07 de agosto, de 2025 | 07:00

Até quando vamos normalizar a dor das mulheres?

Coronel Ailton Cirilo *

Nos últimos dias, o Brasil se chocou com mais dois episódios brutais de violência contra a mulher. Um fisiculturista, em São Paulo, foi flagrado agredindo violentamente sua companheira. Em outro caso, um homem desferiu 61 socos no rosto da namorada em uma sequência de violência que só cessou porque foi interrompida por terceiros. Casos assim nos causam repulsa, mas, mais do que isso, precisam nos fazer refletir: até quando?

Esses crimes não são exceções. Pelo contrário, a frequência com que nos deparamos com reportagens sobre feminicídios, tentativas de feminicídio e agressões covardes nos mostra que estamos diante de um problema estrutural, profundamente enraizado na cultura da desvalorização da mulher. O Brasil registrou, só em 2024, uma média de um feminicídio a cada seis horas. Isso significa que, enquanto escrevo estas linhas, há uma mulher sendo espancada, silenciada ou morta por quem dizia amá-la.

É doloroso admitir, mas precisamos falar disso com todas as letras: existe um ódio sistemático contra a mulher. E ele não nasce do nada. Ele se alimenta do machismo cotidiano, das piadas disfarçadas de brincadeira, da culpabilização da vítima, da omissão diante de sinais claros de abuso. Ele cresce quando achamos que é “problema de casal”, quando duvidamos do relato de uma mulher ou quando banalizamos uma agressão.

A violência contra a mulher não destrói apenas a vida de quem a sofre. Ela corrói as bases da nossa sociedade. Gera traumas em filhos, em mães, em amigas e vizinhos. Ela perpetua o medo, enfraquece lares, desumaniza relações. E nenhuma sociedade que naturaliza a dor das mulheres pode se dizer justa ou segura.
"Enquanto escrevo estas linhas, há uma mulher sendo espancada, silenciada ou morta por quem dizia amá-la"


Como coronel da Polícia Militar de Minas Gerais, tenho orgulho de dizer que nossa instituição está atenta a isso. A PMMG tem se fortalecido cada vez mais no enfrentamento à violência de gênero, com patrulhas especializadas, capacitação contínua e uma atuação mais sensível e proativa. Mas a segurança pública se constrói também fora dos quartéis. Precisamos da sociedade como aliada.

Se você conhece uma mulher em situação de risco, não se cale. Se você é um homem, reveja seus próprios comportamentos e não aceite atitudes abusivas ao seu redor. Se você ocupa um cargo de liderança, eduque pelo exemplo. Combater a violência contra a mulher é dever de todos nós.

Chega de manchetes com rostos ensanguentados. Chega de histórias interrompidas pela violência. Que cada soco noticiado nos empurre a uma ação concreta. Que cada lágrima derramada nos mova a ser uma sociedade mais justa, mais empática, mais humana.

* Especialista em segurança pública

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