09 de abril, de 2024 | 11:00

Educação dos filhos: dores, amores e desafios

Elivete Ribeiro *


Há muito somos bombardeados por inúmeros posicionamentos nas mídias sociais, acerca de uma educação ideal, muitas vezes sem fundamento algum, num discurso de educação positiva, reflexiva, libertadora, consciente, enfim vários nomes para dizer sobre o que é certo ou errado fazer ao educar o filho. A verdade é que essas informações soltas, descontextualizados, têm gerado mais insegurança ou muita confusão na cabeça dos pais. Não é raro os pais acreditarem que a criança pode tudo, que não podemos falar NÃO ou frustrá-la, que temos de satisfazer todas as vontades dela para que não fique traumatizada.

A ideia solta de uma educação dialogada e reflexiva acaba gerando o entendimento de uma educação permissiva, pais inseguros e, muitas vezes, reféns dos filhos por medo ou culpa. E nenhuma teoria educacional prega uma educação sem limites. Pregam sim, presença, participação efetiva na vida dos filhos, acompanhamento diário, muito amor e muita firmeza. E o reflexo dessa educação tem surgido como um retorno para a sociedade. Somos espectadores de uma sociedade cada dia mais egoísta, mais intolerante, pouco humana e muito violenta. Intolerância religiosa, política, de gênero, cor da pele, ideias, intolerância, intolerância e intolerância. Chegamos ao cúmulo de ter de separar torcidas num evento esportivo para poupar a vida das pessoas. Daqui a pouco assistiremos aos espetáculos esportivos na modalidade virtual porque até numa única torcida, as pessoas têm gerado graves conflitos causando danos irreparáveis ao patrimônio e pior, à vida de muitas pessoas.

“A educação do seu filho não pode ser baseada em recortes de outras experiências”


E temos alguns dados alarmantes: Segundo a OMS (set/23) … no Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios todos os anos - uma média de 38 pessoas por dia, sendo a quarta causa de morte entre jovens entre 15 a 29 anos.

Os dados do IBGE/23 nos mostram que metade das pessoas que se casam, se divorciam nos primeiros 10 anos. Agora temos também o fenômeno da “Geração Canguru”, no qual os filhos demoram mais tempo para sair da casa dos pais, o que impacta diretamente nas finanças da família. Adolescência estendida?

E tem mais… Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS - Abril/23) apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população. Há também um enorme alerta sobre a saúde mental dos brasileiros, já que uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida. E isso atinge crianças, jovens e adultos do Brasil e do mundo.

As escolas vivem como se estivessem com uma bomba na mão. Primeiro, por não saberem se se protegem de ações criminosas de jovens que as invadem para atirar de forma indiscriminada, ou agridem os educadores e colegas de forma verbal, on-line ou fisicamente. Segundo, por receio dos pais que burlam regras, omitem ações e se sensibilizam por qualquer atitude mais severa que coloca o filho em cheque. Isso tem gerado uma supernotificaçao, ou seja, qualquer desvio da criança gera um excesso de ações por parte dos pais, que muitas vezes buscam justificativas pela própria ausência deles na educação dos filhos. E surge um excesso de relatórios, laudos e registros, nem sempre com aprofundamento da situação ou com a presença de todos os profissionais capacitados a serem envolvidos. O desespero de alguns pais os faz acreditar que ter um documento formalizado, passa a ser um trunfo nas mãos deles, com a finalidade de justificar situações que poderiam ser contornadas com limites e cumprimento de regras. Isso se confirma pelo excesso de laudos que uma escola recebe ao final do ano, a fim de poupar os alunos da frustação da reprovação, quando na verdade, caso necessário, deveriam ser entregues no início do ano, para servir de acompanhamento processual do desempenho do aluno. E olha que um laudo, quando bem elaborado, com os especialistas envolvidos na demanda, com definições claras sobre o problema e orientações personalizadas para o diagnóstico, é um excelente apoio ao trabalho pedagógico para a escola. Minha crítica é para o excesso deles, às vezes sem atender aos critérios exigidos pelos órgãos competentes, atendendo ao clamor insistente da família.

Atualmente, além de conhecimentos Pedagógicos, as escolas, no entendimento de muitos, precisam se aprofundar em saúde mental como se fosse da área da saúde e em direito para se cercarem dos processos diários vividos em situações corriqueiras, como se estabelecesse uma “briga” entre escola e família. A judicialização educacional, muito pertinente em várias situações, acaba sendo submetida, também, a barbáries, a exemplo da utilização do tempo de um juiz para analisar um processo no qual um pai julga arbitrária a ação de um professor que recolheu o celular de um aluno que utilizava-o durante a aula, mesmo diante das regras da escola e dos insistentes pedidos para que o aparelho fosse guardado.

Que demonstração de cidadania e respeito à escola esse pai deu ao filho? Há que se indagar. Quem realmente está doente e precisa de tratamento? Os filhos? Os pais? A sociedade como um todo? Qual a causa de tudo isso? E quais as consequências? Onde vamos parar? Os currículos já vêm sofrendo tantas alterações e inserções de conteúdos socioemocionais que daqui a pouco serão extintos os conteúdos acadêmicos. Não que os conteúdos socioemocionais não sejam importantes, mas porque a necessidade de trabalhá-los está sobrepondo cada vez mais à necessidade dos conteúdos curriculares. Tem de sobrar tempo para ensinar a sentar, respeitar, comer de boca fechada, fazer higiene, sentar-se à mesa, cumprir obrigações, respeitar o próximo, trabalhar em equipe, usar o celular, fazer dever, ceder a vez ao outro, entender que o mundo não gira em torno do próprio umbigo. De vez em quando se ensina matemática, história, física…

Hoje, praticamente uma indústria da saúde e educação é mobilizada para se alcançar sucesso no desempenho escolar de muitos alunos: são especialidades e especialistas das áreas da saúde e educação que, diante do sofrimento dos pais se empenham e desvendar os motivos do fracasso escolar dos filhos. Há aqueles que realmente necessitam de uma intervenção? Sim. Mas há também aqueles que se acostumaram a ter quem resolva tudo por ele. Aqueles que não desenvolveram a autonomia e a capacidade de resolver conflitos ou dificuldades. Que tiveram sempre uma educação terceirizada e não aprendeu a caminhar sozinho.

Em paralelo, o mercado de trabalho tem recebido os frutos dessa educação moderna, tendo que investir muito na formação dos novos entrantes que chegam tecnicamente preparados, mas despreparados para o cumprimento de regras, horários e aceitação da hierarquia, além de não suportarem frustrações, pressões e não tolerarem o tempo para crescerem na empresa. Tudo é para ontem e do jeito que querem.

Não é raro hoje em dia um jovem chegar para uma entrevista acompanhado pelos pais. Que nome damos a isso? Nem sei. E não é à toa que muitas empresas têm buscado um perfil de colaborar mais experiente ou com idade superior a 50 anos.

Será que saímos de uma educação tradicional conservadora e, na busca por uma educação mais libertadora, não nos perdemos e estamos gerando uma sociedade despreparada, inconsequente e mimada? Não seria importante refletirmos sobre a educação que estamos dando a esses jovens?

Você pai, tem clareza de suas expectativas para a formação pessoal do seu filho e está agindo com ele, diariamente, de forma coerente para o alcance das suas expectativas? Ou está focado em oferecer a ele a melhor escola e ok, como se estar numa escola boa fosse suficiente para formar um cidadão. Além disso, há um consenso sobre o como educar entre os pais ou responsáveis pela criança ou jovem? Ou cada um segue o que acha que deve fazer?
“Não é raro hoje em dia um jovem chegar para uma entrevista acompanhado pelos pais. Que nome damos a isso?”


Não adianta esperar ou deixar para depois. O futuro do seu filho já começou desde a vida intrauterina e se desenha todos os dias, como um vaso nas mãos do oleiro. Se quiser um filho bem resolvido, autônomo, íntegro e socioemocionalmente preparado para a vida, você também precisa se preparar, ser um bom modelo, abrir mão de algumas coisas para se fazer presente e ocupar o seu espaço de pai/responsável por ele. Terceirizar a educação dos filhos de variadas formas, estar pronto para os bons momentos e para as fotos, dar tudo o que seu filho quer, mesmo sem condições, não lhe capacita como pai. Cada vez mais as crianças necessitam de presença, de olho no olho, de bons modelos e a família ainda é a primeira instituição a cuidar da formação delas. Seja o oleiro da educação dos seus filhos, acredite em suas crenças e valores, capacite-se com fundamentação. A educação do seu filho não pode ser baseada em recortes de outras experiências porque cada experiência tem um contexto, uma história. Seu filho é único e espera de você uma educação única e personalizada. E saiba, o tempo que você deixa de se dedicar ao filho está sendo ocupado por alguém, provavelmente alguém que se conecta com ele de verdade, mesmo que para o mal. Seja você mesmo, acredite em seus valores, ressignifique-se e seja forte e firme no seu propósito de ser um paí/mãe que faz a diferença. Trabalhe para que seus filhos sejam pessoas melhores para a sociedade e não viva a doce espera de uma sociedade melhor para o seu filho. Mãos à obra! O barro não pode se moldar por si só; ele precisa confiar nos sonhos e na sensibilidade do oleiro para se tornar algo.

* Pedagoga, educadora parental, autora de ConSerto para a Juventude - os pais no comando - consultora de pais e instituições de ensino. @eliveteribeiroconsultoria

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

09 de abril, 2024 | 19:15

“Excelente! Parabéns! Obrigado!
Em 42 anos dedicados ao Magistério, todos em salas de aulas, de uma coisa tenho certeza, as famílias mudaram muito em relação à educação dos filhos, e, na minha humilde opinião, em geral, para pior. Acredito que seja por medo de errar e de gerar algum trauma nos filhos.”

Vilma Zeferino

09 de abril, 2024 | 17:15

“Parabéns, Elivete.
Que esse seu trabalho lhe traga os melhores frutos.
Nosso sonho de cidadãos emocionalmente equilibrados sem deixar de dar importância aos "conteúdos".
Sucesso nesse caminhar!”

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