15 de fevereiro, de 2024 | 11:00

Opinião: Pare, se puder

Ana Rosa Vidigal *


Espero encontrar você descansado ao fim do feriado de carnaval. Desejo firmemente que tenha aproveitado um ou dois dias de recesso prolongado, e, quem sabe, relaxado sob a céu aberto, e, de preferência, bem aberto.

Se não foi descanso, tomara que tenha sido 'balanço': pulando carnaval, atrás de um bloquinho, se divertindo. A ideia é que você tenha aproveitado o feriado para relaxar, e deixar de lado tudo que seja trabalho.

Uma das estratégias pedagógicas mais interessantes que aprendi em minha experiência docente, em uma escola de visada metodológica canadense, é a tal da autorregulação.
Pode parecer coisa de autoajuda ou de atividades periféricas aos conteúdos de matemática, português, história e geografia. Longe disso, ou, talvez - bem ao contrário - extremamente imbricado a isso, está a autorregulação ou autogestão: uma das competências socioemocionais mais cobiçadas hoje no mundo do trabalho, e, assim, das mais visadas pelas escolas no desenvolvimento do indivíduo jovem aprendiz - crianças e adolescentes, sobretudo, jovens adultos também.

Ditada pelos documentos oficiais de educação de todo o país, e, creio eu, do mundo, a aprendizagem da autorregulação destina-se a oferecer condições, das quais o próprio indivíduo lança mão, para a condução acertada de suas reações aos estímulos da vida, sempre orientada para uma forma harmônica, equilibrada e socialmente saudável.
“Paradas regulam, retificam, restauram, repõem. Permitem mais efetividade, presença e consciência”

Autorregulação diz respeito a saber sobre seus limites, suas preferências, de acordo com as circunstâncias. De forma prática no que tratamos aqui, diz respeito a saber quando parar. Isso mesmo: parar, desligar-se (e o celular também), ausentar-se da rotina de demandas imperativas, seja das relações no trabalho, das atribuições da função profissional, seja dos ponteiros, cordas e tic-tacs dos relógios diários - talvez menos barulhentos atualmente, mas constantemente um argumento no nosso cotidiano.

Parar, neste caso, quer dizer diminuir o ritmo por um tempo. Um pouco de silêncio e de escuta atenta para entender que o corpo precisa de estancar, ou mesmo intensificar o movimento, dependendo da situação, mas sempre com a intenção de se expressar de forma mais livre do que dita o padrão. Se o corpo precisa dessa parada, a mente também; e o coração, nem se fala.

Paradas assim são 'ilhas' de refúgio, salpicadas aqui e ali em uma imensidão do mar[asmo] e da rotina, que nos salvam, pobres náufragos do dia a dia, e nos permitem um pouco de ‘terra firme’ e prumo. É preciso treinar a autogestão das pausas, para não nos afogarmos nos compromissos e tarefas do trabalho.
Por isso tudo, mostra-se tão importante a competência da autorregulação: perceber os limites até para prevenir a exaustão, planejando uma parada estratégica, aproveitando bem a condução de escolhas que a afetarão. E pare, se puder.
Um movimento mundial já tem sido feito nessa direção. O 'slow mouvement', que sugere uma desaceleração da quantidade e da intensidade do 'fazer', em benefício do apreciar, do contemplar, do observar.

Não importa o momento, o ‘vagar’ pressupõe ingressar em uma outra batida – a da bateria de um samba, quem sabe? Diferente da batida do 'ponto', parar pode significar estar em companhia da natureza, ou dos amigos e da família – ao compartilhar a mesa –, do campo ou da brincadeira de rua. Isso é imprescindível na vida de cada um.

Paradas regulam, retificam, restauram, repõem. Permitem mais efetividade, presença e consciência. Se janeiro é branco, em nome da saúde mental, fevereiro – colorido por roxo e laranja, pode oferecer tons de um ano com mais leveza e esperança, para além do carnaval.

* Professora, psicopedagoga e jornalista. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC Minas e Université Grenoble III, França. Atua na formação de professores da Educação Básica e do Ensino Superior, e de gestores, líderes e equipes, ministrando palestras e cursos nos domínios da Educação, da Comunicação e do Socioemocional, suas interfaces nas relações humanas e na construção do vínculo. Instagram:@saberescirculares email: [email protected]

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

15 de fevereiro, 2024 | 18:35

“Sou mais Leminski:

"não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino"

Afinal, desde Pompeu até Caetano, passando por Pessoa, "Navegar é preciso, viver não é preciso".”

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