09 de junho, de 2024 | 10:00

Aumento de cobertura vacinal parte da desconstrução da onda negacionista de desinformação, diz médico

Tomaz Silva/Agência Brasil
Neste Dia Mundial da Imunização, principal meta do Brasil é tenta retomar patamar de vacinaçãoNeste Dia Mundial da Imunização, principal meta do Brasil é tenta retomar patamar de vacinação

Matheus Valadares

O Brasil sempre foi um país exemplo quando o assunto é vacinação, devido ao Programa Nacional de Imunização (PNI). Com uma ampla carta de vacinas e campanhas ao longo de todo o ano, o programa disponibiliza 48 imunobiológicos gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 31 vacinas, 13 soros e quatro imunoglobulinas. Os imunizantes do Calendário Nacional de Vacinação contemplam todas as faixas etárias e garantem proteção contra doenças que vitimaram milhares de pessoas nas décadas de 1960 e 1970, como a varíola, tuberculose, poliomielite (paralisia infantil), sarampo e rubéola.

No ano de 2021, após analisar os dados de vacinação no Brasil, o Observatório da Atenção Primária à Saúde da associação civil sem fins lucrativos Umane concluiu que o país atingiu a menor cobertura em um período de 20 anos. A média nacional ficou em 52,1%. No ano passado, o governo federal divulgou que oito vacinas recomendadas do calendário infantil apresentaram aumento nas coberturas vacinais, segundo dados preliminares do Ministério da Saúde para janeiro a outubro de 2023, quando comparado com todo o ano de 2022.

No entanto, essa mudança de perfil das pessoas quando se trata de imunização tem preocupado. O governo de Minas divulgou que, no estado, houve queda significativa nos índices de cobertura vacinal desde 2015. Entre os diversos fatores, destacam-se a desinformação, a divulgação de notícias falsas e a dificuldade de conciliar o horário de trabalho com o de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Neste domingo (9), data que é celebrado o Dia Mundial da Imunização, Márcio Castro, médico infectologista que atua no Vale do Aço, reflete sobre os riscos, motivos e possíveis soluções a respeito da queda de adesão às vacinas.
“De fato, observamos que mais ou menos de 2016 a 2022 houve uma queda assustadora dos níveis de imunização. Essa é uma questão complexa, acho que há no mundo inteiro. Parte de um movimento de desinformação, de desconstrução da ciência, negacionismo científico que abrange outras áreas além dessa. Isso envolve inclusive algumas pessoas da saúde. Isso torna um corpo maior com políticos sem compromisso com a saúde pública, sem noção de saúde pública, essa questão coletiva que é o maior impacto da imunização e aliado de um negacionismo muito forte. Acho que essa soma de questões contribui para essa queda assustadora das taxas de vacinação no país”, aponta o profissional.

Arquivo DA
Para o médico infectologista Márcio Castro, a baixa procura pela imunização é uma questão complexa que atinge o mundo inteiroPara o médico infectologista Márcio Castro, a baixa procura pela imunização é uma questão complexa que atinge o mundo inteiro
Esperança

Porém, os dados apresentados pelo Ministério da Saúde no fim do ano passado trazem esperanças ao médico. “Vale ainda ressaltar que, no último ano, começamos a ver uma nova tendência de aumento da vacinação, um dado importante que traz esperança que a gente retome aquele padrão exemplar de vacinação”, afirma.

Para Márcio, o aumento da imunização passa pela ação de “desconstruir essa onda negacionista de desinformação, de rede de WhatsApp e mídias sociais pregando coisas estúpidas, absurdas e que fere a saúde pública", e reconstruir uma cultura de saúde coletiva, de valorização do SUS.

Vacinação em crianças

A baixa cobertura vacinal em bebês e crianças tem sido uma preocupação constante do governo brasileiro, de órgãos de saúde internacionais, das sociedades científicas e das organizações não governamentais. Márcio diz que governo e pais têm responsabilidades em manter a caderneta de vacinação em dia nos pequenos.

“A saúde, desde a Constituição, é dever do Estado. Ele tem que gerar todos os recursos possíveis para garantir a imunização de todas as crianças. Isso vai desde pesquisa, produção, compra, distribuição e fazer com que chegue na ponta. Fazer campanha, incentivar e cobrar. O pai tem responsabilidade de garantir ao filho aquilo que é melhor. Por exemplo, se você está de carro, a criança tem que estar no banco de trás com cinto e cadeirinha, não é? São regras. Idem para a vacina. Não interessa se o pai quer ou não quer, se ele é a favor ou contra a vacina, é a segurança dessa criança. É obrigação legal e moral do pai vacinar os seus filhos”, ressalta o infectologista.

PNI

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi institucionalizado em 1975, por determinação do Ministério da Saúde, com o objetivo de coordenar as ações de imunização em todo o país.

Em Minas, os índices vacinais da covid, dengue e influenza estão abaixo da meta estipulada pelo Ministério da Saúde, que é de 90%.

Foram aplicadas 3.997.033 doses da vacina contra a gripe em Minas Gerais, o que representa 42,59% de cobertura vacinal.

A cobertura vacinal contra a covid está em 87,02% para duas doses da vacina monovalente, 55,91% para três doses e 19,34% para quatro doses. A vacina bivalente foi aplicada em 23,34% do público-alvo no estado.

Já a cobertura vacinal de proteção contra a dengue, entre crianças de 10 a 14 anos, está em 53,12% para a primeira dose, em relação ao distribuído.

As vacinas estimulam o sistema imunológico a proteger o indivíduo contra doenças preveníveis pela vacinação. Quando adotada como estratégia de saúde pública, elas são consideradas um dos melhores investimentos em saúde considerando o custo-benefício, uma vez que estão disponíveis de forma gratuita nas UBSs de todo o estado.

Em caso de perda ou extravio do cartão de vacinas, o cidadão deve ir à Unidade Básica de Saúde em que recebeu as vacinas ou em outra UBS do estado e solicitar a segunda via do documento. O cartão comprova a situação vacinal do indivíduo e é importante guardá-lo junto com os documentos pessoais.

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Comentários

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Zé Doido

10 de junho, 2024 | 12:41

“Parabéns ao doutor Márcio, um incansável lutador na área médica, principalmente no que tange à infectologia e trabalhos realizados junto aos mais carentes.
Viva a Ciência, viva o conhecimento, vacinas salvam vidas!

#VacinaSim
#NegacionismoNão”

Gildázio Garcia Vitor

09 de junho, 2024 | 21:55

“Se alguém merece os louros desta vitória de Pirro, são os meios de comunicação, que têm mais crédito junto à população que os governos.
Uma entrevista com a Doutora Carmelinda, sobre vacinação convenceu uma colega de trabalho* a tomar as primeiras vacinas para a Covid-19 e todas as outras que estavam muito atrasadas, duas há mais de dez anos.

*Trabalho em Escolas pública e privada. Sem comentários, né?! Obrigado!”

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