30 de março, de 2025 | 08:00

Psicóloga e mãe falam da realidade além do diagnóstico de TEA

Divulgação
Campanha busca conscientização e inclusão de crianças atípicas e neurodivergentesCampanha busca conscientização e inclusão de crianças atípicas e neurodivergentes

Por Sofia Carvalhido - Estagiária sob supervisão
Durante o mês de abril, são feitas diversas campanhas de conscientização sobre o autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA). Inclusive, na próxima quarta-feira (2) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Nesse sentido, o Diário do Aço entrevistou a psicóloga e especialista em desenvolvimento infantil, Larissa Fernandes, e Karla Faria, mãe de Miguel, de 13 anos e Maria Clara, de oito, ambos diagnosticados com autismo nível 1 de suporte, para explicar a realidade do diagnóstico e da rotina.

Karla, que vive em Ipatinga com os filhos, afirma que a descoberta veio acompanhada de desafios, aprendizado e uma luta constante por inclusão e direitos. O primeiro sinal veio quando Miguel entrou na creche, aos 2 anos. Educadores percebiam dificuldades na socialização e na coordenação motora, como na hora de vestir-se ou abotoar roupas. “A creche sempre me alertava e sugeria que eu procurasse um especialista”, lembra Karla. No entanto, a primeira avaliação psicológica descartou o autismo, levando a família a acreditar que tudo fazia parte do desenvolvimento da criança.

A suspeita se confirmou anos depois, quando Miguel já estava no ensino fundamental. A escola chamou Karla para conversar sobre os comportamentos incomuns do menino, como frases desconexas e dificuldades na interação social. Dessa vez, a busca por um especialista foi mais criteriosa. Após consultas com um psiquiatra infantil e uma avaliação neuropsicológica detalhada, veio a confirmação de que Miguel estava dentro do espectro autista.

O impacto do diagnóstico foi profundo. Karla pausou sua carreira para dedicar-se integralmente ao filho. Entre consultas, terapias e a adaptação escolar, Miguel iniciou um tratamento multidisciplinar que incluía terapia ocupacional, fonoaudiologia e acompanhamento psicológico. “No início, não houve necessidade de medicação, mas, em 2020, com crises de ansiedade e dificuldades para dormir, optamos pela introdução do tratamento medicamentoso”, conta a mãe.

Pouco tempo depois, os sinais do TEA também começaram a aparecer em Maria Clara, principalmente durante o isolamento da pandemia. Apesar da surpresa inicial, Karla já conhecia os caminhos do diagnóstico e insistiu na investigação. A avaliação neuropsicológica confirmou o autismo e, além disso, a menina também foi diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Assim como o irmão, ela iniciou terapias e foi introduzida à medicação para ajudar na regulação do sono e na irritabilidade.

Mesmo com dois filhos neurodivergentes, Karla destaca que cada um tem suas particularidades. Enquanto Miguel enfrenta dificuldades motoras, Maria Clara não apresenta esse desafio, mas lida com outras questões comportamentais. “A escola, felizmente, acolheu bem os dois, e garantiu um ambiente de apoio no aprendizado”.

Enviada ao Diário do Aço
Psicóloga reforça que autistas são pessoas inteligentes e capazes, que precisam apenas das ferramentas certas para desenvolverem seu potencialPsicóloga reforça que autistas são pessoas inteligentes e capazes, que precisam apenas das ferramentas certas para desenvolverem seu potencial

Diagnóstico precoce
A psicóloga Larissa Fernandes, especialista em desenvolvimento infantil que atua em Ipatinga, explica que os primeiros sinais de autismo podem ser observados desde o início da vida. “Algumas características comuns são a dificuldade no contato visual, falta de resposta ao nome, atraso ou ausência de fala, padrões de comportamentos repetitivos e hipersensibilidade a sons, luzes ou texturas”, explica.

O diagnóstico precoce, segundo ela, é essencial para garantir que a criança tenha acesso a intervenções adequadas: “Quanto mais cedo a criança recebe intervenções, melhores são suas chances de desenvolver habilidades e melhorar seu prognóstico. Isso amplia muito suas possibilidades, permitindo que ela tenha acesso a diferentes tratamentos com uma equipe multidisciplinar”, destaca.

Papel da escola
Apesar dos avanços, o ambiente escolar ainda apresenta desafios para crianças autistas. Larissa informa que as dificuldades mais comuns incluem comunicação, interação social e adaptação à rotina. “A inclusão começa com estratégias bem estruturadas. O primeiro passo é criar um ambiente onde a criança se sinta segura. Além disso, é essencial capacitar os professores e manter um contato constante com terapeutas, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos”, afirma.

Mitos a respeito do autismo


Ainda há muitos equívocos sobre o TEA na sociedade. Larissa alerta para alguns dos principais mitos que precisam ser desconstruídos, como a crença de que autistas não sentem emoções ou que todas as pessoas no espectro possuem habilidades extraordinárias.

“A grande maioria das crianças autistas sentem emoções intensamente e podem ser altamente empáticas. O que acontece é que elas podem expressar esses sentimentos de maneira diferente ou ter dificuldades em interpretar as emoções dos outros”, explica. Ela reforça que o autismo não tem cura e não há qualquer relação entre o TEA e as vacinas.

A psicóloga também destaca a importância da conscientização social para garantir uma inclusão real. “A sociedade ainda impõe padrões e tende a generalizar o comportamento das pessoas atípicas, dificultando sua acessibilidade no ambiente social. Precisamos garantir maior acessibilidade em espaços públicos e incentivar a inclusão no mercado de trabalho com adaptações adequadas”.

Direitos e inclusão


Além dos desafios diários, Karla também se tornou uma ativista dos direitos dos autistas. “Muitas famílias desconhecem benefícios como o Passe Livre para transportes, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o direito ao atendimento prioritário”, afirma. “O autismo não é uma doença, não tem cura porque não é algo que precisa ser curado. São pessoas inteligentes e capazes, que precisam apenas das ferramentas certas para desenvolverem seu potencial”, conclui a psicóloga.
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Comentários

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B2@

31 de março, 2025 | 07:48

“Acredito que 90% da população tem algum transtorno de TEA ou similar não diagnosticado. Assim sendo, seremos todos normais,novamente.”

B2@

31 de março, 2025 | 06:56

“Caro Gildázio, no bairro Amaro Lanari, há um caso deste, onde o morador usa uma vaga reservada para autista, sendo que o seu carro permanece estacionado por longos períodos, transformando a cia pública em via particular.Esta rua, Maranhão, não tem trânsito intensoo de veículos, e está localizada ao lado de sua garagem. Desta forma, apenas ele poderá estacionar, prejudicando outros autistas.”

Rafaela

30 de março, 2025 | 15:27

“Para o prefeitaço de Ipatinga mg,o TEA tem cura pois o NATEA só vai atender criança até sete anos acima desta idade está curado,mas é irrelevante essa observação pois o NATEA é para chinês ver.”

B2@

30 de março, 2025 | 11:34

“O autismo se houvesse como cura, é claro que seria ótimo, pois o indivíduo perde com o uso de medicamentos. Também pode a sociedade que não está preparada para lidar com a situação, onde a inclusão cita apenas direitos destes, mitigado os efeitos nocivos principalmente nas escolas, onde os educadores adoecem por serem agredidos, agravando um quadro já caótico. Não vejo como inclusão, onde apenas um lado tem direitos como forma geral e a população "comum" não tem os seus direitos respeitados. Acredito que as leis são de exclusão e com o objetivo de promover o distanciamento social. Até quando? Queremos que todos sejam incluídos, digo mais, tenham seus direitos, mas também os seus deveres. Os pais transferem a educação para as escolas, porém esta começa em casa, estabelecendo limites. Seria bom não ver a sociedade como inimigos da causa autista, e sim, parte integrante que dependem também de um olhar acolhedor, num país de cultura ruim. Leva-se tempo para esta mudança acontecer e não será através de leis, será com mudança de comportamento e informações.”

Gildázio Garcia Vitor

30 de março, 2025 | 10:25

“Com relação ao "ambiente escolar", do qual faço parte há 43 anos como Professor e, desde 2 de janeiro, como Diretor-Adjunto, é o pior possível, para quem, não importando a idade, mas muito mais difícil para as crianças e adolescentes, é diagnosticado com TEA. Explico o porquê de, leigamente, pensar assim: aglomerações de crianças e adolescentes, sons altos e variados e, o pior de tudo, poucos Profissionais da Educação aceitam e entendem, até por falta de conhecimento, que é o meu caso-que sei tão pouco, que é o mesmo que nada-, um aluno autista.
Como muito bem disse a Psicóloga Larissa : "... é essencial capacitar os professores e ...". Peço licença para acrescentar, também, os Assistentes da Educação, que já Rede Municipal de Ipatinga, em geral, têm apenas o
Ensino Médio.
Uma coisa que tem me deixado preocupado é a "Indústria do Autismo", praticada por famílias sem escrúpulos, em busca dos benefícios oferecidos, inclusive, por incrível que pareça, para estacionar o carro.”

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