22 de janeiro, de 2024 | 15:54

Tão lindo...

Nena de Castro *

Dia, meus cinco leitores! Feliz pela pontuação na redação do ENEM, alcançada por alunos da rede pública, em todo o país! Parabéns a todos que compõe o nosso sistema educacional! E os do Nordeste, ó xente, que maravilha! Orgulho dos nossos professores por todo esse Brasil! Meio assombrada com a possível volta do Trump e o declínio da nação americana, cujos resquícios sobrarão pra nós e mal assentada sobre o tambor de pólvora em que o mundo foi transformado, suspiro fundo e escrevo minhas mal traçadas linhas!

Como não quero pensar em titica, ou seja, a vida de medos que levamos, vou escrever sobre coisas que me falam ao coração. Pois coração precisa de alegria, de amor, de coisas belas, senão adoece. Então vou lhes contar a lenda do TAMBA-TAJÁ, uma história de amor grandioso, extraordinário, entre um casal indígena. Contam que ele, o guerreiro Uiná, da etnia Taulipang caiu de amores por Acami, cunhã Macuxi. Casaram e viveram muito felizes. Nunca se separavam: se ele ia pescar, roçar ou caçar, ela ia também; se ela ia se banhar, ele ia junto. Mas Acami ficou doente e não mais pode andar.

Uiná, então, armou uma tipóia em seus ombros fortes e assim a carregava consigo para toda parte. Um dia, sentiu que o precioso fardo pesava demasiadamente. Acami tinha ido para Tupã. Uiná chorou muito e abriu uma grande cova à beira de um igarapé e se enterrou com o seu amor de toda a vida, pois não tinha mais motivo pra viver. Após nove luas, naquele local brotou uma linda, diferente e graciosa planta de folhas na cor verde escuro brilhante, trazendo em seu centro matizes de coloração amarelada ou cor-de-rosa e no verso de algumas destas folhas, uma menor, com o interior avermelhado. Era a tamba-tajá, planta de folhas triangulares, de cor verde escura, que traz consigo uma outra folha de tamanho reduzido, cujo formato se assemelha ao órgão genital feminino. A união das duas folhas simboliza o grande amor existente entre o casal da tribo Macuxi.

Os parentes do casal, ao descobrirem a misteriosa planta, logo compreenderam que ali se manifestara o grande milagre de transformação e continuidade do amor e da vida. Tamba-Tajá! Foi este o nome imediatamente intuído por todos, e assim se eternizou, e o seu cultivo e utilização como amuleto vivo do amor se espalhou por toda a Amazônia.
O caboclo da Amazônia costuma cultivar esta curiosa planta, atribuindo a ela poderes místicos. Se, por exemplo, em uma determinada casa a planta crescer viçosa com folhas exuberantes, trazendo no seu verso a folha menor, é sinal que existe muito amor naquela casa.

Todavia, se nas folhas grandes não existirem as pequeninas, não há amor naquele lar. Também se a planta apresentar mais de uma folhinha em seu verso, acredita-se então que existe infidelidade entre o casal.

Tamba-tajá , o símbolo do amor eterno, do amor perfeito. A união das duas folhas simboliza o grande amor existente entre o casal da tribo Macuxi e de todos que se amam com um amor grandioso e verdadeiro. Aposto que você não sabia, mas o tamba-tajá é a planta que chamamos de caladium ou calandidio, tajá, talá, coração de Jesus ou simplesmente tinhorão. Lendas... Enfeitam nossas vidas com a beleza dos ensinamentos que trazem, nos assustam ou divertem. Eu, a Bugra louca de pedra, prefiro-as à nossa realidade tão cinzenta, cruel e insana! E nada mais digo, a não ser que os meus tinhorões estão lindos! Au revoir.

* Escritora e encantadora de histórias