19 de fevereiro, de 2025 | 08:20

Uso demasiado de Inteligência Artificial pode prejudicar memória de adolescentes, diz psicólogo

Sofia Carvalhido - Repórter Diário do Aço
Está cada vez mais comum o uso de Inteligência Artificial (IA) entre as pessoas, seja para o trabalho ou para estudos e, principalmente, entre os adolescentes. Entretanto, apesar de ser um advento tecnológico positivo, seu uso descontrolado pode gerar prejuízos à memória, à atenção e, até mesmo, gerar ansiedade. É o que diz o psicólogo Thales Marques Valentim, que atua em Ipatinga, em entrevista ao Diário do Aço.

Thales afirma que, apesar do surgimento da IA ser mais atual, os problemas à saúde relacionados ao uso excessivo de tecnologia não são: “É um movimento que já vinha acontecendo e ele só ganhou mais força com o incremento da inteligência artificial. Você não precisa ter uma análise mais crítica em relação àquele conteúdo, você passa a resolver o problema de maneira tão artificial e isso diminui a sua capacidade de resolver por conta própria”.

Prejuízos à formação do adolescente
Embora a IA traga facilitadores para os estudos e o trabalho, como a agilidade e praticidade, há malefícios reais na saúde mental dos jovens quando seu uso é sem controle como a “redução da atenção, enfraquecimento da memória, diminuição da visão e do pensamento crítico”. Além disso, é possível que um quadro de ansiedade também seja desenvolvido, visto que “o adolescente vai ter uma resposta instantânea e imediata, e começa uma dificuldade em esperar uma resposta. Uma vez que ele já está acostumado com aquela resposta imediata”, acrescenta Thales.

Essa ansiedade afeta a forma como o adolescente lida com as frustrações diárias, que são comuns na vida e, “se estão tão habituados a obter soluções instantâneas e imediatas sem nenhum esforço, podem ter dificuldade para lidar com situações que exigem paciência, reflexão e, até mesmo, persistência”, destaca o psicólogo.

“Uma outra coisa é a substituição das interações sociais pela inteligência artificial, que pode trazer dificuldade na construção de habilidades sociais de comunicação”, completa. Thales ainda ressalta que adolescentes já têm mais dificuldades em iniciar conversas e, com o contato constante com uma IA, é possível que isso se torne um obstáculo, inclusive, para dar continuidade no diálogo, resolver problemas e se posicionar diante de debates.

Autoimagem
Thales alerta que a percepção da autoimagem pode ser influenciada pela tecnologia: “Hoje nós temos filtros, edições, diversos recursos. E isso pode gerar impacto significativo na autoestima dos adolescentes. Pois eles vão ficar tão acostumados às exposições e a padrões idealizados, com consequência de uma comparação excessiva e insatisfação com a sua própria autoimagem”, argumenta.

Percepção profissional
A IA também impacta, de algum modo, o jeito com o qual os adolescentes se relacionam com outros seres humanos, seja de forma positiva ou negativa. Em primeiro caso, a IA pode ajudar o adolescente com a apresentação de um novo repertório verbal e vocabular. Mas, por outro lado, se seu uso for predominante, a interpretação das emoções poderá ser comprometida “e essa é uma das dificuldades que nós estamos percebendo diariamente em diversos ambientes, tanto no contexto clínico, quanto no contexto escolar. Nós temos percebido a dificuldade dos adolescentes, e de adultos, em reconhecer as suas próprias emoções”, diz Thales.

O psicólogo afirma que a conversa com um chatbot não substitui o contato com outras pessoas: “O contato humano envolve diversas questões nas relações que a inteligência artificial não consegue substituir, tais como tom de voz, expressão facial, postura corporal. São elementos que são fundamentais para a comunicação. Então de fato, a interação com a inteligência artificial vai impactar as relações entre o mundo real e o mundo virtual”, finaliza.