18 de janeiro, de 2024 | 13:00
Opinião: Transição energética com justiça social
Wagner Ferreira *
O Brasil fechou o ano de 2023 com dados macroeconômicos de invejar qualquer país de primeiro mundo. Mas por qual razão muitas famílias, especialmente as mais carentes, não sentem e enxergam esses macro dados positivos nas suas rotinas? A explicação não é simples, mas há fatos importantes que todos nós deveríamos nos atentar.
Nosso país possui uma estrutura funcional pesada e de contornos sociais absolutamente desiguais. 60% dos brasileiros e brasileiras vivem com até um salário mínimo de renda e mais de 70 milhões utilizam a tarifa social de energia. Mas esse cenário pode mudar e temos uma vantagem única para garantir melhoria estrutural para toda a sociedade. Nosso cavalo selado é a transição energética, que deverá trazer novas oportunidades de negócios para o país, movimentando trilhões de dólares pelo mundo.
O Brasil possui vantagem competitiva em relação ao resto do mundo, já que 90% de sua matriz elétrica é renovável e proveniente de fontes limpas. Os principais emissores no país são o desmatamento da floresta amazônica, o agronegócio e o setor de transportes. Como os desafios para reduzir as emissões são particulares em cada país, é fundamental que as soluções daqui sejam diferentes das de outros locais, sob pena de importarmos um remédio ESG” que não resolverá nossa dor.
O Brasil possui vantagem competitiva em relação ao resto
do mundo, já que 90% de sua matriz elétrica é renovável
e proveniente de fontes limpas”
No último trimestre de 2023, importantes projetos de lei ligados à pauta verde tramitaram com celeridade no Congresso Nacional e comprovaram que nossos parlamentares estão empenhados em garantir o andamento de projetos comprometidos com a transição energética sustentável. Contudo, é preciso refletir sobre os caminhos que estão sendo delineados nesse conjunto normativo. Como garantir justiça energética à sociedade?
Temos acompanhado, nos últimos anos, um crescimento acelerado da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) por conta de subsídios a tecnologias e fontes limpas de energia em uma matriz que já é majoritariamente limpa. Os consumidores vão ter que arcar, neste ano, com R? 38 bilhões que foram alocados na CDE e esse valor chegará a R? 50 bilhões por ano já a partir de 2025, se nada for feito. É insustentável e desigual: quem vai pagar essa conta é exatamente o consumidor mais carente.
O Brasil precisa urgentemente promover políticas que reduzam rápida e verdadeiramente a desigualdade social e que melhorem a renda das classes mais vulneráveis. E, em relação à transição energética, que utilizemos essa plataforma de oportunidades para monetizar soluções e oportunidades ao Brasil e vendê-las para o mundo, fazendo com que essa riqueza coloque o nosso país em uma condição realmente melhor no futuro próximo. Talvez a pauta verde seja o único cavalo selado que realmente faça o Brasil mudar sua trajetória.
* Diretor institucional e jurídico da Abradee, advogado e árbitro
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Celso Viana
18 de janeiro, 2024 | 20:02Excelente artigo e esclarecedor sobre energia e pauta verde, com soluções e oportunidades. Parabéns”