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11 de julho, de 2025 | 09:00

Professor de Direito Internacional avalia impactos do “tarifaço” de Trump

Isac Nóbrega/Presidência da República
Trump justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no STF por tentativa de golpe de EstadoTrump justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no STF por tentativa de golpe de Estado
Por Bruna Lage - Repórter Diário do Aço
A imposição da tarifa de 50% anunciada pelo presidente estadunidense, Donald Trump, a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, repercutiu amplamente. Em carta postada nas mídias sociais e direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump diz que as tarifas passam a valer em 1º de agosto. No documento, o republicano justifica a medida citando o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. O advogado e professor universitário de Direito Internacional e Constitucional, Guilherme Resende, de Ipatinga, avaliou alguns aspectos neste cenário.

Sobre a carta, Guilherme observa que Trump faz uma miscelânea de temas, menciona Bolsonaro, fala de uma relação comercial desigual e de caça às bruxas. O advogado classifica o texto como “muito ruim”, porque trata de vários assuntos e tem o teor parecido com a carta enviada para o Japão e para outros parceiros.

“O Brasil está inserido nesse mundo instável, inseguro e caótico que o presidente Trump está aplicando. Embora tenha uma questão ideológica na carta relativa ao Bolsonaro, eu entendo que o principal não é o ex-presidente. É inclusive a relação comercial e as big techs (grandes empresas de tecnologia e inovação), que o Supremo tem tido algumas decisões contrárias a uma liberdade absoluta delas, e isso incomoda muito o eleitorado e o esquema de Trump. Então o Bolsonaro é apenas um acessório ali para ele, até para fazer número com o eleitorado dele de direita (no Brasil)”, avalia.

Arquivo pessoal

Impactos
Para o advogado, essas tarifas de 50% vão “machucar” o Brasil, já que os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial brasileiro, atrás da China, representando quase 10% da relação comercial nacional. “O país exporta café, suco de laranja, ferro, aço e alumínio. Com todos esses produtos taxados, a gente perde competitividade no mercado americano. E mais, tem um produto de exportação nosso que é de muito valor agregado que são aeronaves da Embraer, isso também machuca mais ainda, acredito que não tem um substituto próximo”, lamenta.

A situação pode gerar um efeito inflacionário internamente nos Estados Unidos, mas no Brasil, aponta Guilherme, perde-se dólares, inclusive, na quinta-feira (10) o dólar aumentou por causa da incerteza e instabilidade. “O Brasil está inserido nesse contexto, podendo gerar também efeitos inflacionários no Brasil por causa desse aumento do dólar, o que pressiona, por exemplo, economicamente, o Banco Central a não abaixar os juros, que já está em 15% a Selic”, salienta.

Relação antiga
O advogado lembra que a relação do Brasil com os Estados Unidos é centenária, que foram os primeiros a reconhecer a independência brasileira. “O presidente Lula tinha uma relação ótima com Bush Filho (ex-presidente dos EUA). A gente sempre conseguiu manter uma política de Estado com os Estados Unidos, com raras exceções. E esse movimento de Trump encerra, não só com o Brasil, mas com parceiros muito próximos (Japão, Canadá, México, União Europeia), abala muito essa relação, porque a credibilidade, a segurança, ela não é conquistada a curto prazo, depende de um prazo, mas ela pode ser desfeita a curto prazo”, opina.

Caça às bruxas
Sobre a menção a Jair Bolsonaro e a chamada “caça às bruxas”, Guilherme Resende avalia que esse contexto não faz sentido. “Essa questão do Bolsonaro, para mim, é acessória, o ponto principal são as decisões do Supremo com as big techs, é a relação comercial, embora, é preciso deixar claro, que a relação comercial com os Estados Unidos é deficitária para o Brasil, que importa mais produtos em termos de valor do que o contrário”, esclarece o advogado.

“Os Estados Unidos, nos últimos 15 anos, sempre foram superavitários na relação comercial. Isso é realmente uma interferência ideológica, política de Trump aqui no Brasil. A resposta do governo brasileiro, do presidente Lula, foi de que as instituições democráticas estão atuando normalmente na legalidade, de acordo com a Constituição e a gente não precisa ser tutelado por um outro país. E, realmente, nesse ponto da carta, ela é esdrúxula, ela é bizarra. E diversos jornais internacionais apontaram isso, é uma bizarrice, é uma interferência descabida, sem fundamento”, conclui.
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