
25 de junho, de 2025 | 08:00
Cruzeiro do Sul na COP 30
Antônio Nahas Júnior *
A Presidência da COP 30, que será realizada em novembro em Belém, no Pará, para discutir e tomar medidas sobre o aquecimento do nosso planeta, acabou de liberar sua Quarta Carta, assinada pelo presidente designado André Aranha Corrêa do Lago, com um apelo muito brasileiro e muito bonito: comparou a constelação do Cruzeiro do Sul, que brilha nos céus do país, com o Balanço Global das Ações Climáticas, que é feito a cada cinco anos: "Como a constelação do Cruzeiro do Sul, o GST (balanço global) deve ser posicionado como a bússola orientadora global para ampliar nossa ambição multilateral, nossa ação conjunta e nossa avaliação coletiva do progresso nos cinco pilares da UNFCCC (COP 30): mitigação, adaptação, finanças, tecnologia e capacitação."O apelo procede, pois a pauta da COP 30 é da maior importância. Ela vai procurar resgatar tudo que já foi decidido desde o Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países, que buscava limitar o aquecimento global. Muita coisa foi planejada e decidida, mas ainda dormita em alguma gaveta.
E a pretensão é procurar colocar em prática tudo que já foi acordado até agora. E mais: avançar as iniciativas existentes para acelerar e ampliar a agenda climática, além de dar impulso à transparência, ao monitoramento e ao cumprimento de compromissos e iniciativas, existentes e novos.
Para isso, na referida carta aos participantes, foi definida também uma agenda de trabalho, composta por seis itens:
Transição nos Setores de Energia, Indústria e Transporte
Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade
Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares
Construção de Resiliência em Cidades, Infraestrutura e Água
Promoção do Desenvolvimento Humano e Social
Catalisadores e Aceleradores, incluindo Financiamento, Tecnologia e Capacitação
É uma agenda desafiadora, que exigirá discussão prévia para amadurecimento dos projetos a serem deliberados”
E esta agenda se desdobra em nada menos que trinta itens. Para se ter uma ideia da sua abrangência, basta a gente ver que o último item da agenda se transforma na seguinte pauta:
Finanças climáticas e sustentáveis, com integração sistemática do clima em investimentos e seguros
Financiamento para adaptação
Compras governamentais integrando o clima
Harmonização de mercados de carbono e de padrões de contabilidade de carbono
Clima e comércio
Redução de gases não CO₂
Governança, capacidade do Estado e fortalecimento institucional para a ação climática, planejamento e preparação
Inteligência artificial, infraestrutura pública digital e tecnologias digitais
Inovação, empreendedorismo climático e micro e pequenas empresas
Bioeconomia e biotecnologia
Integridade da informação em assuntos climáticos
É uma agenda desafiadora e muito pesada, que exigirá discussão prévia para amadurecimento dos projetos a serem trazidos para análise e deliberação. Que o Cruzeiro do Sul nos ilumine.
Preço das diárias em Belém Infelizmente, o que tem chamado a atenção de todo mundo para a COP é outra coisa: a reclamação dos participantes internacionais com o preço cobrado nas diárias de hotéis em Belém. É uma vergonha para o país que um acontecimento tão importante como a COP 30 talvez o mais importante já realizado no país neste século seja comprometido pela falta de estrutura de apoio.
A COP não trará apenas prestígio ao Brasil. Poderá também atrair investimentos importantes para a geração de créditos de carbono, que poderão ser negociados em todo o mundo no mercado voluntário. Podemos nos transformar num dos maiores fornecedores mundiais deste mercado.
E não ajudou em nada o país também a forma como foi anunciada a liberação da exploração petrolífera nas proximidades da foz do rio Amazonas. Esta liberação poderia ter sido anunciada acompanhada de medidas de proteção da floresta e preservação ambiental, que compensassem a extração petrolífera.
Como engajar na COP A Rede Brasileira do Pacto Global abriu a possibilidade de engajamento de empresas e outras entidades no Programa Pacto Rumo à COP 30. Há três possibilidades de engajamento. A primeira delas é mais leve e permite a participação nas ações gratuitas do programa, como movimentos, grupos de trabalho e eventos nacionais e internacionais.
A segunda forma seria como parceiro estratégico, para quem tenha sólida participação em ações relacionadas às mudanças climáticas. E a terceira é para quem pode se tornar protagonista em ações climáticas junto ao programa.
A Rede Brasil está desenvolvendo ainda diversos projetos importantes, como o Conexão Net Zero, Conexão Circular, biocombustíveis e elétricos, e ações coletivas por Justiça Climática e Transição Justa.
E vai realizar dois eventos preparatórios importantes para a COP 30: um sobre bioeconomia, na Amazônia, e outro em Nova York. Nossa empresa NMC Integrativa já se engajou. Temos que fazer nossa parte. E para quem quiser ir em frente: cop30.pactoglobal.org.br.
* Economista. Presidente da NMC Integrativa
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]