02 de novembro, de 2024 | 09:00

Perneta na bola, craque nas Letras

João Senna dos Reis *


No auge dos seus 68 anos, o professor Rilson de Sales Bicalho perdeu a batalha para um câncer na bexiga. Nas mensagens de condolências aos familiares, um resumo fiel do modus vivendi de uma pessoa dinâmica e ativa nos mais variados segmentos oferecidos pela vida.

Rilson foi lembrado, por exemplo, como perna de pau do time de veteranos da AER Usipa. Com a ressalva da transformação, no momento da resenha, quando entornava “um mé” e era dos mais falantes e divertidos nas brincadeiras favoritas dos milhões de boleiros desse país.

Outros reverenciaram Rilson com o respeito e a admiração despertadas por um educador, situando-o como um craque no campo das Letras. Sem dúvida, era digno de figurar no universo do professor Pasquale, Dad Squarisi e outros mestres da nossa maltratada Língua Portuguesa. Não se vangloriava dessa situação, sintonizado com o pensamento de Mário Sérgio Cortella: “O conhecimento serve para encantar as pessoas, não para humilhá-las”.

Felizes os leitores do DIÁRIO DO AÇO pela oportunidade de conferir os ensinamentos do Rilson em sua prestigiada coluna, publicada por vários anos.

Como professor de Português e depois atuando na direção, ajudou o Colégio John Wesley a desempenhar um importante papel na formação de jovens e, sobretudo, na consolidação de um polo educacional em uma cidade até então centrada quase única e exclusivamente na produção do aço.
“Sem dúvida, era digno de figurar no universo do professor Pasquale, Dad Squarisi e outros mestres da nossa maltratada Língua Portuguesa”


O reconhecimento do seu trabalho foi atestado posteriormente, ao compor o quadro docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste-MG).

Na década de 1980, Rilson teve destacada participação na vida política. Foi presidente do PMDB Jovem, oferecendo um sólido suporte à formação de um comitê suprapartidário (bons tempos de quando partidos dos mais diferentes matizes se sentavam à mesa para buscar convergências em torno de assuntos relevantes)...

O resultado desse esforço se traduziu no maior comício pelas Diretas-Já realizado nas cidades do interior do Brasil, conforme definição da TV Globo. A emenda Dante de Oliveira, como se sabe, foi derrotada no Congresso. Mas serviu de motivação para uma união nacional em prol do estadista Tancredo Neves e a vitória esmagadora no Colégio Eleitoral, o passo decisivo para o restabelecimento das eleições à Presidência da República pelo voto popular.

Ao longo do nosso relacionamento no Diário do Aço, vez ou outra divergíamos na escolha dos termos adequados em reportagens e artigos de maior peso editorial. Perdi e ganhei em algumas dessas rumorosas, mas saudosas pendengas. Quando em flagrante desvantagem, sempre procurava um empate técnico: Rilson, nada de pegar pesado com o menino de cabelos brancos da sua mãe, a querida Dona Lilá.

E assim as nossas falsas batalhas terminavam com a irreverência proposta pelo saudoso Apparício Fernando Torelli (o falso Barão de Itararé) com um festival de boas risadas.

* Editor do Diário do Aço por algumas décadas

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