19 de março, de 2024 | 11:00

Opinião: A donzela, o tear e as sombras...

Nena de Castro*


Com a alma “lavada e enxugada” por ter feito dois eventos no sábado, contando histórias pela manhã para Chefes de Lobinhos de diversas cidades que se reuniam em Fabriciano e por ter animado a festa de lançamento do livro de Patrícia Belo no Shopping, eu me sinto profundamente agradecida a Deus e aos médicos Mauro Oscar e Rafael Gramigna Barros. Esse último é um reumatologista que me receitou medicamentos certeiros para tirar os restos dos efeitos da Chicungunya do meu corpo. Já o endocrinologista Mauro Oscar me virou pelo avesso e descobriu que estou com problemas de tireoide e uma inflamação no corpo todo e tome um mix de vitaminas e injeções nas “nádegas da bunda”, dói, mas o efeito é bom. Deus abençoe os dois e a todos os médicos que se dedicam a minorar as dores de seus pacientes! O nosso causo de hoje é sobre um peregrino que tinha repetidamente o mesmo sonho: nele, via uma donzela com lindos cabelos longos assentada diante de uma tapeçaria colorida na qual bordava cenas de um mundo que não era o seu, o qual ele não compreendia.

Tão fascinado estava pela dama que veio de suas terras longínquas, até Camelot. Jurara não voltar sem contemplar a formosa mulher pelo menos uma vez... Tênues raios de sol infiltravam-se nas espigas de grãos dourados onde se ocultavam as fadas. Ao entrar no bosque, não devia ouvir os ruídos dos carvalhos nodosos nem se distrair se encontrasse alguém para não virar presa do encantamento dos elfos ou se envolver nas travessuras dos pixies e duendes.

Nas cercanias da cidade dois camponeses lhe falaram sobre ela, que vivia na parte mais alta do castelo onde pousavam as andorinhas e pardais; seu vulto era visto, mas ninguém via o que ela tecia, eram cenas apresentadas por seu espelho azul encantado. Não deveria tentar chamá-la, poderiam haver consequências no mundo mágico. Disseram que ela fiava sem repouso, noite e dia, que tramava um tecido destinado a vencer a morte.

O universo da donzela se desdobrava em três: o primeiro, era a existência que transcorria lá embaixo, o outro, a imagem azul que se invertia no espelho e um terceiro, era a cena que ela interpretava sobre a superfície do tear. Então, ela unia os dois universos e criava o terceiro, uma cidade ilusória, unindo o cosmo ao embalo dos trigais parcialmente ocultos pelas brumas. Um dia a dama descobriu-se doente de sombras, abandonou o tear, a meada e o fuso e começou a andar em círculos em seu quarto, chegando até a janela. Viu um cavaleiro galopando com sua armadura e lança e ao se voltar, o espelho se partiu em mil pedaços. Correu para fora de sua morada, entrou em uma embarcação e navegou contra a borrasca, enquanto o vento fazia tremular seu manto branquíssimo. Então virou a sombra de sua sombra e o peregrino que a chamava, não conseguiu alcançá-la. Suas tapeçarias, com desenhos inteligíveis, jaziam junto ao tear, em meio a vidros estilhaçados. E o peregrino retornou, tristonho, para suas terras distantes... (Baseado no conto "A DAMA DE SHALLOT" DE Martha Robles)

* Escritora e encantadora de história

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