca de siri' é uma forma de 'lacrar' a fala, insinuar silêncio sobre algum assunto, polêmico ou íntimo, pelo ato de sugerir a cumplicidade de um segredo. E por que associá-lo ao siri?

Quem já observou, sabe da boquinha miúda do bicho, mínima, com certeza, pelo fato de viver na areia. Adaptações, claro.

Mas o que mais interessa, em termos de habilidades de comunicação, é o fato de se praticar os saberes de uma 'boca de siri': sobre o que dizer, quando dizer e o que [não] dizer para todo mundo. E não é a discrição um importante ingrediente para a realização de um projeto de vida, por exemplo?

E tem mais lições de siri.. novamente, é só observar.

Já viu como o siri se protege da força de uma onda à beira-mar?

Ele finca as patas na areia e espera 'passar'. Porque a onda também se dissipa como as turbulências da vida. Afinal, quem entra no mar, 'é pra se virar', e sair vivo de lá.

Mais um saber de siri, que se conecta àquele de que falamos primeiro, é sobre os olhos do bicho. Não é à toa que estão 'fora' da cabeça, bem posicionados para uma visão ampla e privilegiada. Adaptações, claro.

“Desejo a você novos saberes e muitas ocasiões
de partilhar das sabedorias cotidianas que estão ao alcance”


Mas o que me chama a atenção como habilidade de comunicação é a capacidade de observar. Apurar o olhar é o início de tudo. Ver além das 'linhas' para o entendimento do que vem 'com-o-texto', o contexto. Imprescindível ao movimento intencional do encontro comunicacional. São muitos os aprendizados que a natureza nos permite e faz circular.

Neste novo ano que desponta, desejo a você novos saberes circulares e muitas ocasiões de partilhar das sabedorias cotidianas que estão ao alcance, tão simplesmente, da nossa contemplação.

* Professora, psicopedagoga e jornalista. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC Minas e Université Grenoble III, França. Atua na formação de professores da Educação Básica, gestores, líderes e equipes, em diferentes organizações, ministrando palestras e cursos nos domínios da Educação e da Comunicação, e suas interfaces nas relações humanas. [email protected]

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Comentários

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Rogério Magalhães

11 de janeiro, 2024 | 10:56

“Professora Ana Rosa sempre nos ensinado novos saberes e nos sinalizando para novos olhares, é com orgulho que venho te dizer: Parabéns por mais um texto maravilhoso e reflexivo.”

Emanuel

10 de janeiro, 2024 | 13:26

“O texto é de uma leveza surreal. É um prazer encontrar aqui esse tipo de conteúdo. Que aula!”

Cleiton Augusto Soares

05 de janeiro, 2024 | 00:53

“Excelente reflexão, Ana! Um abraço.”

Gracielle Rodrigues de Souza Cunha Silva

04 de janeiro, 2024 | 14:39

“Que visão perfeita! É um espetáculo essa partilha de SABER, nos faz pensar, refletir e até agir de uma outra maneira, é enxergar as coisas com uma nova percepção. Parabéns pelo Artigo, Ana Rosa Vidigal!”

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