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18 de janeiro, de 2024 | 13:00

Opinião: Falta mão de obra no Vale do Aço?

William Passos *

No Vale do Aço, muitos empregadores reclamam das dificuldades de contratação de colaboradores. Há uma percepção de "falta" de mão de obra disponível e/ou qualificada para trabalhar. O Observatório das Metropolizações Vale do Aço/IFMG Ipatinga, que integra a Rede de Observatórios do Mercado de Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, com base no acúmulo de mais de dois anos de pesquisas, aproveita a oportunidade para fazer alguns esclarecimentos que ajudem a entender melhor a questão.

De janeiro a novembro de 2023, o município de Ipatinga, que "puxa" o emprego no Vale do Aço, registrou 40.693 contratações contra 41.364 demissões, um saldo, destacamos, negativo, de 671 empregos formais. A Indústria ipatinguense demitiu 1.436 trabalhadores, enquanto o setor de Serviços contratou 463 colaboradores com carteira assinada. A Construção Civil formalizou 214 trabalhadores e o Comércio 92. A Agropecuária registrou saldo negativo de 4 vagas nos 11 primeiros meses do ano passado na maior cidade da Região.

Entretanto, no conjunto do Vale do Aço, a geração de vagas formais foi positiva: 893 novos empregos. A Indústria registrou números menos piores que os de Ipatinga isoladamente (1.208 demissões), mas ainda assim negativamente bastante significativos. O setor de Serviços exibiu forte dinamismo (1.051 novas contratações), enquanto a Construção Civil formalizou 721 novos trabalhadores e o Comércio 313. A Agropecuária apresentou saldo positivo de 16 novos contratos.

“No conjunto do Vale do Aço, a geração de vagas
formais foi positiva: 893 novos empregos”


Apesar do volume elevado de demissões na Indústria, a avaliação do Observatório das Metropolizações é a de que a análise do estoque de trabalhadores da Região indica que não há falta de mão de obra disponível no Vale do Aço. O que existe é um desajuste entre oferta e demanda provocado pelo desalinhamento entre a remuneração e as condições de trabalho oferecidas por empregadores e aquelas aceitas pelos trabalhadores. Em outras palavras: muito da percepção dos empregadores de falta de mão de obra, especialmente da mão de obra qualificada, é explicado pelos baixos salários de admissão oferecidos nos diferentes setores econômicos da Região, inclusive a Indústria, na comparação com outras Regiões brasileiras.

Além do patamar rebaixado dos salários de admissão, também explicam essa percepção de falta de mão de obra as condições laborais ofertadas pelos empregadores e até mesmo o "tratamento" dispensado aos funcionários. É o que relatam os trabalhadores ouvidos pelo Observatório das Metropolizações em entrevistas qualitativas que seguiram rigorosa metodologia científica.

Apesar do salário mínimo de R$ 1.371,00, em vigor desde 1º janeiro de 2024, o DIEESE calcula que o "salário mínimo necessário" para uma família de 4 pessoas atualmente é de R$ 6.439,62, o que significa um valor per capita (por pessoa) de R$ 1.609,61. Na prática, é esse o valor que muitas famílias brasileiras perseguem considerando o somatório dos rendimentos de todos os moradores de um domicílio. Importante destacar, porém, que o valor do salário mínimo nacional é um valor bruto, isto é, sem os descontos de INSS e de FGTS, enquanto o valor do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE é um valor líquido, ou seja, sem considerar estes descontos.

A plataformização da economia, isto é, a possibilidade de trabalhar por aplicativos, como é o caso dos motoristas de Iber e dos entregadores de Ifood e apps similares, amplificou muito significativamente a possibilidade do trabalho por conta própria. Apesar da informalidade e da ausência de proteção trabalhista, a "uberização", nome dado a esse tipo de atividade pela literatura científica, oferece flexibilização, autonomia, independência e grande possibilidade de ampliação dos ganhos financeiros sem as exigências de um contrato trabalhista.

É este o caminho seguido por muitos trabalhadores no Vale do Aço e em todo o Brasil e que ajuda a explicar a percepção de falta de mão de obra de muitos empregadores. Diante desse cenário, a sugestão do Observatório das Metropolizações é a do fomento ao desenvolvimento de uma nova cultura empresarial, com maior valorização objetiva (salários, plano de carreira e possibilidades de crescimento dentro da empresa) e subjetiva (condições de trabalho e tratamento que os façam sentir valorizados) dos colaboradores, a fim de tornar a oferta do emprego com carteira assinada mais atrativa e resolver, de maneira definitiva, do lado dos empregadores, o problema da "falta de mão de obra".

* Coordenador estatístico e de pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço/IFMG Ipatinga e colaborador do Diário do Aço. E-mail: [email protected]

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Comentários

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William Passos (autor do Artigo)

18 de janeiro, 2024 | 14:50

“Exato, Gildázio. Obrigado pela leitura e pelo comentário. O valor de R$ 1.412 foi anunciado após a escrita do artigo.”

Gildázio Garcia Vitor

18 de janeiro, 2024 | 14:27

“O salário mínimo não de seria de R$ 1.412,00?”

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