22 de abril, de 2025 | 07:30

Nosso novo (e velho) cotidiano

Marli Gonçalves *

Acordamos cedo e logo corremos para conferir se tem alguma guerra nova, se já estourou a Terceira, qual foi ou será a ameaça do dia vinda dos belicosos líderes mundiais. O celular na cabeceira da cama já apita com recados novos, brigas de amigos em grupos, novas fofocas, tentativas de golpes esperando qualquer distração. Novo e estranho cotidiano, que não para de nos surpreender nessa vida digital que a todos conecta.

Uma loucura as rotações por segundo que não nos deixam ficar de bobeira, distraídos, claro a não ser que sejamos algum tipo de eremita, totalmente imunes aos acontecimentos. Sempre tem algum que envolve, por curiosidade, interesse ou proximidade. Que nos afeta, como a mim afeta profundamente, por exemplo, saber de mais uma morte por feminicídio. De mais alguém que em um segundo nos abandona morto pela violência urbana que parece a cada dia mais incontrolável. Em mais uma ignorância ganhando corpo tentando dinamitar alguma vitória que chegamos a comemorar.

Nesse novo alucinante cotidiano que corre célere, fatos se sobrepõem a outros, deixando para trás os desfechos, e sempre nos dando a terrível sensação de repetição sem fim da História. Deixando para trás o rastro do medo e insegurança. Em todas as conversas a desilusão e enorme preocupação com os minutos seguintes, com o tal futuro – conhecedores profundos das coisas estão vendo, alertando, explicando, até por vivência e sabedoria, sinalizando para o mundo todo em marcha-a-ré em temas para os quais dedicamos tanto de nosso tempo. Digo nós, os que já viveram essas décadas que variaram de horror a alívio algumas vezes. Otimismo e pessimismo se alternando.
“Velhescência é palavra que não existe, embora ache que seria mais exata”



Somos uma tal geração prateada. Em ação, atenção! Nossos cabelos, se restam, prateados, grisalhos, brancos, ainda estão bem vivos nas ruas e em condições de fazer ainda boas revoluções em meio a essas transformações. Tanta atenção que foi devida à série Adolescência poderia ajudar a criar também outro foco para essa nossa, minha, de tantos, geração, momento, novos setênios, esses períodos - ciclos - de sete anos, cada um com características e desafios únicos, todos os raios de vida que consigamos alcançar. Teremos muito a dizer e fazer se nos mantivermos sintonizados.

“Velhescência” é palavra que não existe, embora ache que seria mais exata. Oficial é envelhescência, contraponto de adolescência, segundo quem criou o termo, o psicanalista e sociólogo Manoel Berlinck, a fase da vida entre 45 – 65 anos, esse período entre a maturidade e a velhice. Não apareceu ainda, que se saiba, quem definisse claramente o que ocorre nessa sequência, ou o a partir daí. No máximo, como recentemente, um sinal de mais a quem ultrapassa os 80, virando assim um Idoso +, com preferência maior nas filas de atendimento.

Tenho lido e ouvido muito falar em gerações, as nossas e no que as próximas encontrarão, de bom e de ruim, uma conversa original para mim que não deixarei descendentes. Mas absolutamente compreendo essa certa angústia quando encontro os amigos, muitos hoje avôs e avós, tornados assim bem mais jovens, e ainda com longa expectativa de vida e com diálogo aberto sobre tudo, coisa que no passado era quase inimaginável.

Tenho a esperança de que todos seremos ouvidos a tempo, nessa linha da vida, inclusive por conta da expansão das formas de comunicação às quais também já nos integramos, e sem o uso de secretos emojis. Nos comunicamos também com nossos pares, e de formas que também precisam ser estudadas para melhor compreensão e apoio. Vivemos mais onde há progresso. Ganhamos tempo por aqui.

Na política, na estética, muito além do marketing que já nos viu como alvo, acordamos a cada dia com mais vitalidade para participar, querendo nos informar e aprender mais, ansiando que de algum lugar estejam vindo melhores soluções, que a nossa passagem e conselhos garantam deixarmos um mundo melhor, que não exploda. Nem que seja pela terrível e própria inquietude do tempo que nos resta.

* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo. [email protected]/[email protected].

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Comentários

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Tião Aranha

22 de abril, 2025 | 08:42

“Bom texto, os políticos já fizeram esgotar toda a esperança da humanidade. Neste contexto, nem sei se vale a pena ter esperança. Lá atrás me ensinaram que é a força de vontade que faz os homens verdadeiros. Tão querendo caçar a palavra do cidadão. Isso é sério.”

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