16 de fevereiro, de 2024 | 11:30

Opinião: O envelhecer e seus impactos na sociedade

Viviane Gago *


Quando jovens, muito comumente pensamos e sentimos que somos imortais; e não pensamos na velhice, na morte; o que é bom e ruim. No meu atual ciclo de vida, entrei na década dos 50 anos de idade, pego-me pensando sobre o envelhecer, que como tudo possui aspectos legais e não tão legais, positivos e negativos; por isso decidi falar um pouco sobre isso este mês.

O etarismo, também conhecido como discriminação etária, refere-se à prática de julgar ou discriminar indivíduos com base em sua idade, atinge os jovens e os mais velhos, aqui focarei mais nestes últimos.

As causas desse fenômeno são multifacetadas e podem incluir estereótipos culturais enraizados, preconceitos sociais, a busca pela juventude idealizada, crenças como idosos não podem trabalhar, idosos são frágeis e não conseguem resolver suas necessidades básicas, os mais velhos nada tem a contribuir etc.

O preconceito prejudica a saúde mental da pessoa porque ela tende a ficar em isolamento, não se sente confortável no ambiente onde ela é basicamente rejeitada por ter mais de 60 anos de idade, isso pode inclusive levar à depressão, vez que a pessoa pensa em fazer algo, porém interioriza isso e muitas vezes pode não sentir coragem de externar o que realmente pensa e sente; especialmente aqueles que tem parcos recursos.
"O etarismo, também conhecido como discriminação etária, refere-se à prática de julgar ou discriminar indivíduos com base em sua idade"

Enquanto jovens adultos podem receber salários mais baixos, por serem considerados menos experientes, as pessoas mais velhas podem ter problemas para conseguir promoções ou encontrar trabalho. Isso tudo afeta diretamente a dignidade dessas pessoas; pois a levam para uma má qualidade de vida.

Lembremos de algumas leis que protegem o idoso a exemplo do Artigo 96 da Constituição Federal, que aliás muita gente desconhece e dispõe que “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício de cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 06 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Existe também o Estatuto do idoso que o protege e há um projeto de lei nr 3.549/203 – Câmara dos Deputados que preceitua que o etarismo é a discriminação praticada contra indivíduos ou grupos de pessoas com base em estereótipos associados à idade.

Uma das formas de combater esse preconceito etário é conscientizar a população sobre os problemas que ele pode criar, aliás desnecessariamente, pois com relação aos mais velhos, eles possuem enorme experiência de vida, privilégio que nem todos teremos, essas pessoas podem ter uma “bagagem “que muito pode agregar em qualquer cenário pessoal ou mercadológico.

Lembremos do filme “Um senhor estagiário”, um dos aspectos principais é a união de gerações, a ideia de que a experiência e a juventude podem coexistir e se complementar. Ben, com sua experiência e calma, se contrapõe à agitada e moderna realidade da startup de Jules.

O nosso país além de ter que olhar para a melhora de muitos aspectos a exemplo da educação, acabar com a corrupção, da melhora da malha logística do país, precisa também criar ferramentas, meios de melhorar também a qualidade de vida dos idosos, promovendo atividades culturais, acessibilidade, cursos, grupos, programas voltados para eles, assim como outros países já o fazem há muito tempo a exemplo da Suiça, Noruega, Suécia, Alemanha dentre outros.
“Vamos parar e pensar antes de expressar frases como: Você não tem mais idade para isso”

Interessante abrir um parêntese para falar sobre como o idoso é visto no Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria, a cultura do idoso oriental têm como tradição cuidar bem e reverenciar os idosos, fruto de aspectos milenares em que dignidade e respeito são valores cultuados por eles.

Vamos parar e pensar antes de expressar frases como “Você não tem mais idade para isso”, “Você não aparenta ter essa idade”, “Depois de certa idade”, “Você está bem/ bonita para sua idade”, dentre outras; que só tem como finalidade colocar as pessoas para baixo.

E para concluir, compartilho que essa semana em que vi meu padrinho partir com 77 anos e também celebrei os 60 anos de uma amiga querida, pude trocar com minha amiga desde a adolescência várias coisas importantes sendo uma delas a reflexão relacionada ao fato de que quanto mais avançamos na caminhada da nossa vida devemos buscar sabedoria para nos adaptar aos diferentes ciclos e momentos de nossas vidas, simplificar nossa vida como um todo inclusive avaliando sobre o que precisamos e o que não precisamos material e espiritualmente em nossas vidas e lutar para manter ao máximo nossa autonomia e independência.

Abraços e boas reflexões para todos. Como diz Oswaldo Montenegro “Se puder, envelheça”: .... ficar velho é sacar nossa própria desimportância”. Algo importante de pontuar em um mundo onde as pessoas têm uma vaidade, arrogância e falta de sabedoria implacáveis e destrutivas para consigo e para com os outros.

* Advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Mais informações no site

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