07 de abril, de 2024 | 11:00

Faltou chuva nos últimos anos no Vale do Aço?

Flávio Baroni *


É senso comum entre as pessoas e muito facilmente perceptível que a vazão de cursos d’água e nascentes vêm apresentando cada vez menor quantidade de água, com vários casos em que as mesmas chegaram a se extinguir.

Todavia, apesar desse cenário adverso, a quantidade de chuvas tem permanecido estável ano a ano, o que leva a seguinte reflexão: o que está provocando essa redução hídrica? Há um conjunto de fatores que levam a este cenário.

Para facilitar a compreensão, cada 1 mm de chuva significa 1 L de água por metro quadrado, ou seja, se em um determinado ano houve 1.354 mm de chuva, isso significa que choveu 1.354 L/m2. Se a pessoa reside em um lote com 300 m2 de área, choveu sobre esse lote 406.200 L. Esse cálculo básico do balanço hídrico é interessante para a população compreender a importância da gestão dos recursos hídricos, priorizando construções que visem reduzir o pico de vazão (que interfere diretamente em inundações em áreas urbanas) e/ou promover a infiltração de água no solo, a qual é a responsável pela manutenção das nascentes. E mesmo em áreas rurais, medidas podem ser tomadas para reduzir o pico de vazão e favorecer a infiltração da água no solo, pois é essa infiltração que alimenta as nascentes ao longo do período sem chuvas.
"“Apesar da precipitação média estar mantida anualmente, há uma irregularidade acentuada na distribuição da chuva ao longo do ano”


Apesar da precipitação média estar mantida anualmente, há uma irregularidade acentuada na distribuição da chuva ao longo do ano. À título de exemplo, enquanto no período de novembro de 2021 a fevereiro de 2022 houve precipitação de 1.402,6 mm em apenas 4 meses, os meses de abril de 2022 a outubro de 2022 registrou apenas 108 mm (em 7 meses). Os dados dos últimos 3 anos foram tabulados pelo Cefet-MG campus Timóteo, sob orientação do prof. Flávio Barony juntamente com alguns estudantes. Paralelamente são monitorados alguns parâmetros da qualidade da água em cursos d’água do município.

Elaborado pelo CEFET-MG campus Timóteo a partir de dados da Estação Automática do INMET localizada em TimóteoElaborado pelo CEFET-MG campus Timóteo a partir de dados da Estação Automática do INMET localizada em Timóteo

Independentemente dos motivos dessa distribuição irregular, seja por causas naturais ou aquecimento global, a questão central é que os impactos no dia a dia são mais reincidentes, com várias ocorrências de inundações e outros problemas de drenagem em áreas as quais não apresentavam histórico de inundações. É uma interação cíclica entre os fenômenos: longo período sem chuva implica em maior vulnerabilidade quanto a incêndios florestais, o que alimenta o ciclo da degradação, pois menos florestas implica em menor capacidade de retenção de água no solo (diminui a recarga das nascentes) e aumenta o escoamento superficial (enxurradas), além de carrear o solo para o próprio sistema de drenagem, diminuindo a capacidade de vazão das redes de drenagem (tubulação) e dos córregos.

Todo estudo do comportamento hidrológico requer a análise a partir de uma série de dados histórica (20 anos ou mais) e com cálculos mais aprofundados para serem mais conclusivos, mas os números já levantados apontam alguns indicativos e a necessidade de medidas mitigadoras de problemas públicos. Inclusive, alguns estudos apontam que vários desastres ambientais estão mais associados à negligência ambiental por parte do Poder Público e a população (edificações em áreas de risco, por exemplo), do que para um desastre natural em si.

* Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental e Microbiologia Aplicada, mestre em Engenharia Civil, Professor de Biologia/Ciências no Estado de MG e professor no Cefet-MG campus Timóteo.

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

07 de abril, 2024 | 12:35

“Excelente artigo! Parabéns! Já estou enviando para o meu colega, Professor de Sustentabilidade.
O Professor Flávio Baroni, autor do artigo, é o mesmo Professor Flávio Barony, orientador da pesquisa? Se for, ficou parecendo com as entrevistas do Pelé, que falava de si mesmo na terceira pessoa.”

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