08 de junho, de 2024 | 12:00

Mais que uma profissão

Wanderson R. Monteiro *


Existe um ditado popular que diz que “o trabalho dignifica o homem”, e certamente assim é; o trabalho nos traz responsabilidades, nos ensina a ter disciplina e, com isso, pode nos legar um bom nome e dignidade. Contudo, a importância do trabalho em nossas vidas vai além da responsabilidade e da disciplina, influenciando nossa identidade civil e pública. Quantas vezes somos identificados pela profissão que exercemos, independentemente de sermos professores, pedreiros, lavradores, advogados ou médicos? Porém, a profissão, embora significativa, não define a totalidade de quem somos como indivíduos, ou, pelo menos, não deveria se resumir a tudo aquilo que somos.

Ainda que o trabalho tenha um papel central em nossas vidas, ele não esgota nossa identidade. Todas as pessoas são multifacetadas e surpreendentes em habilidades e características. Como exemplo, podemos citar o carpinteiro, que mais tarde se tornou um mestre da sabedoria universal, mostrando que somos mais do que nosso emprego, e que temos capacidades, desejos e aspirações, que vão muito além daquelas esperadas em nossa área de trabalho e atuação.

Ainda no exemplo citado, seguindo a ideia que nós não nos resumimos às responsabilidades e conhecimentos provenientes de nossa profissão, vejamos aquele que, provavelmente, é o “carpinteiro” mais conhecido de toda a história da humanidade. O carpinteiro aprendeu carpintaria com seu pai e religião com sua mãe, e embora fosse conhecido como "o filho do carpinteiro", sua verdadeira identidade transcendia em muito esse título. Aos doze anos, já surpreendia os maiores sacerdotes com sua inteligência e conhecimento e, na idade adulta, dedicou-se a ensinar sobre a vida feliz e bem-aventurada, e sobre como viver uma vida que agrada verdadeiramente a Deus.

O carpinteiro falava e ensinava sobre agricultura, construção, economia e religião, demonstrando um vasto conhecimento que ia além de sua profissão inicial. Sua trajetória prova que o trabalho é uma parte significativa de nossas vidas, mas não é a totalidade de nosso ser. Não devemos permitir que nosso trabalho nos defina inteiramente ou julgar as pessoas apenas por suas ocupações. Todos temos a capacidade de ser mais do que imaginamos, desde que nos dediquemos a conhecer e desenvolver nossas várias habilidades e interesses.
“O verdadeiro valor do trabalho, além de ser a base de nosso sustento, está em como ele contribui para o desenvolvimento de nossa identidade e dignidade”


O verdadeiro valor do trabalho, além de ser a base de nosso sustento, está em como ele contribui para o desenvolvimento de nossa identidade e dignidade, mas ele não deve ser a única medida de nosso valor. Devemos nos esforçar para enxergar além das profissões e reconhecer o valor intrínseco de cada indivíduo, suas habilidades únicas e suas contribuições diversas para a sociedade. Ao fazermos isso, podemos começar a ver as pessoas em sua totalidade e valorizá-las pela completude de tudo aquilo que elas são.

Em uma sociedade cada vez mais definida por títulos e ocupações, a frase "o trabalho dignifica o homem" ainda se apresenta como uma lição valiosa e importante mas, em muitas circunstâncias, a frase não abarca a totalidade das capacidades e meios de ação que possam ser possuídos por uma pessoa. Como pode ser exemplificado na vida de Jesus, nossas habilidades e conhecimentos vão muito além do que fazemos para ganhar a vida.

Assim sendo, devemos valorizar o trabalho, sem dúvida, mas também reconhecer e cultivar outras dimensões de nossas vidas e de nossas habilidades que vão muito além de nossas funções diárias.

* Autor do livro “Cosmovisão Em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”. (São Sebastião do Anta - MG)

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

08 de junho, 2024 | 13:17

“A frase, "O trabalho dignifica o homem", pode até ser considerado um ditado popular e/ou religioso, mas pelo pouco que ainda sei, é de Max Weber. Tem também a do portão de Auschwitz: "Arbeit Macht Frei" ("O trabalho liberta").
Sugestão de leitura, inclusive para o jovem articulista, caso não tenha lido ainda: "É Isto um Homem?", de Primo Levi.”

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