16 de março, de 2025 | 09:10
Educadores defendem o ensino ambiental como chave para mitigar as mudanças climáticas
Arquivo pessoal
Professora Raquel de Oliveira Sales afirma que uma educação ambiental eficaz provoca mudanças nos hábitos de consumo
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do Aço 
Nos últimos anos, o mundo tem presenciado impactos significativos das mudanças climáticas. Em 2023 e 2024, ondas de calor extremo colocaram em risco a saúde da população global. No Vale do Aço, um forte temporal deixou um rastro de destruição e a dor de 11 vidas perdidas 10 em Ipatinga e 1 em Santana do Paraíso neste mês de janeiro. Alagamentos, enchentes e deslizamentos marcaram a região no último período chuvoso, deixando desabrigados e desalojados.
Essa situação exige ações urgentes por parte das grandes empresas poluentes, dos governos e também da sociedade, que precisa se reeducar ambientalmente para mitigar os impactos da crise climática. Neste domingo (16), Dia Nacional de Conscientização sobre Mudanças Climáticas, especialistas refletem sobre a educação ambiental nas escolas como uma oportunidade fundamental na formação de uma sociedade mais consciente e responsável com o meio ambiente.
Para a professora Raquel de Oliveira Sales, que leciona Biologia na rede pública e privada do Vale do Aço, especialista em Educação Ambiental (UFOP-MG) e mestre em Ensino de Biologia (UFJF-MG), uma educação ambiental eficaz deve provocar mudanças nos hábitos de consumo, ajudando os estudantes a compreenderem a relação entre consumo excessivo e impactos ambientais.
"Quanto maior o consumo, maior a demanda por matéria-prima, maior o consumo de energia e maior a emissão de resíduos, inclusive gases de efeito estufa", explica em entrevista ao Diário do Aço. Apesar de ser um tema relativamente recente, ela percebe um crescente interesse dos jovens pelo assunto e destaca que atividades práticas, como registros fotográficos de impactos ambientais locais, ajudam a sensibilizar os estudantes.
A professora Patrícia Rabelo, que leciona Geografia em Ipatinga, também conversou com a reportagem sobre o tema e disse que a educação ambiental deve estimular o pensamento crítico e o engajamento cívico dos estudantes. Ela defende o uso de estratégias interdisciplinares e metodologias ativas, como plenárias juvenis, trabalhos de campo e rodas de conversa, para tornar o aprendizado mais significativo.
"Uma pesquisa realizada pelo UNICEF revelou que 56% dos jovens brasileiros conseguem definir o que são mudanças climáticas. Isso mostra que, apesar do negacionismo, há um interesse crescente pelo tema", pontua Patrícia.
Espaços preservados como ferramenta de aprendizado
O Vale do Aço conta com áreas preservadas que podem ser utilizadas para ampliar o aprendizado sobre meio ambiente. O Parque Estadual do Rio Doce é um desses espaços que oferecem oportunidades para vivência e reflexão sobre a conservação ambiental. Além disso, há a APA da Biquinha, em Coronel Fabriciano, as áreas rurais dos Cocais, Ipaneminha e Ipanemão, que além de guardar florestas e cachoeiras, reservam também a cultura do congado e dos saberes tradicionais.Arquivo pessoal
A professora Patrícia Rabelo defende o uso de estratégias interdisciplinares e metodologias ativas no ensino sobre o meio ambiente

Segundo Patrícia Rabelo, "esses espaços são salas de aula vivas, onde os alunos podem vivenciar o contato direto com a natureza e compreender melhor a importância da preservação". Atividades como trilhas guiadas, investigação científica e palestras ambientais ajudam a tornar o aprendizado mais envolvente e eficaz.
Espaços como esse permitem não só experienciar a natureza, como também servem de referência para que as crianças e adolescentes percebam o quanto a interferência humana é capaz de alterar e degradar a paisagem. Dá para comparar como era antes da urbanização e como ficou e, a partir daí, discutir vários aspectos socioambientais”, acrescenta Raquel.
Além disso, o geógrafo, historiador e escritor ipatinguense Alessandro de Sá, idealizador do Instituto Interagir e que tem como um dos projetos o Turismo Pedagógico, destaca que o contato direto com o meio ambiente e o meio social é essencial para a construção da percepção da realidade da comunidade. O projeto permite que participantes adquiram conhecimento sobre a história dos patrimônios culturais e desenvolvam uma interação mais profunda com o espaço ao seu redor. O geógrafo destaca que a educação ambiental em Ipatinga tem avançado no ambiente formal de ensino, nas instituições privadas e em comunidades, porém, na prática, ainda não tem sido suficiente para conscientizar a população de forma ampla e efetiva sobre os impactos das mudanças climáticas. Muitos ainda percebem o tema como algo distante ou secundário diante de outras preocupações diárias. Além disso, há desafios como desinformação”, sustentou em conversa com a reportagem do Diário do Aço.
O desmatamento e crescimento urbano desordenado
Alessandro de Sá observa que o avanço descontrolado da urbanização no Vale do Aço tem agravado os efeitos das mudanças climáticas e aumentado o risco de desastres ambientais. "Na trajetória da ocupação do nosso território, grandes áreas de Mata Atlântica foram desmatadas para a agropecuária e a urbanização. Se houvesse um planejamento adequado para preservar áreas estratégicas, a região estaria mais segura contra desastres", assegura.Ele também ressalta que o desmatamento altera o ciclo das águas e contribui para o aquecimento local. "Observamos os rios perdendo volume, nascentes secando e a biodiversidade sendo comprometida. Além disso, a impermeabilização do solo urbano impede a drenagem eficiente da água da chuva, intensificando enchentes e deslizamentos", alerta.
Medidas para mitigar os impactos ambientais
A Região Metropolitana do Vale do Aço sofre com ilhas de calor devido à grande concentração de concreto e asfalto, que absorvem e retêm calor, destaca Alessandro de Sá. Para mitigar esses impactos, o ambientalista sugere medidas como o planejamento urbano sustentável, o controle do desmatamento, a recuperação de áreas degradadas e o fortalecimento da fiscalização ambiental."Precisamos investir em infraestrutura resiliente, ampliar áreas verdes urbanas, incentivar práticas de reflorestamento e aprimorar sistemas de drenagem para evitar enchentes. Além disso, a regularização fundiária e o planejamento urbano são essenciais para reduzir ocupações em áreas de risco", destaca.
Políticas públicas e desafios na esfera municipal
Arquivo pessoal
Alessandro explica que avanço descontrolado da urbanização no Vale do Aço tem agravado os efeitos das mudanças climáticas
A vereadora Professora Cida Lima (PT) destaca que a administração municipal tem o dever de investir na educação ambiental, transformando a cidade em um espaço de aprendizado ecológico. No entanto, aponta que há barreiras políticas que dificultam a adoção de medidas eficazes.
Ela também pontua a necessidade de investimentos em infraestrutura urbana, drenagem e políticas habitacionais para minimizar os impactos dos eventos climáticos extremos, além da urgência de transformar espaços públicos em locais educativos, promovendo uma cultura de preservação ambiental. Para além dessas questões ambientais diretas, é fundamental que a Câmara debata políticas públicas que possam reduzir os impactos dessas ocorrências sobre a população”, defende a parlamentar.
Por fim, a professora Raquel frisa que os esforços da escola não são suficientes para garantir a formação de cidadãos ambientalmente comprometidos se não houver participação da família e respaldo da sociedade como um todo.
A sociedade pode agir exigindo que a legislação ambiental seja cumprida. Por exemplo, as leis de uso solo preveem restrições às construções em encostas, mas por razões econômicas, muitos municípios autorizam a instalação de loteamentos em áreas de inclinação acentuada que depois acabam desmoronando. Uma situação desse tipo aconteceu recentemente no bairro Horto em Ipatinga. As pessoas se mobilizaram e conseguiram impedir o poder público de liberar construções na Matinha do Horto. Acredito que a família pode contribuir adotando no cotidiano atitudes ambientalmente adequadas”, finaliza a docente.
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Gabriel
18 de março, 2025 | 14:10Tive a oportunidade de ser aluno das professoras Raquel e Patrícia, duas pessoas excelentes e que tive a chance de aprender muito com elas.
Tenho muito gratidão pelas duas e fico feliz desse tema na reportagem terem entrevistado ambas.”
Flávio Barony
17 de março, 2025 | 17:02Excelente reportagem!”
Jose Afonso Martins de Assis
17 de março, 2025 | 08:15Parabéns pela reportagem. Eis uma pauta que deve estar na ordem do dia, mas infelizmente não está. Educação ambiental deveria ser para ontem.”
Alex
17 de março, 2025 | 06:46Bom ver as mídias abrindo espado para falar sobre um assunto importantíssimo. Parabéns aos professores que contribuíram com seus conhecimentos, show.”
Gildázio Garcia Vitor
16 de março, 2025 | 11:52Excelente matéria! Parabéns ao repórter Matheus Valadares e ao Diário do Aço, pela publicação, e às minhas amigas e Companheiras de sonhos, muitos utópicos, na Política e nas Educação, Patrícia e Raquelzinha, pelas explicações e opiniões baseadas nas Ciências Geográficas e Biológicas.”
Instituto Interagir
16 de março, 2025 | 11:35Parabéns ao Diário do Aço, ao Jornalista Matheus Valadares e aos profissionais educadores, pesquisadore e Vereadora Cida Lima pelos importantes esclarecimentos. Valorizar nossos profissionais que atuam em projetos educativos, legislativos e socioambientais em Ipatinga é ofertar o devido valor a todos que fazem do seu território um local de ação para melhor qualidade de vidas de toda a sociedade.”