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24 de abril, de 2025 | 07:30

Pedagogia humanizada: culturas periféricas e arte contra a evasão

Ariane Azambuja Salgado *

O conhecimento da própria realidade é a força que anima o ser humano a criar – essa proposição foi amplamente discutida por Paulo Freire, em um livro com um título inspirador: Educação como Prática da Liberdade. Complementa a afirmativa, em caminho inverso e complementar, a ideia de que é a capacidade humana de criar que nos permite interferir e transformar a realidade posta.

Quem, hoje, está satisfeito com a realidade em que vive? Quem está contente com os preços dos alimentos e com a dificuldade de pagar o aluguel ou comprar uma casa? Quem está feliz em saber que os problemas ambientais não são mais uma promessa para o futuro, mas algo concreto que já vemos e sentimos? Quem se diz entusiasmado com a hostilidade na comunicação entre as pessoas, seja na internet, seja nas ruas?

É certo que ninguém teria a coragem de, sem cinismo, afirmar alegria em conviver com esses problemas. Entretanto, é pelo reconhecimento e pela aproximação desses enroscos que constituem a nossa realidade que poderemos pensar em soluções, saídas ou brechas para o surgimento de algo novo. E, se isso lhe parece algo meramente retórico, talvez lhe falte a capacidade de entrever o que a educação pode produzir a longo prazo.

Aprender arte na escola é uma dessas oportunidades importantes de aproximação à própria realidade e, por isso, também um modo de transformar o mundo por meio da criação. Mas não se trata de qualquer aprendizado em arte. É preciso que, reconhecendo a importância de artistas de lugares distantes, como Leonardo Da Vinci ou Vincent Van Gogh, o professor ou a professora também busque apresentar referências artísticas de perto, do nosso país, de nossas cidades e, mais radicalmente, do próprio bairro da escola.

Uma escola que integra o estudante à realidade do entorno está trabalhando contra a evasão escolar, pois diminui a distância entre o dentro e o fora da instituição.
“Todo professor precisa saber que é nas periferias (as concretas e as simbólicas) que o novo surge”


Todo professor precisa saber que é nas periferias (as concretas e as simbólicas) que o novo surge. É nos espaços menos controlados e vigiados que as melhores e mais interessantes invenções são formuladas e ganham corpo, rua e público. A periferia é onde as culturas mais se misturam, porque, nos lugares em “que ninguém está olhando”, o controle está mais ausente e a noção de centro, é mais opaca.

Os artistas Os Gêmeos, criados no bairro do Cambuci, em São Paulo (SP), contam que, durante a infância e a adolescência, vivenciaram a chegada da cultura hip-hop à cidade. Essa cultura, nascida nas periferias de Nova Iorque, encontrou eco nas margens urbanas brasileiras. Nesse contexto, o Brasil se tornou, simbolicamente, a periferia da periferia. Hoje, Os Gêmeos interferem na paisagem urbana de inúmeras cidades Brasil afora, levando para os muros as marcas dessa trajetória cultural, vivida nos limites de um bairro.

Vale, assim, nos perguntarmos: o que o bairro da escola tem a oferecer em termos de cultura e arte? O que essas expressões oferecem aos estudantes em termos de aprendizado sobre a própria realidade? As respostas são tão variadas quanto os bairros de nossas cidades.

* Docente de Pedagogia na UNIASSELVI, Dra. Em Comunicação e Semiótica e Me. em Patrimônio e Museologia.

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