01 de fevereiro, de 2024 | 13:00

Opinião: Uma só forma de ensinar

Ana Rosa Vidigal

Professora, professor: quantas formas de ensinar e de aprender você precisa conhecer para atuar em uma sala de aula na contemporaneidade?

Foi desse modo que iniciamos o Curso Prático de Metodologias Ativas, eu e uma colega educadora, para um grupo de formadores interessados na temática. E quem é professor hoje em dia e que nunca ouviu tratar desse assunto?

A temática das Metodologias Ativas está em voga. E não é difícil perceber o porquê: resquícios do confinamento na pós-pandemia; etapas de ressocialização na volta às salas de aula presenciais; ressignificação da cultura escolar pelo tempo de isolamento de toda ordem na vida de quem mais precisa de convivência social, os jovens.

Nesse cenário, e com força total, a evidência de que os alunos estão no centro da construção do conhecimento. A urgência dessa constatação e prática não somente se refere à ordem de um novo tempo, mas, e principalmente, à falta eminente de referências de como se deve ensinar, e até de se encontrar, em uma nova ambiência escolar.
As Metodologias Ativas podem aparecer, então, como uma boa ocasião para se compor um mini código de novas práticas do ensinar e do aprender.

Nessa perspectiva, a abordagem das metodologias ativas nos processos educativos, seja da Educação Básica ao Ensino Superior, e mesmo nos treinamentos das organizações aprendentes, busca promover o aprofundamento de níveis cognitivos que os participantes são estimulados a desenvolver.

Descrever, interpretar, aplicar, analisar, avaliar, criar – são etapas de complexificação do pensamento e devem ser regidas de forma consciente por quem conduz a 'orquestra'. Bem distribuídas, essas etapas proporcionam, em atividades didáticas, o avanço esperado da aquisição dos saberes.

Uma grande quantidade de modalidades de ativação da produção do conhecimento e de circulação de saberes perpassam essas práticas. As modalidades, cujos nomes você deve conhecer – sala de aula invertida, aprendizagem baseada em projetos, gamificação, rotação por estações, peer instruction, storyteling, cultura maker, entre outros – dizem respeito às estruturas e combinações possíveis de interação entre os participantes, seguindo o foco da vez, isto é, o que é dado como intencional em um certo momento do ensinar e do aprender.

“ao aluno, devem ser oferecidas condições de produção,
recepção e circulação de saberes por meio de uma
margem relevante de autonomia”


Todas, sem exceção, buscam a centralidade do aprendiz nesse processo. Se, no antigo paradigma da sala de aula, o professor se posicionava como regulador de toda a parafernália da manifestação educativa, o novo paradigma é o aprendiz sendo elevado a protagonista de seu próprio percurso do conhecer.

Daí a pergunta inicial para os formadores no curso livre oferecido, e que abre este artigo: nesse sentido, quantas seriam, afinal, as formas de ensinar e de aprender que se deve dominar? A resposta esperada vai ao encontro de um ponto central: não são várias ou inúmeras formas. A melhor resposta tende a uma única direção e sentido: reconhecer o protagonismo daquele sob sua responsabilidade de aprender, e, dessa maneira, só haveria uma forma de ensinar.

Uma só? Sim. Aquela que confirma o paradigma de que, ao aluno, devem ser oferecidas condições de produção, recepção e circulação de saberes por meio de uma margem relevante de autonomia, para fazer escolhas e tomar decisões em coletividade(s) que almejam um objetivo comum.

Parte-se da necessidade de instigar situações em que os alunos cocriam, ou seja, regem em conjunto partes da 'orquestra', atuam em uníssono e aprendem, em um todo harmônico, a se encantar com ele.

Como? Aí está toda a peculiaridade da vivência e da prática certeiras do novo paradigma da sala de aula hoje: no centro, não está mais o professor, como vimos. Mas, ouso dizer, também não estaria só o aluno. Estão ambos.
E aí está o diferencial, a meu ver, de uma conquista ainda mais assertiva para este lugar de encontros que é a escola: a potencialização de seu principal movimento convergente que é a coatuação aluno-professor.

Nesse reposicionamento de paradigmas, ainda que o aluno seja finalidade, e o professor, a causalidade, há a relação humana entre os dois. Acredito, desse modo, que ambos estão no centro dos processos de ensino e de aprendizagem. E a qualidade da (boa) relação entre eles é que vai impulsionar (ou não) a aquisição e a construção de novos saberes.

Se educação é mudança, não haverá transformação se não houver vínculo. O vínculo entre professor e aluno é preponderante e condicionante e, por isso, central. Entretanto, atenção: um vínculo se dá por meio de uma relação humana baseada na confiança. No comprometimento, no respeito, na competência técnica, na escuta ativa, na empatia e no reconhecimento e na sustentação de uma liderança coerente, justa e mediadora, que segue junto, como coparticipes de um mesmo percurso, mas sem que um seja, saiba ou faça pelo outro. Um ótimo novo ano letivo para todos nós.

* Professora, psicopedagoga e jornalista. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC Minas e Université Grenoble III, França. Atua na formação de professores da Educação Básica e do Ensino Superior, e de gestores, líderes e equipes, ministrando palestras e cursos nos domínios da Educação, da Comunicação e do Socioemocional, suas interfaces nas relações humanas e na construção do vínculo.
Instagram:@saberescirculares email: [email protected]

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Comentários

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Ana Paula Martins de Melo

01 de fevereiro, 2024 | 21:57

“Eu já sabia da existência das metodologias ativas faz algum tempo, mas acreditava que era só dar alguns jogos, dar um vídeo para os alunos, fazer um trabalho em grupo e estava tudo bem, até que eu não via sentido naquilo, imagine o aluno! Outra coisa é que eu também sempre via nas propagandas das escolas, a chamada "Aqui o aluno é o protagonista do seu aprendizado" e ficava pensando "qual é então o papel do professor? Perdemos a nossa importância? Mas acabai fazendo o cursod e metodologias da Ana Rosa e, em apenas uma palavrinha, tudo fez sentido: O vínculo. Mas como eu faria esse vínculo se eu não tendo o perfil de professora "fofinha"? Aprendi justamente o que ela diz nesse texto. A questão do respeito, da responsabilidade, que trazem a confiança entre o professor e o aluno. mas como isso iria se construindo? A partir do momento em que o professor propõe, que mostra ao aluno que ele é um ser que já vem com um conhecimento prévio, que respeite suas opiniões, que mostre que errar faz parte do processo, que seja claro e mais um monte de outras formas que muitas vezes eu já havia feito, mas sem qualquer método. E quando isso começa a dar certo, o aluno vai sozinho, se torna autoconfiante e é capaz de nos supreender a cada etapa. É lindo de se ver e não é utopia, é muito estudo, é método, é planejamento e é conhecimento. Obrigada, Ana”

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