19 de julho, de 2025 | 09:00

Saiba como o Pix foi virar assunto de investigação do governo do Estados Unidos

Miguel dos Santos *


Na semana que passou os brasileiros foram acordados com uma informação desconcertante. “Os Estados Unidos iniciaram investigação interna contra práticas comerciais do Brasil que consideram suspostamente ‘desleais’. Entre elas está o Pix, sistema de pagamentos e transferência em funcionamento desde 2020”. Mas que ousadia dessa gente.

Aí é necessário esclarecer alguns pontos determinantes, já destacados pela imprensa, dos EUA e do Brasil ao longo da semana. O sistema bancário estadunidense receia que a invenção do Pix possa inspirar a adoção de sistemas de pagamento análogos por outras nações. As duas maiores bandeiras de cartões de crédito existentes globalmente - a Visa, com sede na Califórnia, e a Mastercard, com sede em Nova Iorque - exemplificam a centralização de capital.

Com a introdução do cartão de crédito, uma parcela do capital global passou a ser continuamente direcionada aos Estados Unidos, beneficiando essas corporações americanas. Tem também o WhasApp Pay, sistema de pagamento da Meta, cujo dono, Mark Zuckerberg, é aliado de Trump. Ora, ora, mas que coincidência, não?

Anteriormente, ao utilizar dinheiro em espécie, se um indivíduo possuísse 100 reais e os utilizasse em um açougue, o valor integral permanecia com o açougueiro. Se este, por sua vez, realizasse uma compra na farmácia, os 100 reais passariam integralmente para o estabelecimento farmacêutico.

“Medida análoga à que Trump busca adotar contra o Pix no Brasil, já foi implementada contra o sistema de pagamento digital da Indonésia”


Com o uso do cartão de crédito, ao se efetuar uma transação de 100 reais em um açougue, aproximadamente 5% desse valor é remetido à respectiva operadora de cartão (Visa ou Mastercard). Assim, o comerciante recebe apenas 95 reais do montante original. Esses 95 reais, ao serem novamente transacionados via cartão de crédito, sofrerão nova dedução, reduzindo o valor disponível para algo próximo de 90 reais, e assim sucessivamente. O capital, portanto, perde valor a cada transação efetuada com cartão, e essa perda é direcionada aos Estados Unidos.

Com o Pix essa lógica mudou, retorna-se à dinâmica do dinheiro em espécie, em que o valor transacionado não é corroído por taxas bancárias, permanecendo integralmente nas mãos dos usuários, e não sendo direcionado às instituições financeiras. Essa situação tem gerado apreensão no sistema bancário dos Estados Unidos, que receia a proliferação de modelos similares em outras nações.

A título de exemplo, uma medida análoga à que o governo Trump busca adotar contra o Pix no Brasil agora, já foi implementada contra o sistema de pagamento digital da Indonésia, onde restrições foram impostas. Atualmente, a intenção é aplicar tal restrição ao sistema de pagamento brasileiro, sob a alegação de concorrência desleal ao setor bancário americano. Nessa toada, de absurdos atrás do outro, esperamos que o Brasil tenha um pingo de dignidade e mantenha posição que seja interesse dos brasileiros e não dos gringos.

* Economista, com 30 anos de experiência no setor financeiro.


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