29 de julho, de 2025 | 12:30
Transformação da fé fortalece atuação evangélica na política regional
Por Matheus Valadares - Repórter Diário do AçoA Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), sobretudo Ipatinga e Timóteo, vive uma virada religiosa nunca vista antes. Dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) mostram que entre 2010 e 2022, a proporção de católicos caiu de 49,31% para 43,4%, enquanto a de evangélicos subiu de 36,60% para 43,3%, quase invertendo a tradição antiga da cidade ipatinguense. Na vizinha Timóteo não é diferente. O último Censo revela que 42,95% são evangélicos e 42,8%, católicos, enquanto em 2010, os católicos eram 47,55% e os evangélicos 38,33%, conforme já divulgado pelo Diário do Aço.
Esse fenômeno é reflexo de uma transformação nacional, mas ganha contornos particulares no Vale do Aço. Essa mudança de fé não se limita ao número de fiéis. Ela encontra eco no campo político, com líderes religiosos assumindo posições influentes nas câmaras municipais, e nos debates sobre costumes, que passaram a pautar a discussão sobre a educação, cultura e direitos civis. A bancada religiosa, que popularmente é chamada de bancada da Bíblia, acaba trazendo pautas que são muito mais relativas aos valores que as religiões evangélicas e protestantes preconizam. Quando temos representantes dentro do Parlamento, sejam municipal, estadual ou federal que representam os interesses desse tipo de religião, eles estão buscando por questões de políticas públicas e pautas que vão reforçar os valores daquela religião”, pontuou Angélica Barroso Bastos, coordenadora do curso de Direito do Unileste.
Política
Um levantamento feito pelo jornal O Globo, ainda em 2022, revelou que o número de candidaturas com identidade religiosa aumentou cerca de 25% nas eleições daquele ano. O estudo levou em consideração candidatos que apresentaram alguma nomenclatura ou ocupação religiosa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incluindo aqueles ligados ao catolicismo e a religiões de matriz africana. Ao todo, o número de pastores candidatos na última eleição geral foi 476, cerca de 20% superior ao registrado em 2018.
Entre os nomes que se destacaram estavam o Pastor Marco Feliciano (PL-SP), Pastor Eurico (PL-PE), Pastor Gil (PL-MA), Pastor Sargento Isidório (Avante-BA), Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marcos RR Soares (União-RJ) - usa o nome do pai, RR Soares, liderança evangélica.
Mas não é necessário ir a Brasília para perceber a presença de lideranças religiosas nos parlamentos. No ano de 2024, por exemplo, Timóteo reelegeu a Pastora Sônia Andrade (Novo) como vereadora. A descrição no portal da Câmara Municipal aponta que ela é da Igreja do Evangelho Quadrangular e tem como proposta a luta e a defesa dos valores cristãos, promovendo o amor, a compaixão e a justiça social. Defende também os direitos das mulheres, com foco na igualdade de oportunidades e proteção contra a violência”.
Reprodução/Instagram Pastora Sônia Andrade
Para a pastora Sônia, que também é vereadora em Timóteo, o meio evangélico percebeu a importância da representatividade nas cadeiras do Legislativo

Na prática
Em entrevista ao Diário do Aço, a pastora Sônia Andrade afirmou que o crescimento do expoente evangélico na política é notório. Podemos constatar isso com a formação atual da Câmara de Timóteo. Hoje nós temos vários vereadores evangélicos. São pessoas que após se candidatarem, alcançaram o apoio dos cristãos e conseguiram se eleger em eleições disputadíssimas. Tudo isso porque o meio evangélico percebeu a importância da representatividade nas cadeiras do Legislativo. Isso é fruto de conscientização, orientação e também dos anseios do povo por mudança. Hoje temos força, voz e vez nas casas de lei”, afirmou.
A parlamentar defende que o respeito deve prevalecer nos embates públicos, mesmo diante de discordâncias. Todas as vezes que um grupo procura aproveitar de lacunas na lei para impor mudanças que violam o direito, conquistas ou princípios de outros grupos, o respeito é jogado de lado. Inicia-se um embate desnecessário que, no final, deixa todos os lados prejudicados. O segmento evangélico sempre buscou o diálogo e respeito. Portanto, com muito respeito, lutaremos sempre para defender nossos princípios”.
Para Angélica, as discussões em parlamentos não podem ser baseadas em trechos bíblicos, e sim, com base em ciência, em técnicas e fundamentação jurídica, pois assim, fica resguardada a laicidade do Estado.
Por vezes, a gente vê esses parlamentares fundamentalistas religiosos usando do texto da Bíblia para poder justificar suas ações, muitas vezes usam do discurso religioso, do que está preconizado na Bíblia para poder aprovar ou não determinado projeto de lei. Pautas como aborto não vão chegar dentro desse parlamento, não vão chegar a ser discutidas porque elas são tabus dentro da daquela matriz religiosa por não coadunarem com aquele valor que é preconizado pela religião”, define a professora.
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Como as igrejas influenciam o currículo escolar
Mattheus Rosa, graduado em Ciências Sociais pela UFMG e mestre em Cultura e Sociedade (UFBA), professor de Sociologia e Filosofia em Ipatinga, acredita que é importante pensar o campo religioso não apenas como um espaço à parte, mas sim, uma parte orgânica das estruturas de classe, de poder, de ideologia e de cidade cultural no Brasil contemporâneo.A atuação da bancada evangélica local, vamos dizer assim, pode redefinir prioridades orçamentárias, impulsionar projetos de leis de valores morais, articular políticas públicas com base em preceitos religiosos. Na educação tem várias disputas em torno de temas que são cruciais, por exemplo, dos temas de gênero, de sexualidade, de diversidade. As igrejas evangélicas buscam influenciar o currículo escolar, eleger conselheiros tutelares que estejam alinhados aos seus valores”, pontua.
Para ele, os dados do Censo vão além de números, e sinaliza uma nova gramática espiritual, social e política, na qual a fé passa a ser o ponto central da interpretação da vida, da organização do cotidiano e até mesmo da construção de uma agenda política e do futuro de um país”, finaliza.
Leitura bíblica nas salas de aula em Timóteo
Na segunda quinzena de julho, foi aprovado em primeira votação pela Câmara de Timóteo o Projeto de Lei nº 4.660/2025, que autoriza o uso de textos da Bíblia como material paradidático em escolas no município. A proposta, de autoria do vereador Marcus Fernandes (PMB), com coautoria da Pastora Sônia Andrade, foi aprovada com 12 votos favoráveis. O único que se posicionou contrário foi o vereador Professor Diogo (PT).De acordo com o texto, trechos da Bíblia poderão ser utilizados de forma facultativa como ferramenta pedagógica em disciplinas como História, Literatura, Ensino Religioso, Artes e Filosofia. A proposta prevê que o uso do livro sagrado se dê sem caráter de imposição religiosa, respeitando todas as crenças e a liberdade de consciência dos alunos. A proposta ainda passará por segunda votação antes de seguir para sanção do Executivo.
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Afonso Ma
29 de julho, 2025 | 16:37A religião é o ópio do povo. Se o politico usa deus como escudo de sua campanha, corra. Com certeza não vale nada. Vai fazer as orações da Umbanda na escola também?”
Gildázio Garcia Vitor
29 de julho, 2025 | 14:27No final da década de 1980, Decio Monteiro de Lima publicou um pequeno livro sobre o pentecostalismo e suas igrejas, cujo título é: "Os Demônios Descem do Norte". Pelo jeito, já chegaram todos, exceto o Diabo Loiro, e estão dominando o nosso Inferno Tropical.”
Opa
29 de julho, 2025 | 14:08Eu acredito que Deus através da fé ,transforma aquele que até a Ele se chega.Estamos precisando da direção Dele.”
Paulo
29 de julho, 2025 | 11:38A fé tem que se ater ao espírito, Política a constituição ,essa mistura da o que tá dando,todo País que a fé se mistura com politica estão em guerra,toda vida deu problema e o povo insiste nisso.”
Mariana
29 de julho, 2025 | 10:45Marcel, o documentário ao qual o senhor se refere chama-se "Apocalipse nos Trópicos", e o nome da documentarista é esse mesmo, Petra Costa. Pena que esteja disponivel só na Netflix. Ela explora a influência crescente do movimento evangélico no Brasil e sua relação com a ascensão da extrema-direita, com destaque para o papel de figuras como Silas Malafaia e a influência na política. O filme analisa como o crescimento evangélico se entrelaça com a consolidação do bolsonarismo, desde a ascensão da bancada evangélica até os eventos de 8 de janeiro, utilizando o imaginário do Apocalipse bíblico como metáfora.”
Marcel Costa
29 de julho, 2025 | 10:39Vejam bem, nesse momento tem um documentário muito importante, parece-me, que é assinado por uma cineasta chamada Petra, que fala sobre por que os evangélicos cresceram tanto no Brasil. Acredito que todos deveriam assistir para entender, independentemente se gostam ou não da religião evangélica, de católico, se é ateu ou se é budista, não interessa, deveriam assistir para entender o que houve. É assustador.”
Almeida
29 de julho, 2025 | 10:37Hipocrisia e demagogia, se apresentam como defensores da família para ganho de votos eleitorais mas no dia a dia agem como fariseus e republicanos, muitos se deleitam com desonra sustentando relacionamentos de faixada, por trás vivem seus afares dentro dos sete pecados capitais, luxúria, avareza, concupiscencia da carne, se esquecem que Deus é onipotente, onisciente e onipresente. Que a população possa despertar dessa fantasia e se voltar para o verdadeiro evangelho, política e religião não deveriam se misturar.”