09 de abril, de 2025 | 08:35

Médico legista do Vale do Aço relata bastidores da perícia e desmistifica tabus sobre a morte

Wellington Fred
Posto Médico-Legal de Ipatinga atende 16 municípios da região e conta com sete médicos legistas além de um investigador de polícia e dois auxiliares de necropsiaPosto Médico-Legal de Ipatinga atende 16 municípios da região e conta com sete médicos legistas além de um investigador de polícia e dois auxiliares de necropsia

No dia 7, comemorou-se o Dia do Legista. Na linha de frente da Medicina Legal no Vale do Aço, o médico legista Américo Sebastian Varela Pereira de Morais, 51 anos, em entrevista ao Diário do Aço, compartilhou a trajetória que o levou da formação em Anestesiologia à posição de médico legista chefe do Posto Médico-Legal (PML) de Ipatinga, da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e pontuou como é “trabalhar com a morte”.

Formado em Medicina pela UFMG em 2001 e especializado em Anestesiologia pela Santa Casa de Belo Horizonte, Américo ingressou na Polícia Civil em 2002. Ele conta que seu primeiro desafio foi em Manhuaçu. “Naquele tempo, fui designado para lotação em Manhuaçu, onde tinham aproximadamente 300 corpos em cova rasa aguardando necropsia. Colocamos tudo em dia dentro de alguns poucos meses”, relembra.

Desde então, seu compromisso tem sido com a verdade dos fatos. “Sempre tentamos esclarecer a investigação da melhor forma possível, inclusive colocando nos laudos a ‘impressão do perito’, uma reflexão sobre os achados e sua relevância para o caso”, explica.

Enviada ao Diário do Aço
Américo Sebastian Varela Pereira de Morais, de 51 anos, formou-se em Medicina em 2001 e ingressou na Polícia Civil em 2002Américo Sebastian Varela Pereira de Morais, de 51 anos, formou-se em Medicina em 2001 e ingressou na Polícia Civil em 2002

Trabalhar com a morte
A rotina do PML vai muito além do que o senso comum imagina. Américo desmistifica crenças populares sobre a atuação dos legistas. “A maioria dos atendimentos é no ‘vivo’. Examinamos pessoas vítimas de agressões, violência sexual, acidentes. Não é só necrópsia”, afirma. Ele destaca ainda outros mitos como “família disfuncional não significa família assassina” e “sem lesões, sem assassinato”.

Segundo o médico, lidar com a morte exige preparo técnico e emocional. “É difícil. Temos que manter o foco na parte técnica. A morte instruiu a Medicina por séculos. Foi abrindo os corpos que se aprendeu sobre a evolução das doenças num corpo inicialmente saudável”, continua.

Posto Médico-Legal
O PML de Ipatinga é hoje referência em estrutura e tecnologia. A unidade atende 16 municípios da região do Vale do Aço e conta com sete médicos legistas — seis homens e uma mulher — além de um investigador de polícia e dois auxiliares de necropsia. “Nossa principal missão é a elaboração de laudos periciais, documentos oficiais que descrevem, com base científica, os efeitos de ações externas sobre o corpo das vítimas”, continua.

No caso de mortes, os exames envolvem vítimas de homicídios, suicídios, acidentes e corpos não identificados ou em putrefação. Também são executadas perícias indiretas com base em documentos médicos, inclusive em casos de violência sexual, com atendimento humanizado. “Contamos com hospitais parceiros aptos ao atendimento humanizado de vítimas de violência sexual, o que reforça a rede de proteção e cuidado”, ressalta Américo.

Atualmente, Minas Gerais possui 64 Postos Médico-Legais em funcionamento. A Lei Orgânica da PCMG prevê 436 cargos de médicos legistas, mas apenas cerca de 361 estão preenchidos. Para Américo, o fortalecimento da Medicina Legal no estado passa pela valorização da estrutura e pela ampliação do quadro de profissionais. “Nosso trabalho é técnico, silencioso, mas essencial para a justiça. Atuamos com responsabilidade e respeito à vida e à dignidade humana”, finaliza o legista.
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Comentários

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Ivanete do Bem

09 de abril, 2025 | 13:20

“Parabéns ao Dr Américo
Você e um grande profissional e muito competente no que faz ,
Parabéns a toda sua equipe”

Geraldo

09 de abril, 2025 | 11:44

“Parabéns ao Dr. Américo e à reportagem. Trabalho árduo da Perícia Médica nos momentos extremamente difíceis para as vítimas e seus familiares.”

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