
01 de julho, de 2025 | 07:00
Doar é um ato cidadão: os avanços e desafios da cultura de doação no Brasil
Tomáz de Aquino Resende *
O brasileiro é solidário. Vimos isso nas respostas massivas a tragédias como as enchentes no Sul, na mobilização durante a pandemia e em inúmeras campanhas que tocam o coração do país. No entanto, transformar essa solidariedade reativa e pontual em uma cultura de doação um hábito contínuo, consciente e transformador segue sendo um dos grandes desafios para o desenvolvimento social do Brasil.O conceito vai muito além do assistencialismo. Doar deixa de ser apenas um ato de caridade para se tornar uma expressão de cidadania. É entender que o apoio financeiro ou voluntário a uma organização da sociedade civil é um investimento direto na causa em que se acredita, seja a proteção do meio ambiente, a educação de crianças, a defesa dos direitos humanos ou o fomento à cultura. É participar ativamente da construção de um país mais justo.
Nos últimos anos, vimos avanços notáveis. A digitalização, por exemplo, democratizou o acesso à filantropia. Plataformas de crowdfunding e ferramentas de doação online simplificaram o processo, permitindo que qualquer pessoa, com poucos cliques, possa apoiar uma iniciativa. A profissionalização do terceiro setor também contribuiu, com organizações cada vez mais transparentes em sua prestação de contas e eficazes na comunicação de seu impacto.
Contudo, a jornada para consolidar essa cultura é íngreme, como aponta o levantamento "Termômetro da Doação", realizado pelo Movimento por Uma Cultura de Doação (MCD). O estudo revela que, apesar do potencial, barreiras estruturais e culturais ainda impedem o Brasil de alcançar sua plena capacidade filantrópica.
O primeiro grande desafio é a falta de diálogo. Falar sobre doar ainda é um tabu. O tema raramente faz parte das conversas em família, nas escolas ou no ambiente de trabalho. Essa ausência de debate perpetua a desinformação e a desconfiança, sentimentos que são inimigos da doação recorrente. Sem uma conversa aberta sobre a importância e o impacto da filantropia, o ato de doar permanece no campo do extraordinário e não do cotidiano.
"Brasil oferece incentivos fiscais muito limitados para doações de pessoas físicas"
Em segundo lugar, enfrentamos um ambiente tributário e fiscal pouco favorável. Diferentemente de países com culturas de doação mais maduras, como os Estados Unidos ou o Reino Unido, o Brasil oferece incentivos fiscais muito limitados para doações de pessoas físicas. A possibilidade de deduzir doações do Imposto de Renda é restrita a fundos específicos e projetos aprovados, o que torna o processo complexo e pouco atrativo para o doador comum. Um sistema que não incentiva a generosidade de seus cidadãos envia uma mensagem clara: doar é uma escolha puramente pessoal e não uma política de Estado para o fortalecimento da sociedade civil.
Por fim, a confiança continua a ser a moeda mais valiosa do setor. Escândalos de corrupção, mesmo que isolados, mancham a imagem de milhares de organizações sérias e comprometidas. A solução para isso é um compromisso radical com a transparência e a gestão. As organizações precisam não apenas fazer o bem, mas também provar que o fazem de forma eficiente e íntegra, comunicando seus resultados de maneira clara e acessível.
Superar esses desafios exige um esforço conjunto. Cabe ao terceiro setor seguir investindo em profissionalismo e comunicação. Cabe à imprensa e aos formadores de opinião pautar o debate, normalizando a conversa sobre filantropia. E, fundamentalmente, cabe ao poder público criar políticas que incentivem e facilitem a doação, reconhecendo as organizações da sociedade civil como parceiras estratégicas na resolução dos problemas mais complexos do país.
A cultura de doação não nasce por acaso; ela é construída. E o Brasil tem todos os ingredientes para transformá-la de um impulso solidário em uma poderosa e constante força de mudança social. O momento de começar essa transformação é agora.
* Advogado especialista em terceiro setor, promotor de Justiça aposentado e presidente da Confederação Brasileira de Fundações (Cebraf)
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Gildázio Garcia Vitor
01 de julho, 2025 | 05:56Brasileiro gosta mesmo é de doar dinheiro para politicos, especialmente os da turma do "Deus, Pátria e Família", que está mais para pilantropia.”