30 de outubro, de 2024 | 09:00

Acordo de Mariana e Vale do Aço

Antônio Nahas *

O novo “Acordo de Mariana” surpreende a todos pelos prazos, cifras e fracassos apresentados. É surpreendente que, apenas após nove anos, e gastos 38 bilhões de reais, os antigos gestores da reparação dos danos daquela tragédia imensa da mineração tenham “descoberto” que os projetos em curso haviam fracassado. A Fundação Renova, executora do antigo acordo, possui mais de 700 colaboradores diretos e, até onde apuramos, quase sete mil indiretos. E, mesmo assim, sua performance não atendeu os objetivos fixados pelos gestores. Basta vermos que o novo acordo inclui ações que já deveriam ter sido realizadas há muito, muito tempo: recuperação das áreas prejudicadas, reflorestamento de 50 mil hectares, recuperação de 5 mil nascentes, restauração de margens e do ambiente aquático. Falta até mesmo retirada adicional de sedimentos da hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), localizada entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado.

Os novos valores também surpreendem: serão aportados mais 132 bilhões de reais pelas empresas. Deste total, 32 bilhões serão administrados diretamente pela Samarco e R$ 100 bilhões, repassados ao poder público, ao longo de 20 anos. Os números revelam a lucratividade e a solidez do setor mineral de Minas Gerais: o reconhecimento de um passivo desta magnitude não abalou as ações das companhias signatárias. Pelo contrário: as ações da Vale se valorizaram. Mostram também que a mineração ainda reserva um futuro promissor para o nosso estado. Serão recolhidos ao BNDES R$ 5 bilhões anuais, por 20 anos. Um atestado de solidez e sobrevivência temporal do setor.

Para nosso estado, onde a mineração sempre foi muito importante, estes valores podem significar o financiamento de projetos importantes, que venham a transformar em riqueza permanente os valores originários da extração mineral.

O ex-presidente Artur Bernardes já afirmava: “Minério não dá duas safras”. Afinal, saem de Minas Gerais todo ano mais de 180 milhões de toneladas de minério de ferro e o futuro deve ser planejado.
“Os números revelam a lucratividade e a solidez do setor mineral de Minas Gerais”


Para isto seriam necessários investimentos estruturantes, em infraestrutura, educação, tecnologia, que apontassem novos rumos para o desenvolvimento do Estado.

Pelo que vimos, por razões políticas, a gestão dos recursos escapou das mãos do Estado de Minas, ficando centralizada no BNDES. Trata-se de uma grande vantagem e uma garantia de qualidade da administração destes valores.

Cerca de 40% do total será destinado à população diretamente atingida, localizada no Vale do Rio Doce. Restarão ainda 60 bilhões de reais, a serem investidos em saneamento, rodovias e investimentos socioambientais. Tudo indica que os projetos serão apresentados por órgãos governamentais, selecionados e aprovados pelo BNDES.

Nesta perspectiva, surge a oportunidade do Vale do Aço também se beneficiar deste acordo, pois estamos no Vale do Rio Doce. Há pelo menos três eixos de desenvolvimento importantes que podem transformar nossa região, que podem se beneficiar. O primeiro deles é a duplicação da BR-381, já licitada, já concedida, em fase de projeto. Mas, como a experiência nos ensina, é necessária forte interação dos municípios com a concessionária e órgãos federais para que os obstáculos que surgirão a cada momento sejam equacionados. Diversos municípios, entre os quais João Monlevade, com o Movimento Pro Vidas na 381 estão vigilantes e participam de reuniões sucessivas na ANTT para ficarem atentos aos planos, projetos, obstáculos, alterações e interações que estão a surgir. Reservar alguma verba para este acompanhamento e interação seria muito prudente.
“O reconhecimento de um passivo desta magnitude não abalou as ações das companhias”


O segundo eixo é o programa Pro Trilhos, que até hoje não saiu do papel. A Petrocity Ferrovias assinou contrato de adesão para quatro ferrovias no país, sendo uma delas entre Ipatinga e São Mateus no Espírito Santo. E até hoje a empresa nem sequer solicitou a licença ambiental prévia, que é o primeiro passo para dar andamento ao projeto. Tudo parado...

Novamente, torna-se importante a busca de soluções. Ferrovias demandam muitos investimentos, construção de pontes, desapropriações e interações com o tráfico urbano. A interação com a Petrocity poderia vislumbrar caminhos e equacionar problemas inesperados.

Por fim, outro projeto importante para o Vale seria a instalação do Campus avançado da UFOP na região, ofertando novos cursos, construindo laboratórios, atraindo pesquisadores, fornecendo apoio tecnológico à nossa indústria. A Prefeitura de Ipatinga já fez a doação de terreno para construção do campus, a qual vence no mês de janeiro do próximo ano.

Enfim: a utilização de recursos do novo acordo para consolidar iniciativas promissores e já em andamento podem nos ser muito útil. O Vale do Aço necessita dessas ações.

* Economista, empresário. Morador de Ipatinga.

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Comentários

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Lourival Coelho de Oliveira

05 de novembro, 2024 | 12:22

“E uma vergonha o valor da indemnização , pelomenos de deveria ser de 150 mil para os pescadores e ribeirinhos.
A mineradora fatura biliões por ano e quer pagar migalhas para as pessoas.
Os advogados tem que tomar as providência sobre esta situação.
Eu acho que este 150 mil ja tava bom de mais e justo .
Esta minha opinião.”

Pedro Henrique

31 de outubro, 2024 | 10:21

“Uma questão que o nobre empresário deixou de abordar foi: por que, após 9 anos, o rio ainda não está limpo? As empresas ganham bilhões anualmente, mas não demonstram preocupação em recuperar a fauna e a flora da região. Sabe por quê? Porque, em sua maioria, os acionistas nem sabem onde fica Minas Gerais no mapa; provavelmente consomem águas das melhores fontes do mundo.

O montante destinado ainda é insuficiente para o tamanho do estrago. Não adianta questionar se determinada pessoa era ou não pescador; todos que vivem próximos ao rio são afetados direta ou indiretamente. E a Vale e a Samarco parecem não se importar.

É fundamental que a população dos municípios atingidos cobre das prefeituras, do estado e da União a aplicação correta dos recursos. Não haverá uma segunda chance.”

Liliane

30 de outubro, 2024 | 21:30

“Não me assusta mais nada nessa vida,só queria entender pq tantas pessoas receberam indenizações por se dizer pescadores,quando de fato nunca foi,e mais como algo q envolve tanto dinheiro não é investigado,Ipaba lugar onde a água foi afetada e a copasa ganhou a causa pq segunda ela não faltou água no Ipaba e pra eu ganhar a causa eu teria q ter foto,tv,manifestacao popular do ocorrido e como não tive nada disso só minha palavra não ganhei a causa.Deixo aqui os parabéns p renova,vale,samarco etc.Por pagar indenizações pessoas q nem foi investigada se realmente foi ou é pescador,e mais a água continua horrivel desde do ocorrido.Gracas a Deus temos os advogados da Inglaterra p nos defender e quanto a este dinheiro da vale pro governo com certeza vai beneficiar muito os politicos pq o povo a ver navios como sempre”

Sidney Pinho

30 de outubro, 2024 | 10:45

“Comentários de muito conhecimento deste economista! explanou o momento do vale do aço, sem paixões politicas.”

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