10 de junho, de 2025 | 06:00
Um encontro na noite...
Nena de Castro *
Naquele dia acordou com o canto escandalosamente lindo de um bem-te-vi. Outras avezinhas entoavam cantos chamando o sol para mais um dia...Os sons familiares da fazenda e da mata, encheram seu coração de beleza. E de coragem. Levantou-se, vestiu-se rapidamente, desceu para a cozinha onde a esperava a mesa posta com capricho, com as delícias que a fiel Tiana preparara. Tomou apenas o café fresco e forte, aquele cheiro delicioso se espalhando pela casa. Saiu para o quintal, a claridade do sol iluminando a grande casa construída por seu avô, conservada por seu pai, cuidada pela mãe...Tinham sido felizes até o desastre que lhe tirara a família, seus pais e o irmão. Os parentes acorreram, alguns oferecendo ajuda preciosa, outros amolando, todos aconselhando que vendesse a fazenda. Como uma moça só poderia viver ali, naquele recanto lindo, mas solitário? Ouviu a todos, mas principalmente seu coração: ia ficar ali e cuidar de tudo.
Tirou forças da dor e com a ajuda de Tiana e do caseiro Jeremias, foi tocando o barco, escolhendo peões para o trabalho na terra, para o cuidado com o gado, errando e aprendendo, acertando e buscando o aprendizado necessário.
Mandou construir uma escola para as crianças, casas para os empregados e fundou uma associação para que as mulheres da cidadezinha tivessem onde trabalhar aprendendo a fazer doces, bordar e costurar lindas colchas de retalho que vendiam nas feiras de cidades próximas.
"Nas noites de luar, ela sonhava com um companheiro que fosse como seu pai, que amara sua mãe com paixão e zelo"
Passava o dia a cavalo, vistoriando sua terra, atendendo aos peões, verificando o andamento de tudo. Ou pegava a caminhonete e ia à cidade buscar o necessário, fazer visitas ao banco... Era respeitada pela coragem, mas ao mesmo tempo queriam saber quando iria se casar, quem seria o felizardo; tivera alguns pretendentes que afastara com firmeza, dizia que preferia estar só...
Nas noites de luar no entanto, ela sonhava com um companheiro que fosse como seu pai, que amara sua mãe com paixão e zelo, com ternura e firmeza, um amor tão lindo, tão feliz, cujas lembranças enchiam sua vida e faziam com que não aceitasse menos.
A coragem de lutar a impulsionava pela busca do melhor e os desafios de cada dia lhe traziam força e determinação. Até o dia em que a cavalo, inspecionava uma área distante da fazenda, local de morros e grutas e de repente, a noite anunciou sua chegada através dos cantos dos pássaros e da escuridão. Então surgiram das sombras dois homens mal-encarados, armados com facas e péssimas intenções. Puxou o revólver e atirou, acertando um e espantando o outro que correu. Contudo, seu cavalo se assustou e disparou pela estrada estreita enquanto ela tentava em vão, acalmar o animal. De repente, da escuridão surgiu um cavaleiro que gritou com a montaria, ao mesmo tempo que segurava as rédeas com força e habilidade! Ela pensou que fosse outro ladrão, mas o homem a acalmou dizendo ser de paz e que ia ajudá-la, ao mesmo tempo em que perguntava o que uma mulher fazia ali, no escuro, arriscando a vida.
Ela respondeu com raiva que não tinha medo de nada, agradecia pela ajuda, mas agora seguiria sozinha. Ele riu e a seguiu a uma certa distância e quando chegaram perto da casa, toda iluminada, esporeou seu cavalo e se foi, gritando: volto pra saber como está! Ela sentiu um baque no coração e entrou, acalmando Tiana que estava preocupada. Banhou-se e foi se deitar, cabeça em turbilhão, pensando naquele homem que a socorrera. Era alto, bonito e forte. E dissera que ia voltar. O céu estrelado era testemunha do rápido bater de seu coração. E pensou: quem sabe? Adormeceu profundamente enquanto a lua entrava pela janela e a brisa fazia as cortinas dançarem suavemente...
* Escritora e encantadora de Histórias
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Gildázio Garcia Vitor
10 de junho, 2025 | 15:15Continua na próxima semana?!”