26 de agosto, de 2025 | 07:00

O caboclo e o espertalhão...

Nena de Castro *

Domingo de sol, minhas tias no jardim onde vivem, assentadas debaixo do pé de manga. Gertrud, minha insuportável sabiá cantante e falante, está em Brasília xeretando, grazaDeus! Tia Lady Zefa está com um livro na mão, lendo Fernando Pessoa. Tia Bugra Velha, com arco e flecha e o inseparável facão me chama e pergunta o que quer dizer “arrombado”. Pergunto onde ouviu essa palavra, e ela diz que foi na mensagem de dom Malafaia, o gritador-mor de Pindorama, que além da palavra acima usou muitas outras que ela não entende.

- Tia, é um monte de xingamento feio! A senhora quando tropeça em pedras, xinga em tupi-guarani e ele xinga com palavras de baixo calão, usando expressões de malandros nos xingatórios. Lembra que a senhora espera encontrar o Pedro Álvares Cabral pra lhe dizer umas coisinhas e emascular o gajo usando o facão? Posé, o dom Malafaia gosta de gritar e de falar certas coisas, é isso!

- Mas ele não é um tipo de pajé que devia dar bons exemplos? - pergunta a índia velha cutucando a unha do dedão com o facão.

- Tia Bugra, ele é, ou era, ah, eu sei lá! Ainda estou confusa com certas coisas, com filho mandando o pai TNC e outras ”finesses”, filho reclamando com o pai que do jeito que as coisas vão, ele não vai poder voltar e vai ter “que continuar morando nessa p... de país, ou seja os EUA.

- Uai, pensei que gostasse!
- O trem tá tão feio, querida titia, que nem caixa de abelhas, tem ferrão pra todo lado. Acá, fica pensando nisso, não. Sua cabeça vai ferver! Vamo pegá o enxadão e colher mandioca, que é muito melhor. Antes que o esTRUMPício taxe a macaxeira tombém!
- Vamo sim, disse a índia velha!
- Mas a história desse homi que acha que manda no mundo, vai acaba qui nem o causo do Caboclo e o Sol.
- Conta pra mim! - exclamei entusiasmada, adoro as “contanças” da Bugra Velha! E veio a seguinte história, que “traduzi” do linguajar da índia, pra vocês!
“Bão, um fazendeiro achava que era muito esperto e adorava passar pessoas simples pra trás. Um dia, apostou com um caboclo uma boa quantia, e ganharia quem visse, pela manhã, o primeiro raio de sol. Ambos foram de madrugada para o terreiro da fazenda. Estava escuro. O branco ficou de pé, olhando o nascente, à espera. O caboclo sentou-se numa pedra de costas para ele, olhando o poente. Intimamente o fazendeiro ria da asneira do outro. De repente, o caboclo grita: - Olha o sol, O sol! Espantado que o outro visse o sol nascer no poente, o fazendeiro volta-se e, com efeito, um brilho de luz clareava ao longe, vindo do nascente por sobre as nuvens amontoadas e os talhados de granito das serras. Era o primeiro raio de sol. O caboclo ganhou a aposta”!

Deixo pra vocês, meus queridíssimos cinco leitores, as conclusões. E que o sol da Liberdade, abra sempre suas asas douradas sobre nós!

* Escritora e contadora de histórias.

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