09 de julho, de 2024 | 13:00

A vingança de Olympia

Nena de Castro *

Dia, meus inigualáveis cinco leitores! Isturdia “mes” eu contei que fui à Vitória e em Vila Velha me hospedei no Hotel Olympia, indicado por meu fi grandão. Antão, tudo normal, e como estava com o nariz grudado no Livro do Chico Buarque, só no dia da saída que o povo chama de “checaute”, espiei pra parede à esquerda da recepção e vi, encantada, uma pilastra grega e sobre ela, uma réplica do Partenon, o templo grego que é o símbolo do país dos deuses helenos. Ao lado, em uma mesa, uma cabeça de estátua de deusa grega, toda em branco que fiquei olhando fascinada. - Arráa, hotel Olympia em homenagem a ela, a deusa do mesmo nome, Bugra tonta! Quedei-me em fascinada observação dos detalhes, era cedo, então fiquei espiando aquela belezura toda, tirei fotos e contive a vontade de tocar em tudo, olha a finesse anta velha, sua mãe te ensinou! Aí eu pisquei pra estátua e fiz careta e de repente os olhos dela se abriram, vermelhos e luminosos e maus, saiu uma fumacinha pela cabeça e ela falou de maneira zangada: “ahh, é você Bugra iconoclasta, que não respeita os deuses do Olimpo e vive escrevendo gracinhas a nosso respeito, denegrindo nossa imagem, zombando dos nossos poderes! Zeus te odeia e todos os deuses querem te jogar raios na cabeça, criatura afro-brasileira desprezível”!

- “Ô Dona Olympia, calma aí, ara! Eu só faço isso pra divertir meus cinco leitores, a gente tem que rir, a vida é difícil, nós sofremos muito com nossos políticos que pensam ser deuses que nem vocês, vivem no Olimpo em Brasília, coçam o respectivo o dia todo e fazem nada com coisa alguma pelo povo brasileiro! E depois, acredito é no Deus verdadeiro que se revelou a nós através de Jesus e nem adianta vir com bobice pro meu lado , não!” Ela deu uma gargalhada infernal e assustada olhei pro lado, mas qual, a moça da recepção atendia a um telefonema e fazia anotações, quem vê assombração é só a Bugra mesmo, caramba! Na viagem de volta, trem vazio, tudo tranquilo até que...

Eu na poltrona individual, via deitada na poltrona da esquerda, uma moça ainda bem jovem, loura, bonita. Na frente dela, um senhor e uma mulher, tudo normal. Fui ao banheiro e, ao voltar, percebi que trocavam ideias sobre remédio contra Chikungunya. Então o tal homem, que devia ter uns 60 anos ajoelhou-se em sua poltrona e começou e dizer a ela: “olha, não sei em quem você votou, nem quero saber. Só lhe digo que o povo não sabe o que vem por aí! Daqui a 10 dias, tudo se resolverá. Todas as comunicações do país serão cortadas, vamos ficar sem telefone, sem internet, nada vai funcionar, só as forças armadas terão o controle! Tudo vai mudar nesse país! Tudo será centralizado! Até as prefeituras vão acabar! Vamos ficar livres do Lula, aliás, dos sósias dele, são atores interpretando um papel, preste atenção, cada dia é um ator diferente, tem ora que “ele” fala sem erro gramatical, outra hora só sai batatada, você vê que são pessoas diferentes! Vamos pôr ordem nesse país, o PT vai pagar, sabia que eles nunca ganharam uma eleição honestamente nesses anos todos? Tudo roubalheira e corrupção, tem que fazer como em El Salvador, juntaram os corruptos num salão e todos sairam de lá presos, era tudo ladrão e corrupto! Vamos fazer o mesmo aqui, tudo vai mudar! Os generais Fumacinha e Pinta Braba estão no comando dessa mudança, blá,blá,blá... Moça, essa vacina veio pra matar, a gente vê criança de 10 anos tendo infarte, coisa medonha! Agora na Argentina, entrou um governo bom... Aqui também vamos ter um governo assim, de direita! Esse país vai tomar jeito”!

Como diria mamãe na hora do aperto, “Sagraaaado Coração de Jesus” que bobiçada é essa?
“Eles” ainda creem nisso? Afeeeee! Enojada, cansada de ouvir diatribes, escutei ainda o riso sarcástico da deusa Olimpya! Eu, hein? “Liberdade, abre as asas sobre nós”, Democracia Sempre! E nada mais digo, a não ser que hoje é o décimo dia!

* Historiadora e encantadora de histórias

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço