16 de julho, de 2024 | 15:15
Exposição destaca arte de Yara Tupynambá com as afro-mineiridades
O nome Yara Tupynambá se tornou, ao longo de seus 92 anos de idade e oito décadas de carreira, sinônimo da excelência de Minas Gerais nas artes plásticas produzidas no Brasil. Natural de Montes Claros, a pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora já expôs em diversas cidades do país e no exterior. Agora, uma parte de seu trabalho poderá ser vista no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, em diálogo com o programa Afro-mineiridades”, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. A exposição A valorização e o resgate de nossa cultura”, homenageia a tradição do congado em Minas Gerais, contando com mais de dez obras da série Catopês”, feita pela artista com base na tradição de sua cidade-natal.Os catopês” homenageiam os negros na formação do povo brasileiro, recriando e revivendo a memória e o imaginário congadeiro. A mostra A valorização e o resgate de nossa cultura” será aberta nesta quarta-feira (17), às 18h, e poderá ser visitada entre os dias 18/7 (quinta-feira) e 25/8 (domingo), gratuitamente. A classificação é livre, e o Palácio da Liberdade está aberto à visitação de quarta a sexta-feira, das 12h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.
Reconhecida mundialmente
Nascida em 1932, Yara Tupynambá iniciou os estudos de arte com o pioneiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), em 1950, em Belo Horizonte. A artista é conhecida mundialmente e recebeu inúmeros prêmios, além de contar com mais de 315 painéis e murais espalhados por numerosas cidades brasileiras e trabalhos expostos em capitais internacionais.
Aluna, professora e diretora da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Yara paralelamente se dedicou à gravura, especialmente sobre madeira, preferindo o preto e branco à gama de cores. Seus murais retratam eventos históricos de Minas e passagens religiosas. Já nas telas em acrílico e técnica mista, as pinturas trazem congados, cavalhadas e violeiros, temas referentes à sua adolescência e às andanças pelo interior do estado de Minas Gerais.
Identidade e resistência
Os congados mineiros surgiram no cenário de escravidão no Brasil como o espaço da festa, onde os escravizados poderiam congregar e revitalizar seus valores culturais, mostrando seu desejo de liberdade. Quanto mais a sociedade mineira crescia, mais perceptível era a miscigenação de crenças e povos em seu meio. Apesar da presença de grupos esparsos no Brasil, é na região Sudeste que se concentra o maior número de congados, especialmente em Minas Gerais.
Na memória dos congadeiros dos mais diversos grupos do estado, a tradição do congado chegou a Minas Gerais através de Chico Rei, um monarca africano que foi trazido para o Brasil no século XVIII. Em Vila Rica (atual Ouro Preto), onde viveu, ele conseguiu comprar sua alforria e, através da exploração de uma mina já desativada, acabou encontrando ouro, enriquecendo e comprando a liberdade dos demais negros mantidos cativos na região. Em 1747, o rei-escravizado, grande devoto de Nossa Senhora do Rosário, organizou a primeira festa em homenagem à santa que o ajudou a concretizar o seu sonho de liberdade, com riquíssimo cortejo e farta mesa. A forma de agradecimento se disseminou entre os escravizados e acompanha até hoje as comunidades afro-brasileiras.
O congado passou a ser uma das mais fortes expressões das manifestações culturais e religiosas do povo negro e, em muitas localidades, surgiram grupos autônomos, totalmente desvinculados das irmandades leigas, mas vinculados à fé em Nossa Senhora do Rosário e a outros santos do panteão católico-cristão associados aos auxílios recebidos pelos antepassados durante o período de escravidão. Como expressão litúrgica celebrativa travestida de catolicismo, o congado possibilitava a recriação do universo simbólico desses povos, através da expressão corporal, dos cantos e danças acompanhados pelos sons de instrumentos de origem africana como tambores, maracás e caxixis, fabricados por eles mesmos.
Berço das tradições
O congado envolve um ritual composto por oito irmãos: Candombe, Moçambique, Congo, Caboclo, marujo, os Catopês, Vilão e os Cavaleiros de Jorge. Cada um desses grupos contêm elementos e ritualidades próprias. O Norte de Minas Gerais é palco de um dos mais antigos movimentos socioculturais do estado, com grupos populares do congado manifestando ancestralidade e devotando sua fé, e cujos saberes e fazeres populares, a exemplo da cidade de Montes Claros, remontam ao início do século XIX.
No caso de Yara Tupynambá, os trabalhos sobre o congado criados pela artista, e que estarão na exposição, são dos anos de 1976 a 1978. São obras em telas e em papel, elaboradas a partir de diversas técnicas. Ninguém registrou com tanta propriedade e amor estas manifestações do Norte de Minas como Yara Tupynambá, pois ela as vivenciou desde a tenra infância, o que também coloca a artista como patrimônio imaterial da cultura popular nas artes plásticas”, ressalta o presidente do Instituto & Memorial Yara Tupynambá, Geraldo Porfírio da Silva, genro da artista que a acompanha há mais de 50 anos.
SERVIÇO
Yara Tupynambá - Exposição A valorização e o resgate de nossa cultura”
Data: Abertura no dia 17/7 (quarta-feira), às 18h
Período expositivo de 18/7 (quinta-feira) a 25/8 (domingo)
Horários: De quarta a sexta-feira, das 12h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h
Local: Palácio da Liberdade - Praça da Liberdade, s/nº, bairro Funcionários, Belo Horizonte
Classificação indicativa: livre para todos os públicos; entrada gratuita
Informações para o público: (31) 3236-7400
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