16 de fevereiro, de 2025 | 18:00

Crendices sobre felinos e abandono ainda persistem 

Sofia Carvalhido
Crença de que felinos são descartáveis aumenta abandono e maus-tratosCrença de que felinos são descartáveis aumenta abandono e maus-tratos

Por Sofia Carvalhido - Repórter Diário do Aço
O Dia Mundial do Gato, comemorado no dia 17 de fevereiro, surgiu como uma forma de conscientizar as pessoas sobre a importância da proteção dos felinos contra maus-tratos e crendices ultrapassadas. Em Ipatinga, as ONGs Arca da Fran e APPA acolhem e resgatam os bichanos. Em entrevista ao Diário do Aço, os responsáveis contaram como as instituições surgiram e como atuam na região.

Francélia Rangel dos Santos Campos, vendedora, e Marcella Andrade Venancio, empresária, coordenam a Arca da Fran. Francélia era uma pessoa em situação de rua quando começou a resgatar animais: “Eu fui fazendo a reciclagem e fui achando os animais e levando pra minha casa, o lugar onde eu estava morando era de favor. E um dia caiu muita chuva e a água entrou pra dentro da minha casa, né? Aí eu comecei a enxugar os bichinhos, colocar lá pra dentro, em cima da minha cama”, conta.

Anteriormente, Francélia, popularmente conhecida como Fran, atuava como protetora independente e, há cerca de quatro anos, ela e Marcella registraram a associação. Entretanto, mesmo com o registro, a Arca da Fran não tem um local próprio, os animais resgatados ficam na casa das protetoras até serem adotados. Atualmente, a ONG tem 33 gatos para adoção, entre adultos e filhotes, e positivos e negativos para Felv e Fiv (AIDS e Leucemia felinas).

Questionadas sobre a atuação da associação, Marcella conta que o trabalho promovido pela Arca não é apenas de abrigar os animais, mas também de levar conhecimento e informação às pessoas, para que elas também possam ajudar a tirar os animais das condições precárias que possam se encontrar. Além disso, ela ressaltou que, ao fazer uma denúncia de maus-tratos, a pessoa deve estar disposta a ficar com o animal: “Para a polícia ir no local registrar o maus-tratos, eles têm que tirar o animal daquela condição. E aí a gente tem que abrigar o animal”.
Sofia Carvalhido
Filhotes são os mais procurados para adoçãoFilhotes são os mais procurados para adoção


Ela detalha que, hoje, muitas ONGs como a Arca estão com a lotação máxima, até acima do que é ideal. As duas explicam que os animais precisam de qualidade de vida: “Além de ter que comer, existem animais que são especiais”.

Em outra ONG, a APPA, Laura Alves, protetora dos animais e estudante, conta que a ONG surgiu de uma experiência marcante, quando um felino com esporotricose apareceu em sua casa e, pouco tempo depois, resgatou uma cadela com leishmaniose, que ela nomeou de Judith. “Na época, eu não tinha conhecimento sobre essas doenças, e uma veterinária recomendou a eutanásia dos dois. No entanto, eu não queria seguir esse caminho e procurei ajuda em outros lugares. Iniciei o tratamento de ambos, e embora o gatinho infelizmente não tenha resistido, Judith continua comigo até hoje, saudável e em tratamento contínuo”, conta. “Em 2025, a ONG APPA completará dois anos como entidade reconhecida de utilidade pública”, acrescenta.

Preconceito contra felinos
Apesar do preconceito persistente contra felinos, Marcella destaca que a adoção de gatos aumentou bastante, o que pode se relacionar com a verticalização da cidade, com mais pessoas morando em apartamentos do que em casas. Porém, ela faz uma ressalva: “A única coisa que não aumenta proporcionalmente é a consciência das pessoas de que os gatos, assim como os cachorros, também precisam de veterinário”.

Fran e Marcella acreditam que o preconceito contra os felinos tem diminuído, mas, mesmo assim, evitam postar fotos dos gatos nas mídias sociais em determinadas épocas do ano. “Existem rituais com o gato todo branco, todo preto e todo amarelo, a gente evita publicar em algumas épocas do ano”.
Enviada ao Diário do Aço
Protetores de animais evitam publicar sobre gatos em determinadas épocas do anoProtetores de animais evitam publicar sobre gatos em determinadas épocas do ano


“Eu vejo um preconceito mais por parte dos homens”, acrescenta Fran, “Até o meu esposo era assim com gato. E a maioria das pessoas com quem eu converso sobre felinos falam também: ‘Ah, o meu marido não gosta de gato’. Mas depois que aquela pessoa passa a conhecer o gato, né? A ter aquele contato com ele. Isso tudo muda, né? Porque o gato é uma coisa adorável mesmo. Às vezes eles falam isso por causa das coisas que escutaram lá pra trás, desde a infância”, continua. “Então eu acredito que o preconceito das pessoas vem muito de boatos e isso foi passando de geração em geração”, finaliza.

Na APPA, hoje, existem 45 felinos sob seus cuidados. “Nosso trabalho envolve resgate, cuidados e adoção responsável. Os resgates ocorrem por meio de solicitações ou quando identificamos um animal em situação de risco. Após o resgate, avaliamos a necessidade de internação em uma clínica veterinária. Caso não seja necessária uma internação, seguimos um protocolo que inclui vermifugação, vacinação, castração e aplicação de antiparasitários. Assim que o animal está saudável, ele é disponibilizado para adoção responsável”, detalha Laura.

A estudante também acredita que o preconceito e maus-tratos contra os felinos ainda é persistente na sociedade, principalmente contra gatos pretos e brancos: “Acreditamos que esse medo vem da desinformação e de superstições sem fundamento. Quem convive com gatos sabe que eles são animais extremamente amorosos, inteligentes e leais”, afirma. Ela destaca que, além do resgate, a missão da APPA é levar o conhecimento e a informação às pessoas, com o objetivo de desmistificar essas crenças.

Abandono e adoção
Fran conta que o abandono de felinos é mais frequente do que de cães. Ela e Marcella citam que, nas mensagens diretas no Instagram, muitas pessoas relatam abandono de gatos, ainda filhotes, próximo de onde moram. “O abandono de gato é muito comum. As pessoas entendem que o gato é mais descartável do que o cachorro”, ressalta Marcella.

Elas afirmam que os filhotes costumam ser mais adotados que os gatos já adultos, mas pedem que, em caso de interesse, que as pessoas pensem em adotar gatos adultos, uma vez que eles “também merecem uma chance de viver com uma família”.

As entidades protetoras entrevistadas pela reportagem não fazem feiras de adoção para felinos. Isso acontece por causa do estresse gerado aos gatos devido às condições em que essas feiras geralmente são feitas. “Para organizar feiras de gatos, seria necessário um investimento maior em estrutura e segurança, pois é fundamental garantir que os felinos não consigam escapar”, destaca Laura.

Parcerias e facilitadores
Ambas as ONGs possuem parcerias com clínicas veterinárias que facilitam e diminuem o custeio de alguns procedimentos, como a castração e o tratamento de qualquer enfermidade, seja ela imunológica ou física, dos animais, principalmente os que foram resgatados das ruas ou de maus-tratos.
Enviada ao Diário do Aço
Felinos estão disponíveis para adoção responsável na Arca da Fran e na APPAFelinos estão disponíveis para adoção responsável na Arca da Fran e na APPA


A administração municipal de Ipatinga oferece a castração gratuita para cães e gatos através da zoonose. Para fazer o cadastro do animal, basta acessar o aplicativo “Fala Ipatinga”. Ao fazer o login, o usuário pode entrar na página “Zoonoses”, selecionar a modalidade da castração e preencher os dados. Ao clicar em “Selecionar”, será gerado um protocolo que deve ser acompanhado no aplicativo.

Entretanto, existe uma ordem de prioridade na fila de castração: como cães e gatos que vivem nas ruas; em situação de vulnerabilidade; que vivem com tutores que têm transtornos de acumulação; resgatados por ONGs ou protetores individuais; vítimas de maus-tratos; gatos de vida livre ou cães comunitários; cães e gatos domiciliados.

Crime
Em Ipatinga, a Lei nº 3.307, de 13 de janeiro de 2014, estabelece sanções para a prática de maus-tratos a animais e institui o Programa Permanente de Controle Reprodutivo de cães e gatos no município.

De acordo com o Artigo 1º dessa lei, qualquer ato de maus-tratos a animais, seja em local público ou privado, independentemente de o infrator ser ou não o proprietário do animal, resultará na aplicação de multa, sem prejuízo de outras penalidades legais.

Além disso, o Artigo 3º define como maus-tratos ações como praticar atos de abuso ou crueldade contra qualquer animal e manter animais em condições inadequadas de higiene ou que impeçam sua respiração, movimento ou descanso, ou que os privem de ar ou luz.
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Comentários

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Gabriel

17 de fevereiro, 2025 | 15:19

“O Sr Roberto selken se não for ajudar não fala.”

Roberto Selken

16 de fevereiro, 2025 | 09:56

“Então, você conhece o Manual de CED ? Captura, esterilização e devolução de felinos de vida livre? Importante conhecer, tá na NET.”

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