04 de fevereiro, de 2025 | 07:00

Socorro, Tupã!

Nena de Castro *

Dia, meus maravilhosos cinco leitores! Semana passada eu cabulei minha crônica causa de quê dei um pulinho até Nova Viçosa, que amo, por ter praias maravilhosas e ainda ter um jeitinho de lugar pequeno... Posé, solão, peixim frito, água salgada e ventos sussurrantes, eita que foi bom! No entanto uma ponta de infelicidade e indignação me deixaram emputecida. Não, não foi por causa do idiota trumpesco lá do Estados Unidos Para Nos Ferrar, foi por uma descoberta aterradora feita lendo “Ainda estou Aqui”, de Marcelo Rubens Paiva, origem do filme que está bombando pelo mundo todo. É que cheguei na parte em que Eunice, trabalhando como advogada e lutando para conseguir o atestado de óbito do marido, começa também a apoiar a causa indígena.

Em outubro de 1983, com Manuela Carneiro da Cunha, publicou na “Folha de São Paulo” um artigo denominado “Defendam os Pataxós”, que denunciava os abusos que essa etnia sofria ali por perto de Porto Seguro, Sul da Bahia. Desde 1936, foram perseguidos e expulsos por fazendeiros e grileiros, tendo o governo arrendado suas terras para invasores; títulos de propriedade foram conferidos aos posseiros, além da própria FUNAI propor uma área bem menor do que a que lhes cabia.

Deu um cafuçu danado, não lhes era permitido plantar ou pescar nos rios, passavam falta de água potável... Ai, ai, ai, lembram da mortandade dos Yanomanis no desgoverno anterior? Pobres índios brasileiros, largados à cobiça e desmandos de pessoas ambiciosas! E li que entre uma série de absurdos, como remoções forçadas, aldeias dizimadas, genocídios dos índios xetás no Paraná, dos avoás-canoeiros no Araguaia e um massacre dos cinta-largas no Mato Grosso, a ditadura teria criado uma cadeia só para indígenas, o chamado Reformatório Krenak em Governador Valadares! (Como nunca ouvi falar sobre isso, pesquisei e descobri que o Reformatório existiu, sim, mas em Resplendor).

Os índios eram trazidos do país todo, aqueles que não aceitavam as grilagens, as invasões por parte de fazendeiros, posseiros, sob o olhar complacente da FUNAI eram torturados e os que morriam, teriam sido atirados ao Rio Doce. COMO ASSIM? PQP, esses absurdos acontecendo e ninguém sabendo de nada, nunca ouvi sequer um comentário sobre tal tristeza, que inferno é esse? Eu me senti como o compositor Zé Geraldo: “tudo isso acontecendo e eu ali na praça, dando milho aos pombos”? Pensava nisso tudo enquanto as ondas bailavam e ao longe aquela cor verde esmeralda enchia os olhos de infinda beleza...

Fecho os olhos, e “vejo” chegarem as naus portuguesas para “descobrir” o Brasil. Parafraseando o poeta maior Castro Alves em "Navio Negreiro”:

“Tupã, fecha a porta dos teus mares!" E nada mais digo, a não ser afeeeeeeeeeee!

* Escritora e contadora de histórias

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