19 de janeiro, de 2024 | 14:00
Entre quedas e decolagens: a jornada silenciosa entre altos e baixos
Gregório José *
O voo da existência muitas vezes assemelha-se ao percurso de um avião no céu vasto da vida. É curioso notar que, de maneira semelhante, só nos tornamos o centro das atenções quando enfrentamos quedas abruptas. O paradoxo da notoriedade humana revela-se quando refletimos sobre a tendência de nossa sociedade em celebrar as falhas, enquanto os triunfos diários passam despercebidos, submersos na monotonia do cotidiano.Assim como um avião voa majestosamente nos céus, enfrentando correntes de ar e desafiando a gravidade, nós também realizamos uma jornada singular. Contudo, ao contrário da aeronave, somos notados principalmente nos momentos de adversidade, quando nossas asas parecem falhar e descemos em uma espiral de incertezas. É nesses momentos que as luzes dos holofotes se acendem, e os gritos ruidosos e sorrisos dos adversários ressoam em um coro de felicidade por nossa derrocada e, por vezes, julgamento.
A ironia reside na ausência de celebração pelos inúmeros momentos em que nos erguemos, desafiando as tempestades internas e superando as turbulências do dia a dia. São esses momentos, muitas vezes discretos e despercebidos, que verdadeiramente revelam nossa resiliência e determinação. Enquanto voamos nas alturas da rotina, desviando de nuvens escuras e encontrando coragem para seguir adiante, raramente somos aplaudidos ou reconhecidos.
A sociedade, qual observadora distante, parece estar mais interessada nas histórias de queda, nos capítulos dramáticos de nossa narrativa pessoal. É como se as asas que nos sustentam nas alturas não despertassem a mesma atenção que a visão de um avião caindo dos céus. Talvez isso revele uma peculiaridade na natureza humana, uma predisposição para se envolver mais profundamente com a fragilidade do que com a fortaleza.
Somos notados principalmente nos momentos de adversidade,
quando nossas asas parecem falhar e descemos em uma espiral de incertezas”
Cabe a cada um de nós, como pilotos de nossas próprias vidas, encontrar significado nos altos e baixos deste paradoxo chamado viver. Devemos aprender a apreciar não apenas as aterrissagens forçadas, mas também as decolagens suaves e os voos constantes. Na simplicidade do cotidiano, na monotonia aparente, reside a verdadeira essência de nossa jornada. Afinal, a grandiosidade não está apenas nas quedas espetaculares, mas na persistência silenciosa de elevar-se repetidamente, voando para além das expectativas e desafiando a narrativa convencional da notícia que se espera.
Só não podemos deixar de ter em mente que nossos voos serão nossos, apenas entre nós e nossa vida. Não importa se transportamos alguém junto. Se nossa carga é leve ou pesada. Estamos em céu de brigadeiro ou de tempestades de ventos e raios voando conosco mesmo. A rota e o destino somos nós que fazemos. A forma como alcançamos o céu ou aterrissamos também é delimitada por nós.
* Jornalista/Radialista/Filósofo
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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