12 de março, de 2025 | 17:03
''O sistema é bruto''! Ronaldo desiste de candidatura à presidência da CBF
Fábio Figueiredo/Cruzeiro
Ronaldo pretendia disputar a presidência da CBF, mas não recebeu apoio suficiente

Eu comecei a articular em novembro, fim de outubro (de 2024), visualizando essa possibilidade de chegar à presidência da CBF. Comecei a planejar, conversar com pessoas, para entender realmente o sistema que existe hoje. Digo que é difícil porque o sistema é feito para se perpetuar. Preciso de quatro apoios, de federações e clubes, para inscrever minha chapa, mas não tem um processo eleitoral claro, transparente. Isso dificulta cada vez mais a oposição. O processo fica muito direcionado para quem está na cadeira. Tenho conversado com presidentes de federações, com presidentes de clubes, me articulado. Mas hoje o grande problema é que as federações são dependentes dos benefícios financeiros que a CBF dá, e uma vez que esses benefícios param de chegar, a federação corre risco de fechar, porque não tem como sobreviver, criar novos recursos. É uma espécie inclusive de terrorismo. Percebi que dificilmente vai ter alguém declarando voto para mim nesse período pré-eleitoral, porque eles sabem que, quem está na cadeira, pode usar o benefício para forçá-lo a votar no presidente. Poucas federações vão conseguir sobreviver sem o benefício da CBF, é uma articulação complicada”.
Essas foram algumas das palavras de Ronaldo Nazário, o Ronaldo Fenômeno, ao anunciar, nesta quarta-feira (12), sua decisão de desistir de se candidatar à presidência da CBF, no próximo ano.
A informação foi apurada pela ESPN e confirmada pelo astro após um pronunciamento nas mídias sociais.
O empresário esbarrou na cláusula de barreira, que exige que um candidato tenha o apoio de ao menos quatro federações estaduais, além de outros quatro clubes, para conseguir registrar sua candidatura.
O sistema é bruto”
Ronaldo entrou em contato por mensagem com representantes das federações convocando um encontro. Em seguida, o craque telefonou para algumas lideranças, além de se reunir pessoalmente com figuras políticas da CBF.
Ronaldo enviou um e-mail intitulado Solicitação de audiência - Alinhamento de Projetos para o Futebol Brasileiro”, listando as mudanças que achava necessárias para um futebol brasileiro mal gerido, com falta de transparência e uma gestão centralizada”, dizendo estar com agenda aberta para encontrar pessoalmente cada um dos 27 dirigentes.
No entanto, nenhuma parte achou uma boa ideia ir para a guerra” pública contra Ednaldo Rodrigues, atual presidente, um personagem de sequência da perpetuação no poder do mesmo grupo político-esportivo criado por João Havelange, nos anos 1960-1970 (inclusive um dos sucessos daquele que foi até presidente da Fifa e depois banido do futebol, foi seu então genro, Ricardo Teixeira).
Ninguém tem coragem
Em mensagens redigidas com a mesma estrutura e até mesmo alinhadas com o comando atual da CBF, os presidentes de federações respondiam a Ronaldo que estavam comprometidos "com a continuidade da atual gestão da CBF”.
Sua administração, de uma forma ampla e democrática, tem realizado importantes investimentos em diversas categorias do futebol brasileiro, desde as categorias de base até os campeonatos nacionais, com especial olhar e atenção a Série D, ao futebol feminino e a projetos sociais e estruturais, que visam o fortalecimento do nosso esporte". São algumas das respostas dos dirigentes, que estão comprometidos e atolados em compromissos com o atual sistema dirigente da entidade máxima do futebol brasileiro.
Encurralados, os cartolas estaduais ainda valorizavam Ednaldo e sua "experiência e conhecimento das nuances e peculiaridades do universo das federações, clubes, ligas e campeonatos locais e nacionais".
Apesar da manifestação em conjunto, muitos representantes entendem que a entidade precisa de mudanças, mas reforçam que teriam de se organizar como oposição e, em caso de derrota, suportar o peso de um segundo mandato de Ednaldo não seria tarefa simples.
Com isto, Ednaldo Rodrigues tem o caminho livre para se reeleger. O presidente atual tem uma janela de um ano para marcar a eleição - do final deste mês até o final do mandato, em 22 de março de 2026. A expectativa é que, diante do cenário que lhe é absolutamente favorável, Ednaldo resolva logo sua reeleição.
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