16 de junho, de 2024 | 11:00

Marcha à ré e na contramão

Marli Gonçalves *


Marcha à ré, na contramão, em alta velocidade, sem freios. Este é momento em que, especialmente, nós, mulheres, estamos vivendo no país, com assustadores números de feminicídios, violências e projetos aterradores e aterrorizantes. A sociedade está sendo atropelada.

Ah, o país está mesmo sem freios, e agora, ainda por cima, o pior Congresso, o mais conservador, preconceituoso e ignaro dos últimos tempos ainda tenta usar medidas, projetos, PLs, Pecs e pocs contra nós, ameaçando a ordem democrática como se fôssemos nada, apenas uma massa de manobra, e embora maioria, pessimamente representadas nos parlamentos e no Executivo. Minimamente no Judiciário.

Não gosto de escrever irritada, mas nesses últimos tempos assustadores não há como evitar. A aprovação na Câmara, em uma “urgência” silenciosa e anônima que durou 24 segundos, de projeto que equipara o aborto após 22 semanas de gravidez ao crime de homicídio, mesmo nos casos em que a gravidez é resultante de um estupro, e com penas maiores, até 20 anos de detenção, do que as aplicadas ao próprio estuprador, no máximo de 10 anos. Quando o que precisaria estar sendo votado é a descriminalização, luta de décadas.

Os números, para se ter uma ideia: 74.930 pessoas estupradas no Brasil em 2022, 61,4% crianças com até 13 anos de idade, de acordo com o levantamento do Fórum de Segurança Pública. Cada vez mais entraves ocorrendo para a interrupção da gravidez indesejada em hospitais referenciados, mesmo que de acordo com a atual lei vigente, fazendo com que se prolongue ainda mais o horror e a dor, buscando obrigar até – o auge do sadismo – que se ouça o batimento do coração do feto. Proíbem, e buscam atrasar mais a solução para proibir. A alteração na legislação atingirá principalmente as vítimas crianças menores de 14 anos, o maior grupo que necessita, por vários motivos, dos serviços de aborto após esse período, terceiro trimestre. Aqui, além de a nós, mulheres e nossas conquistas, tentam afrontar o atual Governo, aliás, amarrado e imobilizado por tantos acordos para base com partidos que “faça-me o favor!”
Pior é que em tudo, e não é pouco, o que vem se desfazendo, a gente tenha de ficar ouvindo as explicações que vem sendo dadas com a maior cara de pau e pedra, misturando leis, palavras difíceis, alhos, bugalhos, religião, cada uma pior que a outra, causando embaralhamento, tentando mascarar como se fossem boas as intenções e calar a oposição, desorganizada e atônita, com reflexos lentos. Outro exemplo é a tal PEC das drogas, aprovada também esses dias na famigerada atual Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que busca criminalizar porte e uso de qualquer quantidade de drogas. Aqui, tentam afrontar o STF que pode (e deve) votar a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal.
“Houve 74.930 pessoas estupradas no Brasil em 2022, 61,4% delas, crianças com até 13 anos, aponta o Fórum de Segurança Pública”


Quando o que precisaria estar sendo votado é justamente a descriminalização, entre outras medidas de combate, outra luta de décadas.

Não querem resolver problemas, só criá-los, favorecendo claramente a corrupção, com leis que obviamente, como sempre, não serão cumpridas na realidade, por impossíveis. Ouvem cantar o galo em outras paragens e também querem que ele cante aqui, rouco, à direita, tentando acordar o mundo para o que há de pior.

Repito, em marcha à ré, na contramão da sociedade, atropelando o que não vê direito. São muitos exemplos; entre eles, a flexibilização do desmatamento, o sistema prisional, e a expansão da pata pesada da privatização desvairada em todos os campos, como agora também tentam na Educação. Reparem que no blá-blá costumam dizer toda hora que é “para melhorar a gestão”. Ou seja, gestão, o que deveriam fazer, não fazem e querem passar para a frente.
Ruy Castro resumiu assim, em sua coluna na Folha de S. Paulo: "... Nasce um otário por minuto e o ser humano tem uma irresistível tendência a ser tapeado"...

* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo. Vive em São Paulo. [email protected] / [email protected]

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Comentários

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Maria das Graças Batista Lima

18 de junho, 2024 | 13:12

“Dizem que viramos um Irã piorado, onde quem dita as normas femininas ,é bando de machos que fingem desconhecer qualquer avanço das mulheres nos últimos 150 anos.O Brasil piorou , ou melhor o Congresso piorou , quando um deputado Federal fez homenagem ao torturador Brilhante Ustra , e seus colegas do plenário se fingiram de mortos, depois esse mesmo deputado infelizmente se tornou presidente da República.E hoje temos um congresso assustador ditando normas sobre um assunto que cabe apenas , as políticas Públicas de Saúde.”

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