25 de junho, de 2024 | 11:00
ZÉ FOGUIM
NENA DE CASTRO *
Dia, meus cinco queridos leitores! Acordei hoje pensando em fogo. É, fogo, sei lá causa de quê. Talvez porque eu amava ver minha mãe pela manhã, batendo os paus de lenha no fogão após a retirada da cinza do dia anterior, cruzá-los e colocar entre os dois uma porção de gravetos bem finos e acima, gravetos grossos... Palhas de milho secas, o isqueiro e daí a pouco a chama azulada surgia, a fumaça subia, tínhamos fogo! A panela de ferro com água, o mancebo com o coador, o pó de café torrado em casa, as canecas esmaltadas aguardando e o cheiro maravilhoso de café fresco...
Li que os primeiros registros de cozimento de fogo são atribuídos ao gênero Homo há cerca de 2,6 milhões de anos, na África. Acredita-se que o Homo habilis era capaz de produzir fogo a partir de faíscas geradas pelo atrito de rochas. O fato é que o fogo modificou a história da humanidade e progredimos tanto que estamos quase nos destruindo em... uma grande bola de fogo! Assuntem pois nesse causo de um menino chamado de Zé Foguim, que vivia remexendo os paus de lenha no fogão, assoprando, arrumando. Juntava gravetos e fazia fogo no quintal, ou defronte à casinha branca onde morava a família. Colocava brasas no caminhãozinho de madeira feito pelo avô e o brinquedo acabou todo queimado. Andava à noite de bicicleta com uma acha de lenha acesa em uma das mãos e jogava fagulhas pra todo lado. E dava gargalhadas de felicidade. A mãe corrigiu o quanto pôde, mas enfim fez um acordo com o menino: desde que não trouxesse o fogo pra dentro de casa podia brincar lá fora, como quisesse. Ele amava o fogo, brincava com ele, conversava com ele... Isso é coisa de criança, comadre. Quando crescer ele toma juízo e isso passa”- diziam. Então Foguim, cresceu e se casou. A moça e sua família tinham um cirquim mambembe, pequeno, de lona remendada e iam de povoado em povoado, buscando sobreviver. Ele era o cuspidor de fogo, engolidor de facas, fazia números acrobáticos, atuava como palhaço... Cuidava do fogo do lado de fora do cirquinho, onde preparavam as refeições, quando tinham o que cozinhar. Então um dia chegaram a Fabriciano e se instalaram depois do Mello Viana.
O fato é que o fogo modificou a história da humanidade e progredimos tanto que estamos quase nos destruindo em... uma grande bola de fogo!”
Como o dinheiro estava curto, começaram a frequentar o local de resíduo de uma cidade próxima onde a usina siderúrgica descarregava, há muitos anos, os dejetos da sua lida no fabrico do aço; ali recolhiam pedaços de ferro que vendiam ao comércio local. Ocorre que um dia um caminhão despejou por lá uma carga ainda quente, Zé Foguim foi separar as peças, desequilibrou-se e caiu no meio do lixo incandescente, queimou-se gravemente e morreu. Sua esposa e companheiros ficaram muito tristes com a tragédia; decidiram levá-lo para o pequeno circo e fazer o espetáculo da noite na tentativa de ganhar o dinheiro necessário para comprar o caixão e demais despesas do funeral.
Então enrolaram o corpo em lençóis, deitaram-no em um banco, deixando-o na pequena barraca contígua ao circo e deram início ao sofrido espetáculo. Ocorre que pelo meio da função, alguém gritou fogo!” e todos correram para ver o que era.
Os parentes tinham deixado uma vela acesa perto do corpo, o vento levou a chama até a cortina de chita, o fogo se espalhou pelos lençóis e o pobre Zé Foguim teve seus restos consumidos pelas chamas! Eitaaaaaaaaaaaaa!
Não sei se foi o azar ou o fogo homenageando o Zé Foguim! O que vocês acham? Pelo sim pelo não escrevi essa crônica com o extintor aqui perto. Nunca se sabe...
(*) Escritora e encantadora de histórias.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Gildázio Garcia Vitor
25 de junho, 2024 | 13:30Minha querida Bugra Velha, não é de hoje, que você é fogo, fogueira, foguete! Gostei da crônica. Só queria saber se foi baseada em fatos reais.
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer."”