18 de janeiro, de 2024 | 14:47
Opinião: Mudança climática chega às prefeituras
Antonio Nahas Junior *
Esta semana estive com a professora da rede municipal de Ipatinga, dona Lúcia, que dá aula no bairro onde moro, o Pedra Branca, preocupada com as mudanças climáticas e propondo ações de redução de emissões de carbono nas escolas e nas residências de seus alunos. São iniciativas muito importantes. No mesmo momento, vi que a Prefeitura de Belo Horizonte acaba de lançar o seu Plano de Ação Climática, visando a redução gradativa das emissões até o ano de 2050.
O Plano de BH foi antecedido pela elaboração do inventário das emissões de gases efeito estufa na cidade. Belo Horizonte já tem lei sobre Política de Mitigação de Mudanças Climáticas e criou um Comitê Municipal de Mudanças Climáticas e Ecoeficiência. E já está na sexta atualização do Inventário de Emissão de Carbono. Eles são elaborados obtendo-se dados junto à Copasa, sobre o tratamento de esgotos; Cemig, referente ao consumo de energia; SLU (tratamento de resíduos sólidos) Gasmig; ANP (Agência Nacional de Petróleo sobre o consumo de gasolina e diesel na cidade) e CBTU (trens urbanos).
Os dados são lançados na Plataforma Clima, da empresa Way Carbon que agrupa as informações em tres escopos básicos; o Escopo 1, quando as emissões ocorrem dentro do município; Escopo 2, quando as emissões ocorrem a partir da rede de transmissão e distribuição de energia e o Escopo 3, quando a emissão ocorre fora do município, mas a responsabilidade é da cidade. É o caso das Estações de Tratamento de Esgoto e de resíduos sólidos, que se localizam em Lagoa Santa e Sabará, mas a responsabilidade é de BH.
Com estes dados, BH consegue identificar as emissões de CO2 nos setores residencial, comercial e industrial isoladamente, gerando dados e informações sobre a emissão de CO2 nas residências; pelos automóveis e caminhões; nos prédios públicos; no transporte rodoviário; ferroviário e aviação, na gestão de resíduos, por fonte emissora: se foi pelo consumo de eletricidade; pelo consumo de gás, diesel, gasolina ou querosene.
Como resultado deste magnífico trabalho, o inventário conclui que, no ano de 2023, em BH, foram emitidas mais de quatro milhões de toneladas de carbono, sendo quase sessenta por cento no setor de transporte.
Com base nestas informações, foi traçado o Plano de Ação Climática, elaborado pelo Instituto ICLEI, sob a coordenação do economista Rodrigo Perpétuo. O plano tem vários eixos, entre eles mais vida menos vulnerabilidade, abrangendo o espinhoso tema Justiça Climática: aqueles que menos contribuíram para o aumento das emissões de carbono sofrerão mais as tragédias climáticas: inundações; desmoronamentos, tragédias climáticas de uma forma geral. Por isso, são necessárias ações visando a preservação de vidas e a prevenção de desastres, além do acesso às infraestruturas básicas e moradias que possibilitem vida digna e diminuição da vulnerabilidade climática.
Há também o Eixo Mais Verde, propondo a preservação das áreas de proteção ambiental, visando a captura de gases de efeito estufa na atmosfera, redução de gases poluentes, amenização da temperatura, aumento da umidade do ar e maior permeabilidade do solo. O verde no tecido urbano permite também maior adaptação aos efeitos adversos da mudança do clima, estando ligada diretamente a estratégias de redesenho urbano.
O verde no tecido urbano permite também maior adaptação
aos efeitos adversos da mudança do clima, estando ligada
diretamente a estratégias de redesenho urbano”
O plano propõe também a redução do passivo urbano do município: a recuperação de áreas urbanas degradadas emissoras de gases poluentes e muitas outras ações importantes. Ao fim, estabelece as metas anuais de remoção e redução de CO2 anuais, infelizmente muito modestas, incapazes de viabilizar os objetivos traçados. Os autores alertam que, "a neutralização só será possível com mobilizações junto ao Governo Estadual e Federal, em especial em relação à mudança da matriz energética, que fica sob principal competência da União. "Afirmam também que será necessário esforço "no tocante a investimentos ara ampliação do uso de tecnologias mais limpas para mobilidade urbana".
Enfim: no fundo, trata-se de uso político do Plano: BH precisa de verbas e investimentos para viabilizar seu Plano de Ação Climática. E, como ela, muitas outras. Ouviu, Lula?
Belo Horizonte, diferentemente de Ipatinga, não convive com emissão de combustíveis fósseis decorrentes da atividade industrial. No Vale do Aço, esta é a situação. As emissões de Gases Efeito Estufa relatadas pela Usiminas ao CDP (Carbon Disclousure Project) para o ano de 2021, são superiores às emissões da cidade de Belo Horizonte.
Porém, como Ipatinga tem grandes áreas verdes, além de parques e recantos como a Pedra Branca, intensivos em áreas verdes, além de passivos ambientais urbanos a serem recuperados, a elaboração do Plano de Ação Climática poderia ser uma boa oportunidade para demonstrar a importância da ação da empresa e da Prefeitura rumo ao combate das mudanças climáticas. Por enquanto, vou conversar com a Dona Lúcia, para cuidarmos melhor do nosso bairro e aumentar a remoção de carbono na cidade.
* Economista e empresário. Diretor-Presidente da NMC Integrativa.CONTATO: [email protected]
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Heleno
19 de janeiro, 2024 | 12:59Artigo muito pertinente! Parabéns ao Diário do Aço”