16 de junho, de 2024 | 10:00

Uso excessivo de telas prejudica o desenvolvimento e a linguagem das crianças

Zune Patrícia Martins Sahb *


Um estudo australiano publicado no Jama Pediatrics mostrou que, quanto maior o tempo de exposição da criança às telas, menos ela conversa e interage com os pais, o que causa impacto negativo no desenvolvimento infantil. A interação com os pais é fundamental para que a criança se desenvolva adequadamente, aumente seu vocabulário e crie laços emocionais, que são importantes para a socialização e o desenvolvimento intelectual, de linguagem e de aprendizado.

Informações divulgadas pela Agência Einstein mostram que 220 famílias com filhos de 1 ano foram acompanhadas até as crianças completarem 3 anos. A notícia afirma que “no início, o tempo de exposição às telas era de cerca de uma hora e meia por dia, mas com o passar dos anos foi aumentando gradativamente até chegar a quase três horas. Perto dos 3 anos de idade, cada minuto a mais nos dispositivos digitais significou menos 6,6 palavras emitidas pelos pais, menos 4,9 vocalizações dos filhos e uma interação verbal a menos com os adultos”.

Tudo em excesso é prejudicial e com as telas não é diferente. Para crianças pequenas, como mostrou o estudo, o principal prejuízo é a falta de interação e socialização da criança. A criança passa a não se comunicar verbalmente, se torna agressiva e dá birras quando a tela é tirada dela porque estar sem o estimulo gera desconforto. Isso é frequentemente confundido com o Transtorno Opositor Desafiador (TOD), mas em muitos casos, a causa desse comportamento é o uso excessivo de telas.

No caso de crianças maiores, que já frequentam a escola, os prejuízos aparecem também na socialização, já que a criança que não consegue se expressar ou ser compreendida, se frustra e se isola. Nesses casos, os pais devem buscar ajuda de neuropediatra para tentar o fechamento de um diagnóstico com exames e encaminhamento para psicólogos, psiquiatras e psicopedagogos.
“O uso exagerado de telas prejudica a socialização e a comunicação da criança, além de causar mudanças de humor, atrasos cognitivos e distúrbios no aprendizado”


É um trabalho em equipe da família e da escola para perceber os sinais e buscar ajuda. Os profissionais vão trabalhar para tratar a ansiedade gerada pela quantidade excessiva de estímulos que as crianças têm, junto com a obsessão pelas telas. Nós, psicopedagogos, temos como foco trabalhar na defasagem da aprendizagem porque existe impacto cognitivo e, automaticamente, atraso na aprendizagem. Então, focamos em estímulos corretos para que a criança possa recuperar o que perdeu por causa dos estímulos incorretos.

Impactos no relacionamento entre pais e filhos - Muitos estudos já mostram que o uso de telas pelos pais também causa um distanciamento dos filhos e prejudica a conexão emocional com eles, deixando-os menos responsivos e atentos, o que impacta a comunicação verbal e não verbal, relata o artigo. O uso dos aparelhos pelas crianças cria gatilhos de imediatismo, ligado ao consumo de conteúdos rápidos e superficiais. Quando os filhos estão com os pais eles querem presença integral. Eles iniciam brincadeiras e logo os pais estão em telas, trabalhando ou vendo vídeos. O prejuízo disso é tanto na conexão com a criança como também no risco de o conteúdo ter imagens ou linguagem inapropriadas para as crianças que estão perto dos pais.

Muitos pais ainda não estão atentos para os impactos do uso excessivo de telas, mas precisam começar a perceber as mudanças no comportamento dos filhos, principalmente quanto à irritabilidade e do isolamento. O Governo Federal está trabalhando no Guia para Uso Consciente de Telas por Crianças e Adolescentes e esse é um passo muito importante, mas cabe aos pais buscarem maneiras de estimular o desenvolvimento das crianças longe das telas.

Alguns exemplos são o momento de leitura na hora de colocar para dormir, a construção de brinquedos como pipas, o tempo de qualidade no final de semana com passeios em parques, piqueniques ou visitas a museus, reuniões familiares para compartilhar histórias da infância dos pais e outros. Tudo isso são ferramentas para tirar as crianças das telas, criar conexões, estimular o desenvolvimento das crianças e construir memórias afetivas.

* Psicopedagoga do Espaço Zune

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