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24 de abril, de 2024 | 00:01

Violência não letal: um mal silencioso

Melissa Paula *


A violência não letal, aquela que não culmina em morte, não para de crescer no Brasil. Entre 2018 e 2022 houve um aumento de 19% nas ocorrências de todos os tipos de violência não letal, entre elas a violência patrimonial, sexual, física, psicológica e moral. E a estatística fica ainda pior. Se contabilizarmos a última década, chegamos ao impressionante crescimento de 92% no número de ocorrências. Seria a violência não letal um mal silencioso do Brasil?

Fato é que as violências que possuem um fim mais trágico chegam ao noticiário de forma mais incisiva, mas também precisamos falar sobre os traumas comportamentais que as mulheres que sofrem algum tipo de violência carregam consigo. As cicatrizes, sejam elas visíveis ou não, também moldam o comportamento de uma sociedade que convive diariamente com vítimas da violência patrimonial mesmo sem saber.

De acordo com o estudo do Instituto Igarapé, a violência patrimonial é a que mais tem crescido. A cada 100 mulheres, 6 sofreram com violações relacionadas a bens e finanças em 2022. São milhares de mulheres que tiveram seus bens destruídos, recursos econômicos furtados, controlados e restringidos. E eu já fui vítima disso.

Curiosamente, quando se trata de violência, essa é uma das últimas formas de violação que lembramos, mas que é capaz de aniquilar perspectivas de uma reconstrução de vida segura e de seguir adiante de forma digna. Se as pessoas soubessem que esse tipo de violação que elas sofrem também é enquadrado enquanto violência contra a mulher, os números seriam ainda mais alarmantes. E isso também é nosso papel.

Eis o meu veredicto: a violência patrimonial é uma entrada para a violência física. Pelo ‘patrimônio’ tira-se a segurança. O mexer com o psicológico a partir do controle das conquistas e recursos que podem tornar uma mulher independente é uma das primeiras violações que os agressores cometem contra nós. E daí a mulher se vê sem apoio, sem teto, sem o acesso a direitos básicos. Sem moradia, higiene, saúde. Sem confiança e recursos - ficam vulneráveis -, o que por si só já é alarmante.

Em seguida, novos tipos de violência passam a fazer parte da relação. Com a mente e recursos aniquilados, fugir desse tipo de situação parece como a saída de um labirinto. O caminho para facilitar esse percurso, então, passa pela publicidade dos fatos. Pela ampla divulgação desses casos, que até então não são conhecidos pela maioria dos brasileiros. É por fazer conhecer que a violência contra a mulher é combatida. E que exista encorajamento, combate, luta e vitória.

Que existam comissões parlamentares efetivas, que existam pessoas dispostas a falar sobre o assunto e verbas direcionadas à reconstrução dessas mulheres em cada canto do país. Que o público, o privado e a sociedade civil estejam alinhados em como combater esse mal sistêmico que é a violência contra a mulher no Brasil.

* Empreendedora, palestrante e âncora do Programa Saber Viver

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