15 de setembro, de 2025 | 06:00
Melhor não mexer com ninfas e deusas ...
Nena de Castro *
Bom dia, meus corajosos cinco leitores que me leem com paciência às terças-feiras. Paz e bem! Contam os romanos que Erisíchton era um homem grosseiro que desprezava os deuses. Em certa ocasião resolveu profanar com o machado um bosque consagrado a Ceres. No local havia um venerável carvalho, tão grande, que sozinho, dava a impressão de ser uma floresta inteira. Em seu tronco o povo colocava guirlandas e inscrições entalhadas manifestando gratidão à ninfa da árvore. As ninfas Dríades são espíritos femininos da natureza que zelavam pelas árvores, as Náiades governavam os regatos e as fontes; as Oréades eram as ninfas das montanhas e grutas e as Nereidas eram ninfas do mar. Ora, as três últimas eram imortais mas as Dríades morriam com as árvores que lhes serviam de morada. Dizia o povo que as Dríades dançavam em torno do venerável carvalho, de mãos dadas, em harmonia e beleza. O tal Erisíchton não quis nem saber e ordenou a seus servos que o cortassem. Ao vê-los hesitar, pegou ele próprio um machado e exclamou que não queria nem saber se o carvalho era consagrado ou não à deusa Ceres. E que abateria até ela se cruzasse seu caminho! Então ergueu o machado, ferindo o tronco que começou a verter sangue. Um dos servos censurou o patrão e segurou o machado; Erisíchton liberou-o e usou-o para ferir o homem, cortando-lhe a cabeça.
Ora, quem fere, suja e quebra coisas e locais sagrados, está sujeito a ser castigado. Ouviu-se então uma voz dizendo que o castigo viria em breve. O homem não ficou impressionado e o carvalho caiu sob os golpes, esmagando parte do bosque com seu peso. As outras ninfas, muito tristes foram se queixar a Ceres (também chamada de Deméter na mitologia grega) que era a deusa da prosperidade, das plantas que brotam e do amor maternal. Ela resolveu, então aplicar um castigo muito cruel ao criminoso, entregando-o à Fome. Essa vivia numa região triste e estéril, sem árvores nem campos cultivados, ao lado do Frio, do Medo e do Tremor. Mandou uma Oréade da montanha em sua carruagem puxada por dragões visitar a Fome e incumbi-la do castigo ao impiedoso. A Fome foi encontrada perto do Monte Cáucaso, num campo pedregoso, arrancando a escassa erva com os dentes e as garras. Tinha os cabelos emaranhados, os olhos fundos, as faces pálidas, os lábios descorados, a boca coberta de poeira e a pele distendida mostrando todos os ossos. Bem, a Fome entrou no quarto do condenado e instilou em suas veias um veneno que o deixava sempre faminto; ele perdeu os bens, e por fim vendeu sua filha a um mercador. Contudo Netuno ajudou-a, e ela tomava formas variadas escapando de outros compradores e levando o dinheiro da venda para o pai. O desinfeliz, levado pela fome, devorou seu próprio corpo na ânsia de se alimentar e acabou sucumbindo.
Posé, tenho a certeza de que meus cinco leitores entenderam porque a Bugra contou essa história. E pra não dizer que estou muito soturna, conto-lhes que o QUINTAL LITERÁRIO realizado na Fazendinha, foi uma belezura. E que o Salão do Livro que aconteceu no Centro Cultural Usiminas também na semana passada, com leituras, histórias, livros, escritores e claro, crianças, foi MARAVILHOSO! E nada mais digo!
* Escritora e contadora de histórias.
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