20 de agosto, de 2025 | 08:00
Ascensão da economia prateada
Antônio Nahas Júnior *
Quem frequenta algumas praças de Ipatinga e outras cidades, vai encontrar sempre por lá algumas pessoas, homens em sua maioria, jogando baralho, conversando, curtindo a vida. Quase todos são aposentados, que ainda não encontraram seu lugar na sociedade.Ou, então, porque nunca foram incentivados a procurar alguma função, mesmo que voluntária, para demonstrarem seu valor e importância, pois disposição para se tornar útil e importante para a sociedade sempre existe.
Esta parcela da população - os idosos - é e continuará sendo crescente na sociedade. É o resultado das profundas transformações que a humanidade viveu no século XX: a redução das taxas de mortalidade e de natalidade, que transformaram completamente o perfil etário de todos os países do mundo.
E essas transformações vão continuar a ocorrer. Os demógrafos consideram que a população mundial vai diminuir ao longo do século XXI e a média etária da maioria dos países do mundo vai subir 11 anos ao longo deste século. No Brasil será a mesma coisa. O IBGE nos mostra que a faixa de maior contingente populacional em muitas cidades, como Ipatinga, está entre 40 e 44 anos. E que mais de 50% da população deverá atingir 80 anos.
Como resultado, vamos ter um aumento do contingente da população de aposentados. E logo vieram as observações críticas. Demógrafos, economistas, passaram a considerar este aumento uma bomba relógio: como as sociedades poderão sobreviver tendo mais gente aposentada do que na ativa? Como seria possível aumentar a produção; fazer a economia crescer se cada vez menos gente trabalha?
Esta polêmica está longe de acabar, como podemos ver no Relatório do Fundo Monetário Internacional de Abril de 2025 - Panorama Econômico Mundial -. O capítulo 2 - Ascensão da Economia Prateada - analisa este fato por todos os lados possíveis e imagináveis.
Mas quem colocou a questão no lugar correto foi o demógrafo brasileiro e mineiro, José Eustáquio Diniz Alves, que tem uma série de publicações sobre o tema. Para ele, o relatório do FMI mostra que os indivíduos não apenas vivem mais, mas também envelhecem com melhor saúde, o que contribui para trajetórias profissionais mais longas e produtivas. E não apenas tem mais força física e vitalidade: em média, uma pessoa de 70 anos apresentava em 2022 a mesma capacidade cognitiva que uma pessoa de 53 anos em 2000. Enfim, os números demonstram que houve "um notável processo de rejuvenescimento cognitivo nas gerações mais velhas", afirma José Eustáquio.

Ou, descrito em palavras enfáticas, "os 70 anos são os novos 50".
Longe de sermos um peso para a sociedade, podemos nos tornar uma alavanca para o desenvolvimento”
Colocando de outra maneira: nós, os idosos, longe de sermos um peso para a sociedade, podemos nos tornar uma alavanca para o desenvolvimento. "O Relatório do FMI indica uma transformação profunda na maneira como devemos entender o envelhecimento populacional - não apenas como um processo biológico, mas como um fenômeno econômico e cultural em plena mutação", continua o demógrafo., que apresenta uma série de tópicos a serem implementados para que o potencial dos idosos seja absorvido.
O primeiro deles é a redefinição do que é ser idoso. Afinal, quem tem 70 anos hoje em dia tem o potencial daqueles que tinham 50, há alguns anos. Como idoso que sou, posso dizer que temos autonomia; produtividade e capacidade de aprendizado.
É importante que haja políticas públicas ou privadas para aproveitamento do potencial dos idosos, criando oportunidades e procurando diminuir o stress no trabalho. Seriam investimentos em educação; nutrição; estímulo cognitivo; mobilidade, o que aumentaria a produtividade e diminuiria os custos com as doenças degenerativas, como o Alzheimer.
A extensão do período de trabalho dos aposentados, em ocupações que exigem experiência e capacidade de julgamento seria um passo importante: podemos nos tornar professores empreendedores; cuidadores ou voluntários.
Bem conduzidas, estas políticas poderão despertar o enorme potencial produtivo contido nesta parcela da sociedade, aumentando a geração de valor e melhorando o bem-estar dos idosos.
E a criação de novas oportunidades contribuiria para que os idosos tenham um envelhecimento feliz. Para José Eustáquio, o envelhecimento é inevitável. Podemos optar por sofrer com ele ou transforma-lo num processo contínuo de crescimento, para melhorar e aprimorar nossa existência.
E ele está fazendo isto: juntamente com a colunista da Folha, Mirian Goldenberg, estão preparando o curso "A invenção de uma bela velhice". Parabéns para esta dupla fantástica....
Enfim, somos um bônus para a sociedade e não um problema.
* Economista, empresário. 73 anos. Aposentado. Presidente da NMC Integrativa.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Tião Aranha
20 de agosto, 2025 | 14:36A questão é saber como envelhecer: fazer uma hortinha, preparar prum concurso, escrever um livro. Visitar um amigo. Em última hipótese fazer trabalhos domésticos. Tem uma cidade referência de idosos aqui no Vale do Aço, a praça fica em frente duma igreja; quando era vivo não saía daquele espaço de jogatina, o senhor vigário; jogam valendo dinheiro, começa a labuta cedo, às 6 horas da manhã. É o cartão de visita da Cidade -, essa tenda fora inaugurada por um ex-prefeito da cidade. O partido nem se é do trabalhador! Mas tá sempre cheia, como bom exemplo que os mais velhos dá para os mais jovens. Pior mesmo é ser da Geração Z que não trabalha e nem estuda. Rs.”
Jane
20 de agosto, 2025 | 12:18Outra coisa me chama atenção. Não existe as velhinhas da praça. Sempre são os velhos. Porque as mulheres estão em casa trabalhando, cuidando da casa e muitas cuidando de netos. O grande erro educacional da maior parte da humanidade não ensinar aos homens auxiliarem nas atividades rotineiras domésticas para que as mulheres também possam ter lazer e descanso. Também chama atenção a baixa qualidade do lazer em nossa sociedade e falta de atividades mais culturais de boa qualidade não só para idosos como para todas faixas etárias, o que se chama de "cultura" muitas vezes se resume a repetir modinhas comericiais para gerar consumo, não geram aumento do senso de comunicade.”